(Pode ser que algumas das próximas loas, que, esperaríamos, fossem fictícias, coincidam com fatos reais).

Em vista das recorrentes intervenções dos órgãos paroquiais de trânsito - certas delas tomadas à revelia do cidadão-contribuinte ou espancando atos normativos comandados pelo Código Brasileiro de Trânsito - envolvendo o tráfego em diversos logradouros da cidade, e visando reduzir aborrecimentos, diminuir inevitáveis custos tributários gerados pela supereficiente fábrica de multas, incentivar a indústria automobilística do terceiro mundo, além de possibilitar a substituição paulatina da atual frota automotiva, a recém-criada Cooperativa Interamericana de Capitalistas, Usurários, Trotskistas e Assemelhados – CICUTA, aqui sediada, vem a público anunciar que estará abrindo licitação na modalidade concorrência internacional, para aquisição de veículos automotores que montadoras nacionais e/ou multinacionais, acaso interessadas – consideradas idôneas, aptas técnica e financeiramente, após necessário, ou não, processo burocrático -, conseguirem produzir dentro das seguintes características: denominação padrão do automóvel: bólido standard (bosta); tipo: hatch ou sedã; modelo: lançamento; duas ou quatro portas; motor até três cilindros; combustíveis: álcool, gasolina ou misto; cores: branca, bege anemia, amarelo icterícia e cinza nefrológica ou esmaecida. Justificativa para as cores claras ou quase: melhor adaptação ao clima local, uma vez que os pequenos motores, possivelmente, sentir-se-ão sobrecarregados com o acionamento do indispensável condicionador de ar. A respeito da velocidade, outra observação: por não possuir o município, onde os veículos, obviamente, deverão circular – como ir mais longe? -, segundo determinações das instituições de trânsito, nenhuma via na qual seja permitido trafegar a mais de setenta quilômetros por hora, ao bosta bastará que se adeque ou se atenha a esse limite.

            Esclarecimentos adicionais aos fornecedores (se existirem), das carroças, isto é, dos veículos, objeto da licitação: dada a baixa velocidade máxima que desenvolverão, se testes específicos comprovarem que alguns modelos consumirão mais energia elétrica do que combustível carburante, deverão ser esses fornecidos com baterias sobressalentes.

            Sabendo que a cidade recebe quantitativo razoável de turistas não profissionais, como participantes de eventos culturais ou comerciais, e reconhecendo que não é boa política proibir aos que, assim preferindo, utilizem em seus deslocamentos os próprios automóveis, certamente, muito mais rápidos do que os adquiridos, a licitante exige que o bosta seja dotado de extravagantes sistemas de alerta e pisca-pisca – quanto mais parecido com burra de cigano ou carro alegórico, melhor -, para não ser colhido pelos potenciais ou verdadeiros bólidos dos que a visitam.

            Adredemente, a Cooperativa informa que envidará esforços no sentido de, junto à castradora municipalidade, conseguir para os pretensos usuários ou interessados adquirentes, inclusive não adeptos ou simpatizantes da CICUTA, subsídios e/ou incentivos fiscais e securitários no caso de privilegiarem um bosta. E mais: tentará, utilizando a mídia, o apoio de empresários do ramo hoteleiro, de locação e autônomos, lobistas, marqueteiros e políticos, centrar força e energia no combate à praga das multas de trânsito, seja oferecendo vantagens financeiras, seja disponibilizando bosta aos pretensos clientes, consumidores e público em geral, a fim de que experimentem.

Apenas uma sugestão: CICUTA convida interessados em bosta a se dirigirem até a sede da entidade, localizada no beco sem saída e sem número, ou acessando seu site: www.cicutaehbosta.org.br.

            A propósito, o slogan oficial da organização é: “A CICUTA não é veneno, mas seu carro tem que ser um bosta”.

            Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected]