Em O amante das amazonas, as descrições do barco e da viagem recebem um novo tratamento por meio de uma construção parodística que acrescenta um tom irônico ao tradicional tom de denúncia de outras obras:

 
[...] Navio dentro do qual não cabia mais único engradado de porcos, alojando aquela horda que fedia podre, de suor, esterco de gado e urina – redes se entrecruzando e houve roubo, bebedeira, estupro, briga, facada e morte – um pai esfolou um macho surpreendido com sua filha num vão de esterco; outro, bêbado, mijava ali no chão enquanto escorria até onde dormiam muitos, no chão; sobre um garajau de galinhas um homem sacou de si e se aliviou sob a luz de um candeeiro amarelo cheio de moscas. Era um soldado.
Passamos do Farol de Acaraú ainda dentro daquele porão e paramos em Amarração para largar um cadáver, o preso e dois passageiros cobertos de varíola. Mas não tocamos em Tutóia, aportando em São Luís onde o Alfredo foi dentro d’água cercado por botes, catraias e se transformou em  gigantesca fera [sic] flutuante, lá subindo todos para bordo os vendedores de camarão frito, doces e frutas. Pois não foi uma viagem maravilhosa? [...][222]
 
            A linguagem em que a descrição é posta formula-se através de uma sintaxe não convencional que inclui cortes de conectivos, gerando um caráter sintético peculiar à linguagem coloquial (aquela horda que fedia podre). A sintaxe do texto também apresenta uma disposição de orações que possibilita a interposição de informações e torna significativa a desordem espacial no barco e as relações conturbadas entre os passageiros (redes se entrecruzando e houve roubo, bebedeira, estupro, briga, facada e morte). A escolha de verbos e substantivo característicos da linguagem chula (esfolar, mijar, macho) demonstra a aplicação dos níveis de linguagem, o que permite que a condição dos passageiros se expresse com mais rudeza. Com a frase interrogativa no final do trecho, o sentido irônico se estabelece.