Adailton Medeiros

 

 

 

ADAILTON MEDEIROS

Rogel Samuel

Eu soube da morte de Adailton Medeiros dias depois pela Internet, na coluna de Cunha e Silva. Fui à sua missa de 30º dia. No magnífico Mosteiro de São Bento, onde suas cinzas estão depósitadas. Uma glória post-mortem. Espírito introvertido, homem tímido, grande poeta, excelente amigo, grande conversador. Eu conhecia há décadas. Desde o início da década de 70. Ele nasceu em Caxias do  Maranhão, em 1930 e estudou jornalismo, fez mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde fui seu colega.

Para ver como ele era, cito o seu:

AUTO-RETRATO

 

Diante do espelho grande do tempo

sinto asco

tenho ódio

descubro que não sou mais menino

Aos 50 anos (hoje — 16 / 7 / 88 (câncer) sábado — e sempre

com medo olhando para trás e para os lados)

questiono-me (lagarto sem rabo):

— como deve ser bom

nascer crescer envelhecer e morrer

 

Diante do espelho grande na porta

(o nascido no jirau: meu nobre catre) choro-me:

feto asno velhote pétreo ser incomunicável

sem qualquer detalhe que eu goste

(Um espermatozóide feio e raquítico)

 

Como nas cartas do tarô onde me leio

— eis-me aqui espelho grande quebrado ao meio