Cunha e Silva Filho


      Um ano transcorrido para quem passou à velhice tem um valor intenso, inestimável. Precisa ser bem vivido em toda a plenitude do dia-a-dia, mas sem sobressaltos, sem afobamentos, sem grande planos.Deve ter a medida certa, o equilíbrio, a harmonia dos que, bem ou mal, aprenderam muita coisa da vida.
     O tempo psicológico de quem atingiu essa fase da existência é bem mais longo do que o presente frenético da juventude, da mocidade, sem se falar da infância, que é cercada de mil vidas, de mil mágicas, invenções, brincadeiras, como se a vida fosse uma eterna continuidade.
     No Brasil e no mundo, fazendo o balanço do que se viu, se viveu e do que se teve notícias, ninguém, em plena consciência de suas faculdades mentais, há de afirmar que foi um ano bom, alvissareiro. Em nosso país, dois exemplos nos marcaram e nos entristeceram: o desastre da política nacional e a tragédia do Rio Doce, em Mariana, Minas Gerais.
     No mundo, a tragédia das vítimas inocentes numa casa de espetáculo parisiense, barbarizada pelo nefando Estado Islâmico e a situação desumana por que têm passado os refugiados, sobretudo da Síria corridos pelas guerra civil, pela destruição de seus bens, pela perda de seus empregos, pela derrocada de tantos lares e pela perda de crianças atravessando, em barcos infláveis, por mar em direção sobretudo à Europa. Enquanto os refugiados saem às pressas de sua própria pária, continua a infame guerra civil num país arrasado.

  Tudo por causa sobretudo da continuidade de um regime ditatorial que provocou milhares de mortes desnecessárias. Desnecessárias, sim, se os adversários de Bashar Al-Assad pudessem ter chegado a um acordo na disputa pelo poder.Nem o Conselho de Segurança da ONU deu jeito na conflagração de sangue e de matanças covardes.
 Até parece que as grandes potências não desejam pôr termo a essa guerra civil interminável, insolúvel. Vamos ver até aonde vai esse conflito em parte fratricida entre rebeldes e o partido do ditador Bashar Al-Assad, de mistura com outro personagem que também entrou em cena, o Estado Islâmico formado de terroristas impiedosos e assassinos frios, anárquicos e inimigos declarados dos valores do Ocidente. A Síria virou um colcha de retalhos, onde cada grupo adversário deseja se apossar de um região, de cidades, como se fossem invasores da Antiguidade Clássica (século VIII a. C. até o século V d.C.), sobretudo do ponto de vista da civilização romana, por eles invadida, entre os quais  os hunos, francos, burgúndios, suevos, vândalos, visigodos, i.e., os bárbaros da pós-modernidade. Bárbaros para os romanos eram todos os povos que se situavam fora da sua civilização.
    Estado Islâmico - grupo terrorista que surgiu, em solo sírio, para ainda mais complicar a já arrasada estrutura do Estado da Síria que, nas condições atuais, não é mais aquilo que se pode chamar de país, de nação, em razão da carnificina, dos bombardeios, das explosões, da convulsão social, dos destroços em que se transformou aquele país, em razão igualmente da fuga obrigatória dos seus cidadãos que deixaram as suas raízes, a sua família, os seus pais, a sua terra natal atravessando as fronteiras próximas em busca de paz e de uma vida sem opressão nem medo. O atrevimento desse grupo terrorista é tão grande que se auto-intitula “Estado,” tomando o termo da Ciência Política para definir suas iniquidades, matanças e degolas. Não passa de um bando formado até de indivíduos de países ocidentais que são para ele atraídos(brainwashing) com alguma promessa de livrar o mundo civilizado de todas as mazelas morais, espirituais, consumistas, se esquecendo, contudo, de que usam armas fabricadas também no Ocidente e são ainda acusados de receberem ajuda financeira e bélica de potências ocidentais (que mundo torpe?!)
     De tanto a Humanidade conviver com guerras e derramamento de sangue, os organismos internacionais, que deveriam priorizar esses conflitos, dão antes mostras de que bastam alguns bombardeios em determinadas partes do território sírio para que deem satisfação ao mundo de que estão solucionando alguma coisa. Qual nada!
    A guerra civil prossegue inexorável na Síria. Os refugiados continuam sua saga de humilhações pedindo abrigo a países da Europa, sem muitas vezes, serem atendidos. Aquelas imagens de levas de refugiados da Síria e de países africanos nos fazem lembrar os trágicos anos da Segunda Guerra Mundial. Refugiados, a pé, em gigantescas fileiras, andam quilômetros e quilômetros para chegarem a alguma fronteira de um país que lhes possa estender a mão humanitária. Essa criaturas que perderam tudo parecem sair de um documentário sobre os horrores do Holocausto e dos destroços causados pela duas grandes guerras.
   Volto ao Brasil, forço a memória e vejo a barafunda em que nos meteram os donos atuais do país. com mentiras, falácias, simulacros, maquiagens, dinheirama roubada dos cofres públicos para fins de campanhas de eleitorado comprado e vendilhão de suas (in)consciências aviltadas, propinas pagas a parlamentares de vários partidos (desmoralizando a figura dos políticos, cuja cotação está a zero na consciência de grande parte dos eleitores), Operação Lava Jato, Escândalo do Petrolão, denúncias quase diárias mostradas nos canais de TVs, enlameando os últimos resquícios de alguma moralidade no Congresso Nacional, tudo, enfim, sob a proteção da impunidade crônica e do cinismo deslavado de parte a parte da politicagem, cujas garras horripilantes, tentaculares se espalham país adentro em níveis de governos estaduais e municiais.
     Perdeu-se o rumo da moralidade política, dos ideais democráticos, da vontade política de fazer o bem para a sociedade brasileira, agora dividida ente prós e contras no cenário atual.
Ora, se o governo federal não anda bem, não funciona com dignidade plena, o resultado não demora a vir à tona: quebradeira das finanças (A revista The Economist chamou, na primeira capa, “A queda de Dilma Rousseff.”   Nem é  preciso ler-se a matéria a fim de que nos informemos sobre todos os percalços e tropelias causados pela governança da presidente Dilma), colapso da saúde, educação fundamental e média deteriorada, violência com impunidade jamais vista na história brasileira contemporânea, onde bandidos competem em armamentos com as nossas forças policiais, matam inocentes nas favelas e morros, assassinam estudantes por causa de um celular, explodem caixas eletrônicos de bancos privados e públicos. Esse fatos escabrosos não acontecem não apenas em São Paulo e Rio de Janeiro, mas se ramificam pelo país inteiro.
    Não se pode compreender como um país nestas condições desfavoráveis vai sediar as Olimpíadas de 2016. Não seria este o momento de sediar um evento dessa magnitude com um país visto de ponta cabeça. Fomos imprevidentes nesse sentido, sobretudo porque a situação que o Brasil atravessa, nos campos social, político e financeiro e institucional, é a pior possível. Só resta ao governo federal tomar decisões que venham reduzir os prejuízos espelhados na imagem do país no exterior. É tempo ainda de reparar grandes erros e ações tomadas pelo governo federal que redundaram nessa vexatória situação de desarmonia e hesitações nos três poderes, diante de dois fatos que precisam de ser resolvidos: a normalidade do Congresso Nacional e a questão do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
    Da minha parte, somente quero desejar veementemente para 2016 um ano sem tantas aflições, sem tanta violência (as mães de filhos assassinados por menores delinquentes ou jovens adultos clamam aos quatro cantos da Nação por justiça, justiça, justiça!). Deus proteja a nossa Nação!


Postado por Cunha e Silva Filho às 05:57