[Maria do Rosário Pedreira]

Um dia destes estávamos a conversar à mesa sobre tudo aquilo que o Manel, a minha sogra e eu aprendemos na instrução primária (para quem não sabe, eram os primeiros quatro anos da Escola Básica) e a comparar toda essa informação com o pouco que hoje a escola ensina às crianças no mesmo período. Falámos das estações de comboio que era preciso decorar nas principais linhas do País e do número exagerado de reis, cognomes, distritos, concelhos, serras e rios que tinham de estar na ponta da língua de qualquer aluno que se prezasse. Foi então que me lembrei de que, na quarta classe, fui chamada ao quadro para debitar junto de um mapa as produções agrícolas de Goa, Damão e Diu (territórios sobre os quais já nem imperávamos) – e, juro-vos, eu sabia aquilo tudo de cor, mais os rios de Angola e Moçambique e seus afluentes, se alguém na altura mo perguntasse (e ainda sei alguns). Embora seja adepta de muitas das técnicas de aprendizagem tradicionais (como, por exemplo, a memorização), a verdade é que, enquanto recordava essa cena, me apercebi de que era realmente um pouco excessivo para uma criança de nove anos conhecer em detalhe tanta coisa de que, provavelmente, nem ia fazer uso; mas, quando o estava a verbalizar, o Manel disse-me que ainda mais ridículo era as crianças de Angola e Moçambique terem de saber de cor as estações do caminho-de-ferro em Portugal, uma vez que estudavam pelos mesmos manuais escolares que as portuguesas. Enfim, a velha educação tinha destas coisas...