A uma argumentação que não me convence por ser inconsistente, nem verdadeira, por ser eivada de meias- verdades, só me resta o caminho da resposta “ainda que tardia,” porque, não sendo tão bom navegador ou hacker da WEB, meus passos intelectuais, já um pouco cansados, conquanto firmemente lúcidos e atentos, ainda me permitem me defender no campo da literatura.
                Li, num blog denominado Ágora da Taba sob a responsabilidade de Adriano Lobão postado em 16/10/2008 e anteriormente publicado em 4 de agosto de 2003, na revista  Amálgama” dirigida também por Adriano Lobão,  um comentário de natureza crítica de Wanderson Lima fazendo referência a meu trabalho de mestrado, Da Costa e Silva:uma leitura da saudade, defendido em 1994 na UFRJ e, posteriormente, publicado em livro pela APL/UFPI, trabalho que me consumiu mais de três anos de intensa pesquisa sobre o maior poeta do Piauí.
              Devo adiantar ao comentarista que a natureza do meu ensaio, ao contrário do que ele afirma com pretensões de crítico, sempre teve como cuidado básico resgatar alguns aspectos da poesia dacostiana que, na época, se me afiguravam dignos de salientar para o leitor atual, que não fossem apenas uma louvação oficialesca à obra do poeta, mas um estudo que ousasse levar adiante certas dimensões, certos vieses (mesmo sugerindo algumas caminhos temáticos para futuros pesquisadores ) que, até então, não tinham sido objeto de pesquisa no Piauí e mesmo fora desse estado. Me lembro de um comentário de um colega de mestrado que me serviu como valiosa advertência a uma pesquisa sobre autores: “Nunca faça uma trabalho de natureza crítica com objetivos meramente festivos sobre autores ou obras” 
           Ora, o que o Wanderson Lima afirma sobre meu ensaio vale como uma petição de princípio, ou seja, ao procurar rebaixar o meu estudo, ele, ao contrário, mete as mãos pelos pés e resvala para a incongruência do raciocínio –  este último  termo -, aliás, virtude essencial aos esgrimistas de espírito, como tinham sido Camilo Castelo Branco e o nosso Agripino  Grieco (naturalmente ao citar o grande crítico do Méier, o comentarista estará me chamando de Matusalém, ele que se refestela nos criptogramas teóricos de Luís Costa Lima e, para parecer, moderninho, nos Blooms da vida. Vale repetir aqui o que dissera Rui Barbosa: “Mocidade vaidosa jamais chegará à virilidade útil.”
         Pois é justamente aquilo que o comentarista salienta como deficiência no meu ensaio o que eu aprofundo, dentro das possibilidades do tempo da escrita de uma dissertação, em análises dos poemas. Basta, para dar um exemplo de análise feita com densidade e, o que é mais, com originalidade, a minha abordagem acerca do poema “À margem de um pergaminho,” poema pouco ou até então nada comentado por algum exegeta. Não é verdade o que o pretenso crítico postula sobre as análises desenvolvidas ao longo do meu ensaio, ao afirmar sofismas dessa natureza: (...) “Este esforço taxonômico que pôs em segundo plano uma leitura imanente dos poemas, pouco ou nada serviu para alargar as interpretações já conhecidas da poesia dacostiana.” Somente posso atribuir à má vontade ou mesmo despeito do comentarista ou inveja dos ressentidos a artimanha de tresler meu estudo e minha visão de leitor, visão que nem de longe tenciona mimetizar a sensaboria de um tipo de ensaísta que me irrita profundamente: aquele que não tem estilo próprio mas se oculta nas suas tentativas de interpretações sob o império falido de um pseudo-hermetismo citacional carente de autonomia de pensamento, ensaísmo canhestro que pensa sempre pelo olhar além-fronteiras, ao invés de se libertar da liliputiana dependência cultural do estrangeiro.” - Leiam mais Antonio Candido, Alfredo Bosi, Fábio Lucas, David Arrigucci Jr., Roberto Schwarz entre outros grandes críticos", e isso bem poderia ser um lema adequado a essa juventude que se pretende árbitro de quem já viu a descoberta da roda há tanto tempo repetida. 
          Jamais pretendi que meu ensaio sobre Da Costa e Silva fosse revolucionar toda uma visão hermenêutica acerca do poeta de Amarante. Meu estudo, sem dispensar o rigor metodológico, é uma pesquisa profunda e intensa. Seu objetivo mais amplo foi o de recuperar a memória do poeta que cultivou a poesia em mais de um estilo literário, assim como ocorreu com outros da sua época. Só mesmo espíritos míopes poderiam minimizar um estudo feito com seriedade, amor à pesquisa e até certa paixão tão às vezes necessária a um trabalho ainda que de natureza científica Veja-se a bibliografia que, no ensaio, trago à consideração dos estudiosos. A comissão editorial da Universidade Federal do Piauí, que leu os originais do meu ensaio, é mais do que suficiente demonstração, sem privilégios de igrejinhas ou grupelhos invejosos, do tirocínio, alta cultura e experiência no domínio intelectual que honram a inteligência piauiense: Geraldo Magela Fortes Vasconcelos, Fabiano de Cristo Rios Nogueira, Manuel Paulo Nunes, Paulo de Tarso Melo e Freitas e Raimundo Nonato Monteiro de Santana, além do magnífico trabalho de apresentação do meu livro feito por um dos mais sérios e competentes intelectuais do Piauí, o saudoso professor e jurista Wilson Brandão, conhecedor profundo de literatura e crítico reconhecidamente exigente. 
