ANIMAL HUMANO
Por Antônio Francisco Sousa Em: 03/11/2014, às 13H30
E ainda dizem que somos seres inteligentes; mais que isso: racionais. Agimos por instinto, às vezes, mas, mesmo assim, ações baseadas nele, não raro, devem ser consideradas voluntárias, pois, à exceção dos eventos causados por situações irracionais, de fato - movidos por surtos esquizofrênicos, sob efeito de alucinógenos, entorpecentes incapacitantes -, nas demais oportunidades, somos donos da própria razão; logo, se fazemos algo obedecendo às nossas intuições, é porque isso nos parece interessante ou excitante. Ou seja, por mais que o instinto seja um impulso alheio à razão, se estamos de posse da nossa, temos sempre duas alternativas: segui-lo ou não.
Que tipo de inteligência é a desse animal humano, sabidamente, não louco, que se diz viciado em matar; porém, no seu dia a dia, exerce atividades inerentes a qualquer cidadão, trabalho, lazer, tem vida social ativa; enfim, atitudes que requerem discernimento racional? Não seria ele um criminoso comum, já que age e reage em aparente estado de normalidade; dá vazão a seus instintos assassinos e, uma vez consumados os atos criminosos, não demonstra arrependimento, tampouco, vontade ou determinação para lutar contra essa estranha “dependência”?
Mata por matar, para aplacar a sanha animalesca, brutal e estúpida, a que chama de vício; e se refestela depois de cada morte, como se nada houvesse acontecido, até que ocorra o próximo surto e um novo círculo recomece.
A propósito de esse assunto, um dileto amigo, diante de minha, quase sempre, boa intenção em entender, quando não, perdoar, ações individuais executadas por seres humanos, à revelia ou em discordância com o que a mais tosca e incipiente razão toma ou aceita por plausível, costuma dizer, não concordando com as premissas a respeito dos atos perpetrados pelos que chamo de “doentes” ou “coitadinhos”: uma ova! Doente mental é o raio que o parta! Cafajestagem, enfim, patifaria. Livre arbítrio, não raro é de que servem esses elementos para realizar atos que pessoas, verdadeiramente doentes, não fariam, pois, tão somente no melhor estágio de sua saúde normal, é que seriam capazes de engendrá-los. Posam de loucos, invariavelmente, porque, quando sãos, cometem barbaridades indesculpáveis ou inqualificáveis. Animais irracionais, no cio, ou na luta pela sobrevivência, batalham por uma conjunção sexual com o que poderia ser o parceiro ideal, mas, diante de rechaça contumaz, desistem e buscam um acasalamento mais fácil; na busca por alimentos, costumam não perder tempo com situações que só os façam consumir energia, desnecessariamente.
Às vezes, vou além nessa discussão, diria, filosófica, com meu crítico companheiro. Que dizer, então, de um indivíduo que trabalha e estuda, mas, ainda assim, encontra tempo para executar atos de pedofilia bárbara, servindo-se de lactentes ou crianças sem qualquer possibilidade de discernimento ou defesa contra seus intentos irracionais? Não seria ele um doente? E aquele que tem preferência sexual por cadáveres? Ou o que se excita e compraz com odores putrefatos? Não são indivíduos patologicamente, diferentes dos havidos como normais? Seriam, tão somente, elementos com estranhas predileções, tarados, maníacos, possuidores de desvios morais atípicos, mas não doentes?
Afinal, o que seria doença? Conceitual e, etimologicamente, o termo advém do latim dolentia, padecimento, e designa em medicina e outras ciências da saúde, distúrbio das funções de um órgão, da psique ou do organismo como um todo, que está associado a sinais e sintomas específicos. Pode ser causada por fatores externos, por disfunções ou mau funcionamento interno.
Quer dizer, se a afecção não mutila, nem incapacita fisica, moral ou mentalmente o individuo, não se pode tomá-lo por doente? Então, velho amigo, das duas, uma: ou os tarados, os maníacos, os desviados moralmente são doentes, ou criminosos, se agem e se assemelham àqueles, mas não apresentam quaisquer das sequelas inerentes às doenças deles.
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])