Anísio Brito
Anísio Brito

 

O Prof.º Anísio de Brito Melo nasceu na cidade de Piracuruca, norte do Piauí, em 24 de setembro de 1886, filho de Antonino de Brito Melo(1854 – 1927) e D. Leonília de Moraes Brito. Era neto paterno de Domingos de Brito Passos e D. Carlota Rosa de Melo e materno do coronel Gervásio de Brito Passos e D. Carlota Maria de Moraes, todos aparentados e oriundos de distintas famílias daquela região.

Foi na cidade natal que iniciou as primeiras letras, estudando na única escola pública local com o professor Fernando Pereira Bacelar, a quem num gesto de gratidão presta singela homenagem no estudo que faz sobre sua terra, a velha Piracuruca.

Concluídos os estudos iniciais muda-se para a cidade de Teresina, onde prossegue em sua formação intelectual, desta feita no Liceu Piauiense.  Ainda numa fase em que as escolhas são incertas, tencionou seguir vida sacerdotal, para isto matriculando-se no Seminário Menor de Teresina.

No entanto, logo descobriu que sua vocação era para novos caminhos, assim abandonando a vida de seminarista. Então, seguiu para a cidade do Rio de Janeiro, matriculando-se no curso de Odontologia da Universidade do Brasil, onde colou grau em 1911, aos 25 anos de idade, depois de cursar com êxito toda a grade curricular.

De retorno a Piracuruca, ali inicia vida profissional atendendo à população local. Por esse tempo recebeu a carta-patente de capitão do 74º Batalhão de Infantaria da Guarda Nacional.

Contudo, porque a vida profissional na pequena Piracuruca não oferecia perspectivas para um jovem profissional da odontologia, dois anos depois mudou sua residência para a cidade de Teresina, capital do Estado.

Em 14 de novembro de 1913, na Capital do Estado, casa-se com a prima Carlota de Moraes Brito, filha do coronel Pedro Melchíades de Moraes Brito e dona Carlota de Moraes Brito, não tendo, porém, gerado sucessores.

A sua vocação mesma foi para o magistério, quase abandonando a odontologia. Empregou-se como professor de História do Brasil, Português e Literatura, alternadamente, no Liceu Piauiense. Sobre essa mudança de vida lembra o Porf.º Arimathéa Tito Filho, ex-presidente da Academia Piauiense de Letras e grande estudioso das cousas de nossa terra:

“E em chegando a Teresina encontrou um ambiente de efervescência de ideias, um ambiente de renovação intelectual, pelo qual foram responsáveis Higino CunhaClodoaldo Freitas, Anísio de Abreu, Abdias Neves. Justamente os bacharéis que vinham modificados no seu espírito e na sua inteligência pela famosa e ainda discutida Escola do Recife, com os seus pontífices maiores: Tobias Barreto e Sílvio Romero. Neste ambiente de pregação naturalista, anticlericalista, ambiente de ateísmo confessado, neste ambiente, Anísio recusaria os instrumentos do odontólogo e aderia a conceitos novos e seguia outros caminhos. Tornou-se professor. Ascendeu à direção do Colégio Estadual, na época Liceu Piauiense. No governo João Luís Ferreira, diretor da Instrução Pública. Mantido por Matias Olímpio, depois reconduzido por Landri Sales e finalmente sustentado por Leônidas Melo”.

Acrescenta o inolvidável mestre, chamando atenção para a reforma do ensino promovida pelo educador Anísio Brito quando diretor da Instrução Pública:

“Quatro vezes no cargo hoje correspondente a Secretário de Educação. Realizou reforma do ensino, abdicou dos métodos de Lancaster adotados na escola primária. Realizou modificações na educação física, contratando técnicos do sul para este mister nas escolas secundárias do Piauí. Inaugurou o gosto do canto orfeônico e só deixou a paixão pelos motivos educacionais quando Leônidas de Castro Melo lhe entregou tarefas que antes já havia exercido, as tarefas de organizar, dirigir, orientar a Biblioteca, o Arquivo e o Museu Histórico do Estado. Três instrumentos culturais que foram paixão permanente do seu espírito. Pena é que os tempos futuros lhe desmanchassem a obra, separando o Arquivo, a Biblioteca e o Museu, como se as três não fossem peças do mesmo processo, o mesmo processo de busca da verdade”.

Portanto, o mestre Arimathéa resumiu a trajetória de Anísio Brito como professor e, também, diretor do Liceu Piauiense em quatro oportunidades; assim como diretor da Instrução Pública nos governos de João Luís Ferreira(1920 – 1924), Matias Olímpio de Melo(1924 – 1928), Landri Sales(1931 – 1935) e Leônidas Melo(1935 – 1945). Não esqueceu de mencionar seu excelente trabalho à frente do Museu, da Biblioteca e do Arquivo Público do Estado, este último hoje denominado, em sua homenagem, “Casa Anísio Brito”. É que muito contribuiu com sua ação para organizar a documentação das diversas repartições públicas do Estado, de forma que hoje o Piauí possui um dos mais completos arquivos do Brasil, embora no momento esta documentação clame por uma digitalização, a fim de ser mais bem preservada e, também, para facilitar a consulta pelos interessados. Portanto, são dois aspectos da vida de Anísio Brito que merecem ser ressaltados: a sua contribuição para o desenvolvimento da educação piauiense e a catalogação e organização da documentação histórica visando preservar nossa memória.

