AS APARIÇÕES DO REDUZIDO.
Por Elmar Carvalho Em: 24/01/2011, às 19H40
Elmar Carvalho
Dias atrás, eu, o Canindé Correia e o Vicente de Paula, o Potência, fomos à praia Peito de Moça à procura do amigo Porfírio Carvalho, irmão do Jonas e do Neco Carvalho, também nossos amigos. Em virtude de equívoco em relação ao ponto de referência que nos deram, não conseguimos localizar a casa onde ele estava hospedado. Por tal razão, retornamos a Parnaíba e fomos ao Labino. À tarde, após um churrasco, seguimos em direção ao Tabuleiro, Rosápolis e adjacências. Vimos as novas ruas que estão sendo abertas e os trabalhos de urbanização que estão sendo feitos nessa zona da cidade de Parnaíba. Fizemos uma parada logística no bar do Raimundo José Clarindo, um misto de careca e cabeludo, que nos contou uma proeza pós mortem do Zé Maria Reduzido.
O Clarindo, certo dia, não sei se de finados, foi ao túmulo do saudoso Reduzido, para fazer umas preces em sua intenção. Entretanto, teimosamente, as velas colocadas sobre a lápide não acendiam, mesmo após várias tentativas. Em vista disso, ele tentou acender uma delas encostando o seu pavio na chama de uma que havia num túmulo próximo, mas ainda assim não obteve êxito. Após novas tentativas, o Raimundo José perguntou-se em voz alta sobre a razão de as velas não acenderem. Umas voz semelhante à do finado, que parecia vinda de dentro da sepultura, respondeu mansamente, quase num sussurro: - “Aqui dentro já faz tanto calor, e você ainda quer acender velas aí em cima...” Após essa narrativa, recordamos algumas aventuras folclóricas do Reduzido, e lembramos que ele era um talentoso mecânico. Quando sua velha Variant marrom “negava fogo”, ele quase milagrosamente fazia com que as velas de ignição, ao contrário das de cera em seu túmulo, voltassem a emitir faíscas, fazendo com que o carro voltasse a funcionar. Ele era tão autoconfiante em sua capacidade técnica, que ao fazer alguma viagem levava apenas as ferramentas de praxe; entretanto, conduzia vários pneus estepes, em torno de meia dúzia, simbolizando com isso que os defeitos mecânicos não lhe causavam preocupação, mas sim os imprevisíveis furos dos pneumáticos.
Em face da história das velas inacendíveis, o Vicente de Paula (Potência) contou que o tenente (Bene)Dito testemunhou duas aparições do saudoso Reduzido. Uma de manhã cedo, quando viu o vulto do falecido a caminhar nas proximidades de sua casa; pouco depois, já não viu mais a visão, como se esta se tivesse desfeito no ar. Posteriormente, a imagem do Reduzido lhe apareceu de novo, com os cabelos bem pretos, bem lisos e luzidios. O tenente não teve nenhum sobrosso porque no momento não se lembrou de que o Zé Maria já tivesse falecido. Como lhe achasse bonito os cabelos tão pretos e brilhosos, manifestou o desejo de lhes tocar, mas Reduzido não lhe permitiu o contato, afirmando que doía muito, e, logo em seguida, desapareceu misteriosamente, como por encanto. Quando o Vicente contou esse fato, o Clarindo ficou todo arrepiado, e eu então fiquei certo de que ele acreditava piamente no episódio das renitentes velas sobre o túmulo do Zé Maria.
O Reduzido tinha um humorismo peculiar, e participou de várias peripécias pitorescas e folclóricas. Algumas foram fruto de suas irreverências etílicas, satíricas, burlescas, mas sem ofensa e prejuízo ao semelhante. Eram apenas brincadeiras e “tiradas”, oriundas de sua verve e espirituosidade, voltadas para o riso e a alegria. Durante alguns anos foi o principal responsável pela brincadeira de malhação do Judas, que era dependurado e trucidado perto da igreja de São Sebastião. Nunca ouvi falar de maldade que ele tenha praticado, e as suas duas aparições, se verdadeiras, e não apenas fruto da imaginação dos videntes, apenas revelam que ele era e é um espírito amante da irreverência inofensiva e do sadio bom-humor.