Por Maria do Rosário Pedreira
 
Quem gosta de livros e de ler (bibliófilos e leitores, duas espécies que têm cada vez menos adeptos, segundo os números de vendas de livros em todo o mundo) gosta também seguramente de visitar cidades onde haja bons alfarrabistas, bonitas livrarias e bibliotecas de sonho, e de espiolhar todos os cantinhos destes lugares sem se preocupar com as horas e as dores nas cruzes. Mas também pode preferir escolher como destino cidades onde se passa a acção de alguns dos seus romances preferidos, como, por exemplo, a Sampertersburgo das obras-primas de Dostoievski, a Oxford de Todas as Almas de Javier Marías, a Barcelona de A Sombra do Vento, a Tenerife da escpadinha de Terapia, de David Lodge, ou a Nápoles da tetralogia de Elena Ferrante. E, claro, pode ainda optar por cidades onde viveram os seus autores favoritos e vasculhar os sítios onde estes escreveram as suas obras mais emblemáticas: entrar nas suas casas ou gabinetes, ver como eram as suas secretárias e cadeiras, as suas máquinas de escrever ou, tratando-se de alguém mais antigo, as suas pranchas de escrita, os seus tinteiros, penas e mata-borrões. E até ir ao lugar onde estão enterrados, uma coisa algo mórbida que eu, por exemplo, já fiz com William Butler Yeats em Sligo, na Irlanda, e Joseph Brodsky no cemitério de San Michele, numa ilha de Veneza. Cada amante da leitura terá uma cidade que quer ir visitar por causa de um livro que leu ou do seu autor, mesmo que frequentemente, lá chegando, se desiluda com a cidade real.