Nessa última perspectiva, Anísio Brito desenvolveu também o gosto pela pesquisa histórica, analisando questões controvertidas e tirando algumas conclusões interessantes. Entre outros assuntos, envidou esforços para elucidar a prioridade no desbravamento do Piauí, se cabia a Domingos Jorge Velho ou Domingos Afonso Sertão? assunto que ainda hoje suscita debates; outro aspecto que ocupou sua atenção foi a fixação da data mais relevante para se comemorar a adesão do Piauí à independência do Brasil; um terceiro aspecto que prendeu sua atenção, foi revisar a visão historiográfica sobre os Balaios, até  então vistos como criminosos, demonstrando que os mesmos foram vítimas de  ações nefastas do governo; por fim, também destacou a figura do Visconde da Parnaíba, que tantos serviços prestou à pátria e vinha sendo injustiçado pelos historiadores de antanho.

Arimathéa Tito Filho, no papel de presidente da Academia Piauiense de Letras, fazendo-lhe o panegírico por ocasião do centenário de seu nascimento, lembrou ser ele um historiador científico, revisor de nossa história, servindo de luz, de farol aos outros que lhe sucederam.

É bem verdade que ele foi inovador, porém produziu pouco, apenas pequenos estudos sobre questões pontuais. Talvez a sua atividade de educador não tenha permitido maior tempo para a pesquisa histórica, à qual tinha competência e poderia ter produzido uma grande obra. Ainda assim sua contribuição é notável e merece ser reunida para o conhecimento da posteridade. Foi por essa razão que incluímos na coletânea Obra reunida alguns de seus estudos, aqueles que no momento foram possível localizar, a fim de integrar a Coleção Centenário, comemorativa dos primeiros cem anos de nossa Academia Piauiense de Letras.

Na referida Coleção incluímos cinco trabalhos de Anísio Brito, a saber: Piracuruca: história, um interessante e completo estudo sobre sua terra, que fora publicado no livro O Piauhy no centenário de sua Independência: 1823 – 1923 (Teresina: 1923); constitui-se num estudo aprofundado que diferencia-se dos de outras localidades, escritos por outros autores, geralmente cópias de Notícias das comarcas do Piauhy, de Pereira da Costa.

O segundo trabalho reunido na indicada coletânea é Do ensino primário: seu histórico, desenvolvimento, métodos adaptados e estado atual (In: A Instrução Pública no Piauhy. Teresina: 1922), onde traça um painel da educação pública piauiense.

Em seguida, incluímos três ensaios inovadores sobre questões polêmicas de nossa historiografia: A quem pertence a prioridade histórica do descobrimento do Piauí?, Adesão do Piauí – Confederação do Equador e, por fim, Contribuição do Piauí na Guerra do Paraguai. O mérito de Anísio Brito foi aprofundar com método científico questões pontuais de nossa história, trazendo novas conclusões e, assim, alargando as possibilidades.

Além destas ainda consta em sua bibliografia outros pequenos ensaios, a saber: A Independência no Piauí, Os Balaios no Piauí, Ligeiras notícias sobre o ensino no Piauí e A reforma atual e o ensino público. Também, colaborou com verbetes para o Dicionário Histórico, Geográfico e Etimológico Brasileiro(Rio de Janeiro, 1922).

Em face dessa laboriosa atividade intelectual tornou-se sócio-fundador e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí(IHGPI), assim como patrono da Cadeira n.º 34 da Academia Piauiense de Letras, cujo primeiro ocupante foi o historiador Odilon Nunes. Ainda, sócio-correspondente do Instituto do Ceará e dos Institutos Históricos da Bahia, Pará e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).

Foi, também, eleito membro do Conselho Municipal de Teresina, cargo hoje correspondente ao de vereador da Capital e sócio da Sociedade Auxiliadora da Instrução, entidade civil que prestava assessoria ao governador João Luís Ferreira, na área de educação e reforma do ensino, então presidida pelo intelectual Mathias Olímpio, futuro governador do Piauí.

Faleceu na cidade de Teresina, em 17 de abril de 1946, com pouco mais de 59 anos de idade. Por suas múltiplas atividades, inscreve seu nome na galeria dos grandes piauienses e sua obra fica como testemunho imperecível de seu trabalho em prol da memória de nossa gente.

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 * REGINALDO MIRANDA, autor de diversos livros e artigos, é membro efetivo da Academia Piauiense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí e do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-PI. Atual presidente da Associação de Advogados Previdenciaristas do Piauí Contato: [email protected]