Amigos e parentes
Por Antônio Francisco Sousa Em: 03/12/2007, às 14H40
Quem tem família numerosa e amigos em profusão, espalhados por diversos pontos geográficos, sabe quão difícil é encontrar-nos com freqüência. Não é incomum ficarmos anos sem contato com alguns.
Talvez não aconteça a todos, mas há casos de pessoas amigas, residentes próximas, vizinhas até, com as quais poderíamos cruzar assiduamente, mas que apenas nos procuram (ou nós as procuramos) quando precisam de um obséquio, um favor; de dar-nos ou nos informar sobre acontecimento ou fato nem sempre agradável.
Quem nunca, por exemplo, sendo servidor público, um dirigente “importante” ou um empresário bem sucedido, de repente ou, inesperadamente, se viu instado ou procurado por um “velho amigo”, um “parente”, para quebrar-lhe um galho, apressar um serviço, fazer uma gentileza; enfim, resolver um problema qualquer? Não raro, possui essa turma a estranha mania de nos demonstrar apreço, visitando-nos ou nos abordando tão-somente quando o cerco aperta, advém-lhe uma necessidade ou um apuro que, acredita, podemos e devemos acudir ou solucionar. No mais das vezes, sequer nos cumprimenta; em tempo de vacas gordas passa muito bem sem nós.
Não é exclusividade apenas dos amigos importantes, no sentido econômico, intelectual, profissional ou social, mostrarem-se mais afeitos a serem servidos do que a servir. Essa é uma característica que, infelizmente, acolhe grande parte dos seres humanos de qualquer condição. Somos egoístas, sim. Por mais que tentemos negar, para muitos é mais fácil pedir ou exigir ajuda do que ajudar. Cremos que todo mundo tem mais de um amigo; por isso, acreditamos que um dos nossos que esteja necessitando de nós com bastante urgência não ficará sem auxílio se nos encontramos realizando uma tarefa impostergável: certamente, alguém que estiver mais perto dele o atenderá.
Há, ainda, os amigos espertos: os que, como se estivessem fazendo uma confissão, uma expiação religiosa, contam-nos seus problemas assim que eles acontecem. Esses, geralmente, sabem que, mesmo nos alertando de que para eles basta ouvirmos seu desabafo, preocupados como somos, involuntariamente, assumiremos suas dificuldades como se nossas, de fato, fossem.
Muitas vezes saímos da condição de amigos secundários, coadjuvantes, para a de salvadores da pátria ou de ex-amigos. Existem aqueles que somente nos procuram após lhes terem sido negados, por seus melhores amigos, todos os pleitos, ou depois que viram cair por terra as esperanças depositadas naqueles que julgavam capazes de facilitar-lhes as coisas, abrir-lhes as portas. Por chegarem a nós já desesperados, não mais aceitam negativas. Se os atendemos, ótimo: fizemos nossa obrigação; se não, irritam-se, ignorando-nos ou alegando que era aquilo mesmo que estavam prevendo. Verdade se diga: essa raça não é de guardar mágoa ou ressentimento por muito tempo. Logo, logo está a bater nas portas que lhe foram fechadas, bem como nas de quem não a pôde ajudar, anteriormente.
Dizem que uma das diferenças entre amigo é parente e que, a este, não escolhemos. Não concordamos: a maioria dos nossos amigos foram dádivas escolhidas pelo próprio Criador para nos presentear.
Certo é que, felizmente, tanto os verdadeiros amigos quanto os parentes maravilhosos, não são espécies em extinção: todos nós temos vários exemplares deles em nossas vidas.