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 O que realmente interessa é o seguinte: chamamos de “dado errado” qualquer informação que seja incoerente com todos os demais dados conhecidos. É o nosso único critério de certo ou errado. E, igualmente, é o critério da Máquina.

Isaac Asimov (O Conflito Inevitável)

Durante a faculdade me apaixonei perdidamente pela ficção científica. Tornei-me, não tenho medo de confessar, um pouco viciada. Lia, principalmente, Isaac Asimov e Arthur Clarke, dois importantes representantes desse gênero, cujas histórias conquistaram milhares de leitores em todo o mundo a ponto de seus livros renderam grandes sucessos do cinema como: 2001, Uma Odisseia no Espaço[1] e Eu, Robô[2].

Esses dois livros/filmes, assim como muitos outros, descrevem uma época na qual a tecnologia está tão avançada que supercomputadores conseguem controlar uma nave espacial e robôs são projetados para servir e interagir com os humanos. É claro que, para manter o suspense da trama, em ambos os casos, algo grave sempre acontece e as máquinas acabam por não parecerem tão confiáveis como se acreditava no início das histórias.

Em muitos filmes/livros de ficção científica os computadores/robôs têm uma peculiaridade interessante: são capazes de aprender e, portanto, evoluir. Situação recorrente e, na maioria das vezes, considerada assustadora. A razão para o medo é simples: se as máquinas são mais inteligentes que o homem, podem com facilidade dominar o mundo e, consequentemente, o ser humano. Se você está lembrando da trilogia Matrix, não está errado. Ela segue o mesmo formato das histórias que envolvem essa relação complicada entre humanos e “máquinas pensantes”.

Toda essa introdução é para dizer que essa realidade, aparentemente estranha, está a ponto de se tornar parte das nossas vidas. Nos Estados Unidos, na Universidade Carnegie Mellon, está sendo desenvolvido um projeto, chamado Never Ending Image Learner (NEIL, em inglês ou, em português, Aprendiz Sem Fim de Imagens), cujo objetivo é verificar se os computadores conseguem reconhecer aspectos comuns encontrados em imagens. Em outras palavras, o projeto tem como meta criar um programa no qual o computador seja capaz de aprender como adquirir bom senso.

Vocês conseguem imaginar isso? Ensinar bom senso a uma máquina? Essa já não é uma tarefa fácil para os seres humanos, imagine, então, para um computador.

De qualquer maneira, os cientistas da universidade americana estão otimistas de que podem conseguir tal proeza. No entanto, para eles não basta o computador saber que carros estão relacionados com estradas ou que patos se parecem com gansos. Na verdade, os pesquisadores querem que NEIL faça isso e muito mais sem precisar ser ensinado, ou seja, programado pelos seres humanos para fazê-lo.

Contudo, por enquanto, os programadores não estão sabendo o que ensinar a essas máquinas altamente avançadas – como um professor que não sabe por onde começar uma aula. Assim, os cientistas têm se limitado em mostrar ao NEIL imagens de todos os tipos – até agora foram mais de três milhões – e ele tem conseguido identificar 1,5 mil objetos e 1,2 mil paisagens, além de descobrir 2,5 mil associações entre objetos em diferentes fotos. Essa verdadeira proeza tem deixado os cientistas esperançosos de conseguir mais avanços no futuro.

Outro aspecto interessante do projeto – e que me faz lembrar de HAL, o computador maluco de 2001 – é que NEIL também erra, e erra feio. Ele pode, por exemplo, confundir o termo “pink” (“rosa”) com uma famosa cantora com o mesmo nome. E é nesse ponto que os humanos entram, ou melhor, interferem. Segundo os cientistas, apesar de as pessoas ainda não saberem direito o que ensinar aos computadores, elas são boas em dizer o que está errado. Assim, quando NEIL associa um barco com uma estrada de ferro, existe um programador que identifica o erro e o corrige. E é nesse ponto que se encontra toda a essência do projeto: evitar as interferências dos seres humanos no processo de aprendizagem do computador.

Assustador? Um pouco. No meu caso, fico imaginando todas as histórias de ficção científica que já li transformando-se em realidade. Uma realidade na qual o ser humano é um “bem supérfluo”, podendo ser eliminado por uma “mente robótica maligna”. Chego a sentir arrepios só de pensar nesse cenário.

Enfim, mesmo que esse tipo de pesquisa seja um pouco assustadora, não posso fingir que ela não é fascinante ou que a ciência vai simplesmente deixar isso de lado. Afinal, além de os computadores estarem cada dia mais e mais avançados, os seres humanos estão cada vez mais dependentes deles. Ignorar essas verdades é enterrar a cabeça na areia como faz um avestruz. Então, qual deve ser a solução? Do meu ponto de vista, aquela que tem mantido a humanidade viva durante milhares de anos: adaptação.

Precisamos nos adaptar a essas novas realidades, pois não é mais possível andar para trás. Por essa razão, depois de ler a matéria sobre NEIL resolvi consultar um dos livros de Isaac Asimov[3] e encontrei o que ele denominou de as “Três Leis da Robótica”. Elas têm, segundo o próprio autor, como principal diretriz tornar possível a coexistência de robôs inteligentes e humanos. Para quem não as conhece, é bom ler com atenção, pois, pelo visto elas poderão, em breve, vir a se tornar uma realidade:

1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2ª Lei: Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.

3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira e/ou a Segunda Lei.

É a ficção prevendo o futuro. Prepare-se e adapte-se!

 

 

 

 

 



[1] Um filme americano de 1968 dirigido e produzido por Stanley Kubrick, co-escrito por Kubrick e Arthur C. Clarke.

[2] É um conto escrito por Isaac Asimov em 1950 que em 2004 tornou-se filme dirigido por Alex Proyas e estrelado pelo ator americano Will Smith.

[3] Eu,Robô (I, Robot, em inglês). Uma coletânea de contos escrita por Isaac Asimov e que já haviam sido publicados em revistas. Ela foi lançada em 2 de dezembro de 1950.