A safra está acabando
Por Cunha e Silva Filho Em: 01/10/2010, às 18H00
Cunha e Silva Filho
Para aqueles adolescentes do meu tempo que, pelo menos, em Teresina, no Piauí, (e acredito que em outros lugares do país, ou mesmo em outros países) costumavam ir ao Rex ou ao Theatro 4 de Setembro, na Praça Pedro II - o locus amoenus das lindas meninas que lá frequentavam -, ou dela eram habitués, para dar-se uma tonalidade nostálgica a essa escrita, em seus círculos de mãos dadas sob o olhar atento e conquistador daqueles rapazotes, os filmes americanos, sobretudo, de aventuras, de caubóis, na linguagem da época, chamados por aqueles jovens de “soldado contra índios, históricos ou românticos, então denominados “filmes de amor”, eram a rotina do entretenimento maior aos sábados e domingos.
Durante os dias de trabalho, pais ou filhos davam uma espiada nos cartazes anunciando os próximos filmes a serem exibidos nas manhãs, matinês ou à noite.Oh, como se amava ir ao cinema naquela época! É claro que havia filmes brasileiros, as chanchadas de Oscarito e Grande Otelo, os filmes com Zé Trindade, os de amor com Cil Farney e sua parceira Eliana e, na Páscoa, a velha fita, sempre repetida por muito tempo, da Paixão de Cristo, com aquela velha imagem tremendo e gasta. Não se podia também esquecer os filmes de Superman, do “Gordo e o Magro”, de Bud Abbot e Lo Costello, de Tarzan (sobretudo com John Weismüller,Lex Barker, Gordon Scott) os filmes mexicanos com Arturo de Córdova, os franceses, com Alain Delon, Brigitte Bardot, os italianos, com Gina Lollobrigida, Sofia Loren, Amedeo Nazzari, Marcello Mastroniani, os filmes da lindíssima austríaca Romy Scnheider, o magnífico filme de Fellini, “A dolce Vita”.
Isso para não se falar dos grandes ídolos de Hollywood, os galãs da nossa época e da época de nosso pais. Eram tantos e hoje inesquecíveis: Gary Cooper, Clark Gable, John Wayne, Alan Ladd, Tyrone Power, Burt Lancaster, Kirk Douglas, Jeffrey Hunter, Victor Mature, William Holden, Marlon Brando, James Dean, Paul Newman, Rock Hudson, Robert Taylor - paixão de mamãe -, sobretudo do filme “A ponte de Waterloo com a belíssima Vivian Leigh, Não vou enumerá-los todos nem me alongar com os nomes inesquecíveis de lindas atrizes americanas e de outras procedências.
Vou-me deter num que faleceu anteontem, Tony Curtis, nome artístico de Bernard Schwartz, considerado pelas minhas amigas mais velhas de então como o mais belo de todos, verdadeiro Apolo para o olhos suspirosos daquelas jovens. Com os seus belos olhos azuis, seu rosto bem definido, sua elegante cabeleira negra e sedosa, seu corpo esguio, seu olhar brincalhão, Curtis conquistou milhares de corações femininos. Nenhuma jovem, bela ou menos bela, faltava a um filme com Tony Curtis.
Os jovens, em casa, até procuravam, inclusive eu, imitar o corte do cabelo do galã, nascido em New York a 3 de junho de 1925, filho de pais húngaros, imigrantes pobres que foram se instalar no bairro do Bronx. Naquele tempo, quem imaginaria ver, tantos anos depois, o belo Curtis velho e em cadeira de rodas? Pois Tony Curtis, arrebatador de tantos corações no mundo, envelheceu. O tempo é implacável. A velhice chega, muda a fisionomia, despoja a beleza, a pele fina , a rigidez, os movimentos rápidos e harmoniosos daquele que fez num de seus mais de cem filmes o papel de um trapezista cheio de encanto e sedução.
Curtis, segundo dados de sua vida, casou seis vezes, era namorador, tipo playboy, meteu-se em apuros com drogas e álcool. Uma vida cheia de emoções e aventuras amorosas – esse é o tributo que todo grande galã por vezes paga ao seu destino.
Por duas vezes, fora indicado para um Óscar pelo seu desempenho no filme “Quanto mais quente melhor”, com a artificialmente louríssima e sedutora Marilyn Monroe e pelo filme “Acorrentados” (1958). Ao deixar de interpretar, dedicou-se com êxito à pintura, que lhe rendeu boas somas em dólares e exposições de quadros no Metropolitan Museum of Art, de Nova York.
Sua primeira esposa foi a bonita Janet Leigh. A última era-lhe mais nova uns quarenta anos.
Curtis, segundo vi pela TV, numa última entrevista desejava uma coisa: que nunca fosse esquecido. Não o foi, pelo menos para mim e seguramente pra outros brasileiros e estrangeiros. Este supergalã, entretanto, confessou ter um pequeno complexo. Quando alguém numa entrevista, falando-lhe dos dotes físicos com que a natureza o prodigalizara, lhe perguntara sobre o que pensava de sua aparência, declarou, naquele jeito muito seu de olhar de garotão envelhecido, que gostaria de ter mais alguns centímetros de altura. Nem precisava se soubesse que, no mundo inteiro, no seu pleno vigor físico e estético, milhares de fãs dariam a vida para conquistar-lhe o coração.
A sua lembrança ficará para sempre guardada através de muitos de seus filmes, como “Houdin” (1953, “Trapézio (1956), “Spartacus” (1960) e outros, não tão famosos mas que me deixaram saudades. De dois me lembro apenas que interpretava o papel de um piloto, de outro, se não me engano, era um cavaleiro medieval. O seu desejo de ser lembrado se cumpriu.