A uma poetisa
Vi vossa flores, Senhora
Bem que incultas lhe chamais,
Têm fragrâncias tão suaves,
 
Que não vi noutras iguais;
São incultas, são singelas,
Mas são viçosas, são belas!
 
Do que serve a flor mimosa
Em uma estufa metida,
E somente a força d'arte
Ir mantendo a fràgil Vida;
Sem que possa a natureza
Dar-lhe odor, dar-lhe beleza?
 
Se a natureza, Senhora,
Nao socorre ao jardineiro,
Por mais perito que seja
As flores não trazem cheiro:
Essa fragrância, esse odor,
vem do Céu, vem do Senhor!
 
Vós, porém, do Céu tivestes
o dom sublime, Senhora,
de dar às flores perfumes,
como se fosses a Aurora!
muito pode a vossa Lyra,
Que só do belo se inspira!
 
Se, qual vós, eu possuísse
Esse dom tão precioso,
Não chorara em desconforte,
Nem vivera pesaroso:
Forão-me os dias risonhos,
Quais gratos, dourados sonhos!
 
Passara noites e dias
Produzindo lindas flores,
Dando cor vistosa as pétals,
Difundindo-lhes odores:
Eu vivera embevecido
Ter de mim próprio esquecido!
 
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As flores da poesia
São d'essências sublimadas.
E da mais perfeita origem:
São sempre por Deus fadadas:
Guardais, pois, as vossas flores,
De perfumes sedutores.....
 
A Ilma. e Exma. Sra. D. Luiz Amélia Queirós Nunes, oferece esse pequeno e insignificantes ramalhete de seu agreste jardim, não para que com ele orne sua elevada fronte de Poetisa, como coisa digna de seu súbido merecimento, mas como uma pequenina prova do muito que lhe admira e respeita o Poeta Caçador.
Parnayba, 15 de outubro de 1873
 
http://memoria.bn.br/DOCREADER/DOCREADER.ASPX?BIB=816094
 
O Papyro - periódico puramente literário
Teresina, 23 de maio de 1874, número 1.
 
Na foto, a lendária Fazenda Olho D"água dos Pires, onde viveu a infância o poeta Teodoro Castello Branco, o poeta caçador, autor destes versos.
 
Conheça mais sobre a lendária Olho D"água dos Pires