Certos autores estrangeiros cuidam, com ótica nova, de temas que nos parecem absolutamente superados; ou seja, entendidos, ao menos por mim, como assuntos simples. Digo isso para falar sobre o “conservadorismo” e as utopias em política. Roger Scruton seguido pelo português João Pereira Coutinho apresentam ideias que mostram como o conservadorismo pode ser visto como algo bom, em contraste com o que eu julgava. Não por acaso, o inglês e o luso dizem-se conservadores.
Dentro dessa visão, que simplifico para efeito desta crônica, há três categorias básicas do pensamento político dos cidadãos e dos profissionais da vida pública. As três possibilidades são: a do pensamento otimista ou utópico de Direita, que se volta para o prestigiamento do passado idealizado como sendo muito bom, e ao qual cumpre voltarmos; a do pensamento otimista ou utópico de Esquerda, que idealiza um futuro de progresso, de justiça e de conforto para todos, ao qual devemos nos dirigir; e, por terceiro, pensamento conservador que é fundamentalmente pessimista e se constrói da apreciação “racional” do presente; crê na imperfeição humana e acredita na negociação entre as pessoas, os grupos e as classes interessadas para efeito de mudanças.
 Os socialistas e comunistas são os otimistas do futuro. Querem um porvir de plenitude e de concórdia, ao qual não de pode negar curso; antes se deve alcançá-lo, mesmo que revolucionariamente; com sangue, se preciso. Já os fascistas e nazistas são os otimistas do passado. Querem-no restaurado, à força, se isso se impuser; com sangue se necessário.
Os conservadores nada têm como seu objeto de esperança, pessimistas que são. Pensam no processo social como o motor que levará aos resultados possíveis, mediante o escrutínio dos fatos e das forças em tensão. Como os otimismos de direita e de esquerda supõem mundos ideais, essas duas formas de pensamento político levam ao fanatismo de seus partidários. Já o pensamento conservador opera em favor da democracia, com seus ensaios, erros, acertos e correções. Seus praticantes são tristes, talvez; mas não cometerão violência contra alguém.
 Assim, dizer-se que alguém é conservador, no sentido de Scruton e Coutinho, é percebê-lo um democrata. Curioso, não? O conservador pode ter qualquer tipo de opinião, seja aquele que vemos como de direita ou aquele em que se percebam traços de esquerda. No entanto, ele é principalmente um pessimista racional, nunca um idealista ou um otimista ou o senhor da verdade. 
 Por fim, ainda a comentar, existem os otimistas inescrupulosos de esquerda, que fingem crer no paraíso futuro e os otimistas inescrupulosos de direita, que fingem acreditar no paraíso perdido no passado, que urge recuperar logo. Talvez, os políticos mais velhos e experientes formem a maior parte desses inescrupulosos, na medida em que eles sabem, cada vez mais com a experiência da vida, que paraísos não existem na Terra.