Para nós escritores a Internet é a grande viagem da Pós-modernidade, a nau que nos conecta ao outro lado do mundo. Lembro-me de quando jovem os jornais eram portas abertas para os novos. Havia centenas deles. Desapareceram, desistiram, morreram. Muita gente escrevia crônicas, poemas, contos naqueles jornais. Os textos se misturavam com os mais consagrados. Era maravilha. Depois, veio a dificuldade. Os jornais fechados, seletos, politizados. Hoje é possível um jovem escritor fazer seu ofício somente na Internet. Ninguém precisa da grande media, sempre interessada. Quando um jornal publica o seu texto “está promovendo”. O poeta não quer promoção. Na realidade o poeta nada “quer”. Ele apenas vai, explora os mundos desconhecidos. O poeta cibernético sabe a retórica específica: nada de textos grandes, caudalosos, palavrosos. A web admite (e mesmo requer) sofisticação e criatividade, mas não prolixidade vulgar. E escrever para a web é fluir no desconhecido. Você pode estar sendo lido em qualquer parte do globo terrestre. É abrir a porta da aventura. Imagino Fernando Pessoa hoje:


Meu coração é um pórtico partido
Dando excessivamente sobre o mar.
Vejo em minha alma as velas vãs passar
E cada vela passa num sentido.

Um soslaio de sombras e ruído
Na transparente solidão do ar
Evoca estrelas sobre a noite estar
Em afastados céus o pórtico ido…

E em palmares de Antilhas entrevistas
Através de, com mãos eis apartados
Os sonhos, cortinados de ametistas,

Imperfeito o sabor de compensando
O grande espaço entre os troféus alçados
Ao centro do triunfo em ruído e bando…

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