A ameaça nos ronda. É falta de poesia. Eu vinha pela Tiradentes, passo
pela Rua Luiz de Camões, esquecida. Depois, a Travessa das Belas Artes.
Lá, só poucas mulheres ("da vida"), decadentes. Esperam fregueses, à luz
do dia. A seguir, o Beco do Tesouro. Nada mais pobre. "Proibidos beijos
ousados", está escrito no cardápio da Adega Flor de Coimbra. Em sonhos,
no meio do conflito. Estresse de notícias. Estamos assistindo ao fim da
Internet, como espaço livre de opinião, sem limites. A censura vai
acabar com a webcultura. Marca o fim da vida e arte virtual. Nasce a
desconfiança, a incerteza. Vamos nos entocar nos redutos, voltar à
civilização do papel, um estágio anterior ao micro: Fim do digital
público (melhor para mim, pois só assim paro de escrever essas crônicas
e me dedico a terminar, antes de morrer, os livros que tenho na gaveta).
Restritos são "os beijos ardentes". Lembro-me de um soneto de Olegário
Mariano, que não está nas suas "Obras Completas" e que começa: "As
coisas boas da vida, tu podes ter sem comprar".