Rogel Samuel
A mais quente das noites. O calor me acorda. A luz apagou, os ventiladores paragem. Blecaute. Não consigo dormir, neste abafado. Impossível abrir a tela que me protege dos mosquitos. Apesar de estar gripado, vou no escuro até o banheiro e tomo uma ducha fria. Assim melhoro.
Nossos dois mais importantes confortos modernos são a luz elétrica e a água encanada. No tempo de Proust não havia eletricidade nas casas. Conta Céleste Albaret que um dia o jovem Proust teve um desejo, um capricho, e resolveu dar um jantar ornamentando a mesa com flores elétricas. Sua mãe, que satisfazia a todos as suas extravagâncias, teve alugar um gerador de eletricidade para o evento.
- Mas ficou muito bonito, conta Proust. Cada convidado tinha uma flor iluminada diante de si.
Para aliviar, trabalho no meu novo pequeno poema, que se encontra no "Novos poemas":
porta calada
madrugada
o silêncio é nada
o vento me acorda
o silêncio morre
sobre esta triste noite
a quente suportada espera
volto ao sonho antigo
no sonho palavra dada
porta calada
madrugada
e que horas são?
qual tempo lembrar?
da minha janela percebo
um pedaço de rua
vento da noite nua
sopra na solidão
porta calada
madrugada
As flores elétricas
Por Rogel Samuel Em: 11/11/2009, às 06H42