[Flávio Bittencourt]

A Velhinha Inteligente

Simone Chamound sabe recontar uma estória. 

 

 

 

 

 

 

 

Haikai do Dia

Conto popular:

Velhinha inteligente,

jantar garantido.

(Flávio Bittencourt,

hoje)           

 

 

 

 

 

           

 

 

 

 

 

 

 

 


21.9.2012 - Simone Chamound sabe recontar uma estória - A Velhinha inteligente é recontada por Simone Chamound.   F. A. L. Bittencourt ([email protected])

 

  

 

 

A velhinha inteligente

 

                Há muitos anos, houve um grande cerco à cidade de Carcassona e os habitantes nada tinham para comer. A fome e as moléstias tinham matado tanta gente, que aqueles que ainda viviam estavam desesperados. Certo dia, o prefeito da cidade reuniu o povo numa praça para falar- lhes.

            ­― Meus amigos ­― disse ele ­― temos que nos entregar ao inimigo. Nossas provisões acabaram.

            ­― Não, não! ­― gritou uma velhinha pobre e esfarrapada. Não desanime. Estou certa de que o inimigo em breve nos deixará. Se fizer o que vou lhe dizer, garanto que a cidade estará salva.

            O prefeito resolveu ouvi-la e a velhinha disse:

            ­― Antes de tudo, dê-me uma vaca.

            ­― Uma vaca! ­― exclamou o prefeito. ­― Não há vaca nenhuma na cidade, já foram todas comidas.

            A velha insistiu. Era preciso que procurassem uma vaca, de qualquer maneira. Afinal, encontraram uma na cabana de um velho avarento. Ele havia escondido o animal para vendê-lo, depois, por muito dinheiro, mas os soldados a levaram, a despeito de suas lamúrias.

            ­― Agora ­― ordenou a velhinha ­― dê-me um caldeirão cheio de comida.

            O prefeito protestou:

            ­― Não há comida na cidade.

            A velha insistiu, afirmando que, sem um caldeirão cheio de comida, nada poderia fazer. Então, os soldados novamente foram de casa em casa, apanhando as migalhas que encontravam, até que conseguiram encher um caldeirão. Entregaram-no à velha que, depois de juntar-lhe um pouco de água, para tornar o alimento mais pesado, deu-o à vaca.

            O prefeito declarou que era absurdo dar boa comida a um animal, quando mulheres e crianças estavam famintas, mas a velha sacudiu a cabeça e sorriu sagazmente.

            Quando a vaca acabou de comer, a velhinha conduziu-a aos portões da cidade e ordenou à sentinela:

            ­― Abra o portão.

            Assim que o portão se abriu, ela empurrou a vaca para fora. Os soldados inimigos, assim que ouviram o ranger do portão, vieram correndo. Grande foi sua alegria quando viram a vaca. Sem perda de tempo, conduziram-na ao acampamento.

            ­― Onde acharam esta vaca? ­― perguntou o chefe inimigo.

           ­― Exatamente do lado de cá do portão. Com certeza, deixaram-na lá para pastar ­― responderam os soldados.

            ­― Oh! ­― exclamou o chefe. ­― Pensei que eles estivessem famintos, mas enganei-me, porque, se assim fosse, teriam comido esta vaca, apesar de ela não estar nada gorda.

            ­― Sim, eles devem ter mais provisões do que pensávamos ­― responderam os soldados.

            ­― Há muito tempo que não comemos carne fresca ­― queixaram-se eles.

            ­― Bem, matem a vaca e teremos bifes para o jantar ­― ordenou o chefe.

            Depois de morto o animal, quando o abriram, encontraram com grande espanto, em seu estômago, cereais. Quando o chefe soube disso, exclamou:

            ­― Se o povo desta cidade ainda tem tanto alimento para os seus animais, não será tão cedo que se renderá! Provavelmente passaremos fome antes dele!

            Reuniu, então, os soldados e naquela mesma noite deixaram o acampamento.    

            Foi assim que a cidade ficou livre, novamente. O povo carregou a velhinha em triunfo pela cidade e deu-lhe dinheiro para viver com conforto o resto da vida.

 

Retirado do livro Mundo da Criança, Ed. Delta, Vol. 3, Simone Chamound.

Adaptado para fins didáticos)

 

(TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO:

VERA BRAGA NUNES)