Rogel Samuel
Quando Alda Merini faleceu, em 2 de novembro de 2009, Amelia Pais, já falecida, enviou no seu "A companhia dos poetas", que era diário, o poema abaixo, poema profético, anuncia a morte, revela a paz que há na morte de quem sofre, a morte que sobe pelos tornozelos até o trovão da cabeça dessa poetisa forte, o corpo todo vencido e a unidade em repouso nos declives do destino, paz na hora da morte, paz que antecede a "infame aurora" de quem não quer mais viver, paz suave mas suicida, do fim do inferno em vida.
Cessou finalmente este inferno,
já de há muito tempo, agora a primavera:
a índole justa
do sono sobe-me pelos tornozelos
atinge-me a cabeça como um trovão.
Finalmente a paz,
as minhas ancas e a minha mente vencida,
e eu repouso justa nos declives
do meu destino pelos menos nesta hora
que me separa da infame aurora.
Alda Merini, italiana, falecida 2 de novembro.
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A notícia:
Morreu poetisa italiana Alda Merini
A poetisa Alda Merini, de 78 anos, considerada a última grande expoente deste género em Itália, faleceu no domingo no hospital São Paulo de Milão após prolongada doença, informaram os "media" italianos.
Merini dedica a sua obra aos excluídos, aos que sofrem e, sobretudo, à loucura. Ela própria esteve internada algum tempo num centro para doentes mentais.
Segundo a própria, existem «dois tempos» na sua poesia. «Um, o primeiro - precisa -, o tempo da minha adolescência, que surpreendeu alguns leitores pelos voos do verso, pelas assonâncias, pelo relevo dos mitos, e o segundo tempo, que se seguiu ao internamento».
Merini era considerada a maior poetisa italiana viva e uma das grandes escritoras do século XX em Itália.
Nascida em Milão em 1931, começou a publicar poesia aos 15 anos e o seu primeiro livro, "La presenza di Orfeo" (1953), obteve o aplauso da crítica, que a acolheu como "uma menina prodígio".
Ao livro de estreia seguiram-se "Paura di Dio" (1955), "Nozze romane" (1955) e "Tu sei Pietro. Anno 1961" (1962).
Depois, e durante cerca de 20 anos, a poetisa não publicou, só voltando ao contacto com os leitores em 1980 com "Destinati a morire. Poesie vecchie e nuove".
A sua vida e a sua obra estão marcadas pela alternância entre a loucura e a lucidez, como ficou patente na que é considerada a sua obra mais importante, "A Terra Santa" (1984), já traduzida em Portugal (Livros Cotovia), com a qual ganhou vários prémios.
"Delirio amoroso" (1989), "Il tormento delle figure", "Vuoto d'amore" (1991), "Ipotenusa d'amore" (1992), "La pazza della porta accanto" (1995), "Folle, folle, folle d'amore per te" (2002) são outras das suas obras.
Entretanto, em finais dos anos 80, Merini encetara a escrita de livros em prosa centrados na sua experiência pessoal, com destaque para "L'altra verità. Diario di una diversa" (1986), "Il tormento delle figure" (1990), "Le parole di Alda Merini" (1991), "La vita facile. Sillabario"(1996) e "Lettere a un racconto. Prose lunghe e brevi" (1998).
Em 1996, Alda Merini tinha sido indigitada para o Prémio Nobel da Literatura, uma candidatura apoiada, sobretudo, pelo escritor italiano Dario Fo (Nobel em 1997).
"Era uma extraordinária figura poética, entre as maiores de Itália. Por isso participei activamente na sua candidatura ao Nobel", declarou Fo.
Quando Alda Merini faleceu, em 2 de novembro de 2009, Amelia Pais, já falecida, enviou no seu "A companhia dos poetas", que era diário, o poema abaixo, poema profético, anuncia a morte, revela a paz que há na morte de quem sofre, a morte que sobe pelos tornozelos até o trovão da cabeça dessa poetisa forte, o corpo todo vencido e a unidade em repouso nos declives do destino, paz na hora da morte, paz que antecede a "infame aurora" de quem não quer mais viver, paz suave mas suicida, do fim do inferno em vida.
Cessou finalmente este inferno,
já de há muito tempo, agora a primavera:
a índole justa
do sono sobe-me pelos tornozelos
atinge-me a cabeça como um trovão.
Finalmente a paz,
as minhas ancas e a minha mente vencida,
e eu repouso justa nos declives
do meu destino pelos menos nesta hora
que me separa da infame aurora.
Alda Merini, italiana, falecida 2 de novembro.
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A notícia:
Morreu poetisa italiana Alda Merini
A poetisa Alda Merini, de 78 anos, considerada a última grande expoente deste género em Itália, faleceu no domingo no hospital São Paulo de Milão após prolongada doença, informaram os "media" italianos.
Merini dedica a sua obra aos excluídos, aos que sofrem e, sobretudo, à loucura. Ela própria esteve internada algum tempo num centro para doentes mentais.
Segundo a própria, existem «dois tempos» na sua poesia. «Um, o primeiro - precisa -, o tempo da minha adolescência, que surpreendeu alguns leitores pelos voos do verso, pelas assonâncias, pelo relevo dos mitos, e o segundo tempo, que se seguiu ao internamento».
Merini era considerada a maior poetisa italiana viva e uma das grandes escritoras do século XX em Itália.
Nascida em Milão em 1931, começou a publicar poesia aos 15 anos e o seu primeiro livro, "La presenza di Orfeo" (1953), obteve o aplauso da crítica, que a acolheu como "uma menina prodígio".
Ao livro de estreia seguiram-se "Paura di Dio" (1955), "Nozze romane" (1955) e "Tu sei Pietro. Anno 1961" (1962).
Depois, e durante cerca de 20 anos, a poetisa não publicou, só voltando ao contacto com os leitores em 1980 com "Destinati a morire. Poesie vecchie e nuove".
A sua vida e a sua obra estão marcadas pela alternância entre a loucura e a lucidez, como ficou patente na que é considerada a sua obra mais importante, "A Terra Santa" (1984), já traduzida em Portugal (Livros Cotovia), com a qual ganhou vários prémios.
"Delirio amoroso" (1989), "Il tormento delle figure", "Vuoto d'amore" (1991), "Ipotenusa d'amore" (1992), "La pazza della porta accanto" (1995), "Folle, folle, folle d'amore per te" (2002) são outras das suas obras.
Entretanto, em finais dos anos 80, Merini encetara a escrita de livros em prosa centrados na sua experiência pessoal, com destaque para "L'altra verità. Diario di una diversa" (1986), "Il tormento delle figure" (1990), "Le parole di Alda Merini" (1991), "La vita facile. Sillabario"(1996) e "Lettere a un racconto. Prose lunghe e brevi" (1998).
Em 1996, Alda Merini tinha sido indigitada para o Prémio Nobel da Literatura, uma candidatura apoiada, sobretudo, pelo escritor italiano Dario Fo (Nobel em 1997).
"Era uma extraordinária figura poética, entre as maiores de Itália. Por isso participei activamente na sua candidatura ao Nobel", declarou Fo.