Aos 87, morre Gilvan Lemos em Recife-PE
Gilvan Lemos saiu de cena no primeiro dia de agosto, aos 87 anos, em decorrência de infarto fulminante. “Tão silenciosamente”, disseram nomes ligados a ele na produção literária do estado. Sempre foi tímido, discreto. Antes da homenagem concedida na IX Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, em 2013, foram necessários meses de negociação entre o escritor e a equipe organizadora do evento. Não queria se exibir. Ao ser transformado em filme - Lemos, Gilvan, de Cida Pedrosa e Mariane Bigio, lançado em junho deste ano - pediu que houvesse um único lançamento, ao invés de dois, como planejavam as diretoras. Quanto menos aparições, melhor. Quanto mais privacidade, também.
 
Gilvan fazia questão de morar sozinho e receber poucas visitas no apartamento da Boa Vista, onde o corpo foi encontrado na noite passada. As empregadas contratadas pela família eram logo dispensadas. Fugiu dos holofotes mesmo quando não pretendia: em 2012, foi representado pela sobrinha, Lívia Valença, durante a cerimônia de posse na Academia Pernambucana de Letras, onde ocupava a cadeira de número 26. Vítima de uma queda no apartamento, torceu o tornozelo e foi hospitalizado na ocasião. “Isso foi há alguns anos, somente. É inesperada e inestimável a perda para a APL e para a literatura brasileira em geral”, disse Fátima Quintas, presidente da academia.
 
A timidez, segundo o próprio Gilvan, era menor somente do que a teimosia. Em depoimento publicado em seu site, relatou: “Comecei a escrever de teimoso que era. Em minha cidade – São Bento do Una, agreste meridional de Pernambuco –, não havia a menor possibilidade de prosseguir. Cidade atrasada, sem colégios, sem biblioteca, sem pessoas ligadas à literatura. Contava apenas com minha irmã mais velha.” O primeiro conto foi escrito com a ajuda dela e publicado na revista Alterosa. Dali em diante, 25 livros seriam publicados, incluindo os conhecidos O anjo do quarto dia, A noite dos abraçados e Os pardais estão voltando. O primeiro romance, Noturno Sem Música foi escrito em 1951 e publicado em 1956.
 
O corpo de Gilvan Lemos será velado neste domingo (02), na Câmara de Vereadores de São Bento do Una, e sepultado junto aos dos pais. Foi um dos últimos - e mais repetidos, ao longo da vida - pedidos do romancista. Está no filme Lemos, Gilvan. “A princípio, seria velado na APL, o que retardaria muito o enterro. Por isso, concentramos todas as cerimônias na mesma cidade. Será até mais discreto”, explica a sobrinha, Lívia. Teimoso e tímido, Lemos se despediu sem alarde, do modo como viveu. 
 
Publicado originalmente no Diário de Pernambuco em 01.08.2015