        O que fastidiosamente lembrou o douto Wanderson Lima sobre o que se deveria estudar em Da Costa e Silva, em vários pontos do meu ensaio, eu já havia salientado. Portanto, o comentarista dublê de crítico está chovendo no molhado e não sente os pingos que vêm de cima. Dessa insensibilidade não posso ter culpa. Não sou a Providência a quem cabe distribuir os frutos da Terra... Ademais, quando o comentarista sai distribuindo alfinetadas a esmo sobre antigos estudos da poesia dacostina - e o bom leitor sabe a quem ele está precisamente se dirigindo -, ele se esquece de que basta “meia dúzia” de textos para que se faça de uma pesquisa um trabalho de grande envergadura intelectual. Ora, quando analiso “À margem de um pergaminho”, quando discuto sobre um certo experimentalismo com traços concretistas em Da Costa e Silva eu estou exatamente insinuando no leitor, ou mesmo nele reforçando o meu desejo de, ainda que sendo redundante, observar a tendência nele a novas formas de fatura poética. Não estava no meu projeto sobre a poética dacostiana escrever um trabalho rigorosamente original e da extensão e aprofundamento de uma tese, principalmente porque não era uma tese e nem tinha a obrigação de ser rigorosamente original. Et malgré cela... 
      Globalmente considerado, o artigo “Mestres do Passado?” peca lamentavelmente por uma série de lugares comuns e clichês tão ao gosto de quem gosta de ostentar um tipo de higbrowism de intelectual de hoje que, para ascender-se junto ao leitor e de narcisicamente chamar a atenção para si, procura atacar logo quem, ao longo de mais de quarenta anos, tem dado muito de si, mesmo morando no Rio de Janeiro, para tornar o Piauí um estado mais reconhecido no domínio literário e cultural. Devo dizer-lhe que o desafio da grande crítica não é apenas a destruição dos valores – mesmo porque a suas ponderações não têm relevância para o meu julgamento e nem reconheço em sua persona autoridade intelectual alguma, nem tampouco me preocupa o julgamento, no plano intelectual, que possa ter a meu respeito.     O comentarista, segundo já frisei, ao atacar toda uma fortuna crítica dacostiana, sempre que emite os seus próprios( ?) juízos, cai na mesmice, nos chavões tomados a leituras apressadas e mal lidas, por exemplo ao afirmar que Owaldino Marques para ele foi quem mais avançou na compreensão da poesia dacostina dentro, cumpre esclarecer, de um appproach estilístico-formalista. Ora, isso eu mesmo já o havia dito na “Introdução” ao meu ensaio (seção 1.3, Fortuna Crítica). Uma outra inverdade é quando Wanderson Lima refere que aquele crítico maranhense não recebeu a devida atenção dos críticos piauienses. Ora, eu mesmo comentei o ensaio citado pelo meu julgador no meu ensaio sobre a saudade e o considerei o mais profundo entre o elenco de estudos reunidos na  referida seção  “Fortuna crítica.”
    Tampouco é verdade que eu tenha dado pouca substância às minhas análises desenvolvidas segundo a tipologia tripla do conceito filosófico de saudade desde o seu berço galego e buscado num estudo de alta complexidade de Ramón Piñeiro Lopez, num verdadeiro achado de pesquisa e adequação ao cerne do meu ensaio. Não escrevo para satisfazer as preferências de abordagens de métodos críticos de quem quer que seja,mas tenho certeza de que o caminho que escolho sempre levará em primeira conta o componente estético da obra literária. Mal sabe o comentarista de plantão o trabalho extenuante que me deu enveredar pela leitura de textos em galego e, para a semântica e etimologia da “saudade,” em autores da mais alta categoria como Karl Vossler e Carolina Michaëlis. Isso para não entrar em outros passos do meu estudo que, sem modéstia à parte, foram realizados,  repito, com plena seriedade intelectual. Poderia citar “A história de uma palavra”, “Poemas à maneira de”, “Metáfora da saudade”. Mais uma vez rebato com veemência a insinuação desonestamente intelectual do comentarista de Valença que me atribui haver eu dedicado “a maior parte do livro” em “catalogar” a mencionada tripla tipologia da saudade de procedência galega quando, na verdade, ela toma apenas duas páginas e meia. Pelo contrário, dedico treze páginas inteiras, no formato do livro, a análises de poemas segundo aquela tipologia. Em pesquisa acadêmica, é muito arriscado para a reputação do estudioso sonegar verdades de natureza técnico-científica. Esse procedimento pode derrubar a carreira de um pesquisador e depõe contra o caráter do estudioso.. É tão pernicioso quanto o pecado venal do plágio.
   Lembro ao detrator do meu estudo que, num ensaio mais recente, retomo a poesia de Da Costa e Silva: “Da Costa e Silva: do cânone ao Modernismo” (SANTOS, Francisco Venceslau dos. Org. Geografias literárias – confrontos: o local e o nacional. Rio de Janeiro: Caetés, p. 103-122, 2003). Nele aprofundo a discussão do papel do poeta no que concerne à dimensão inovadora dele em direção à poesia modernista e até pré-concretista analisando novos poemas não contemplados no meu primeiro ensaio e tendo sempre em vista enfatizar esse lado menos tradicional de seu verso. Isso porque ainda observo com surpresa que se fala do poeta ainda hoje como se ele fosse apenas um bom poeta simbolista ou neo-parnasiano, quando se sabe que  isso não é verdade. 
  Recordo, finalmente, ao comentarista que ele cometeu um erro grave ao citar o nome do autor de Da Costa e Silva:uma leitura da saudade. Meu nome literário, que está na capa do título da obra, é Cunha e Silva Filho e não Cunha e Silva (1905-1990), que foi um jornalista, professor e escritor piauiense, meu querido pai.

*NOTA: O título  do artigo  é a tradução do seguinte pensamento latino: "Aquila non capit  muscas."