À RÚSSIA, COM NATALYA ESTEMIROVA, A VINGAR UM POEMA
Por Luiz Filho de Oliveira Em: 09/03/2012, às 08H33
Por Luiz Filho de Oliveira
Como, por estes dias, o primeiro-ministro Vladmir Putin está ao vivo (não, aos mortos!) às telas do planeta, a mostrar-se um Vlad verdadeiro, a vampirear o Estado russo, sem dar chance à vítima (o povo de lá); então, me-lembrei desse nosso Brasilzão, em que isso ainda é possível, onde nada ainda não pode deixar de acontecer, inclusive, tudo, Lázaro. Poisbem, me-lembrei de como o Brasil já diminuiu os seus crimes políticos (leia que eu estou falando de mortes; não, de falcatruas!), mesmo havendo ainda centenas de casos país afora, nas quebradas em que só as câmeras (disseminadas à moda chinesa, baratas, feitas por trabalhadores baratos, meio Gregor Samsa) podem pegar a cena gravada, ou em que as telas expressam textos sacados contra as ditadurazinhas em países, estados, cidades de tradição nesses delitos. A Rússia ainda acusa esses procedimentos dopsianos. E lá, naquele frio capitalista (quem não possui grana o gelo não considera, congela; por isso, zil vezes a democrática nudez do calor!), me-lembrei, por fim, por causa do fim que teve, de Natalya Estemirova. Por que me-lembrei dessa ativista russa?
Poissim, para escrever isto certamente. Mastambém, porque a Natalya eu havia-lhe composto um “poema de ocasião” (deixa disso, Carlos!), publicado em meu livro, Onde Humano, de 2009, e, por querer, nesta página, ressuscitá-lo, já que não se pode fazer o mesmo com essa defensora de direitos humanos de humanos direitos ou tortos (nesse caso, os inimigos aproveitam pra jogar a opinião pública contra os ativistas políticos). Eu, segundo senti, sei por que quero homenageá-la: o seu assassínio me-comoveu. Assassinos natos (disfarçados, sem fardas; que farsa!), no Cáucaso Setentrional, na Chechênia ou na Tchetchênia, que importa? Regiões vizinhas de conflitos armados. Lei do Cão. Rússia, Chechênia, Daguestão, Inguchétia, Cabardino-Balcária e Ossétia do Norte. Federação Russa.
Rua; era noite (escura?). Cena de sequestro sujo: milicos disfarçados jogaram-na num carro. Grita Natália que eles a sequestravam. Quem ouve? Quem fez alguma coisa, luta contra? O povo das ruas? O Parlamento Europeu, a Amnesty International, a ONG russa de direitos humanos Memorial em Grozny, a agência de notícias russa Itar-TASS? Ou o "blogueiro anticorrupção" Alexei Navalny; o dirigente da Frente de Esquerda, Serguei Udaltsov; o dirigente do movimento de oposição Solidarnost, Ilia Iachin; Islam Umarpachaev, de Grozny; Serguei Udaltsov? Todos, seu tanto de atos e palavras. Aqui, de casa, no Primavera, eu não fiz quase nada; escrevi o poema. Coisa do humano contra a canalha. Réquiem-obrigado a Natalya. De nada. Por ela, mais de mil palavras e imagens de maus-tratos, de violência contra civis, de política que policia a polícia. Milicos, como na nossa ditaduresca de AIs tantos, dão sumiço aos que incomodam (incomodavam?).
À época, técnicas de teatro que não têm nada a ver com a fidelidade de Stanislavski (o único cogitado, aqui, é o advogado Stanislav Markelov, morto em mais uma cena de emboscada ou a jornalista Anna Politikovskaia, também feita “boca calada”). Outra tomada para as câmeras internacionais – Dmitry Medvedev: O trabalho de Estemirova era importante; prometo a prisão do assassino, será encontrado a todo custo. Os todos ativistas russos de direitos humanos sabendo: Isso é muito difícil; ainda mais, estando Putin por trás (e, hoje, 2012, com a chegada dele novamente à presidência, aí, tchau!).
Há algo de corrupto, violento e intransigente no governo da Rússia. Ocorre como o já escrito antes: É a cara da ditadura brasileira dos sessenta e quatro homens de farda. Tudo bem, hoje, o país chegou a um nível diplomático mais suportável, no qual pessoas que atuam como Estemirova não são tão incômodos para o governo brasileiro a ponto de se ordenar que sejam mortas, não. Aqui, são mortos defensores de florestas (sejam seringueiros, sejam sindicalistas, sejam freiras), laranjas, testas de ferro, testemunhas-chave de cadeia, mais alguns etcéteras. Ainda há muita sujeira a atapetar os salões desses governos brasileiros. Regra geral: Legislativo e executivo mandam executar mais; o Judiciário é executado dentro da Lei da Selva. Há crimes; não, castigos, Fiódor. Eles não agirão como o-fez o estudante Rodion em seu romance, não. Eles querem é mais mortes.
Que é isso, mano? Filma aí, vai! Grava! Tira a foto! Posta! Aposto que muitos irão acessar. Acesso de raiva. Tudo bem (na verdade, malzão!), não sei se é vantagem tantos crimes, no Brasil, serem denunciados, e comprovada a culpa, e nada de punição exemplar. É, haverá de haver muita morte ainda para que se-tenha a Justiça com as próprias ações julgadas honestamente. É, minha cara Natalya, é Rule without Law: Human rights violations in the North Caucasus (http://www.amnesty.org/en/news-and-updates/report/accountability-human-rights-violations-key-normalization-north-caucasus-20090701). Porque você foi forte, reconhecida com o Right Livelihood Award, do Parlamento Sueco, o “Prêmio Nobel da Paz Alternativo”, não haverá paz entre nós, pois não descansaremos até que se-atinjam direitos que não sejam fingidos, sejam humanos de justiça! Comissão da Verdade também na Rússia para desenterrar os crimes dos milicos.
Pra clarear as ideias, aqui vai a minha tocha (alumia, meu lume!), como o refrão de Tosh em sua reggae music, este poema, que insiste em se-mostrar ao mundo uma vitória contra a morte. Canta, canto:
crimes sem castigo?!
encontrou-se Estemirova
a indefesa ativista russa
em defesa dos direitos humanos
na mira das armas duma canalha
esses humanos tortos deixaram na
estrada seu corpo cravado à bala:
a cabeça e o peito dela (Natalya)
foram calados mas eles não se-calam
a denúncia de execuções arbitrárias
sempre as autoridades desagradava e
vai desagradar semelhante a Politkovskaïa
sua amiga também Anna jornalista assassinada
como o-foi Markelov da mesma forma marcado
Stanislav prometido o fígado à morte no Cáucaso (teatro?)
todos sabem: os autores desses crimes não vêm da fábula
eles vestem o figurino dito personagem: a farda de
políticos atentados à vida contrários à humanidade com
os ataques contra quem quer o bem das pátrias
Natalya (que não mais nos-ouvirá as falas) quem fala
pelo poema atirado duma notícia de jornal nesta página
é um povo: todos nós nos-confessamos horrorizados
com essa sua marcada morte anunciada pela desguarda
pra diplomacia deste planeta uma considerável baixa
pra quem luta pelos direitos de ser o humano respeito
porisso aqui jaz um grito: nós não descansaremos em paz
e ressuscitaremos duma Jamaica negra estas palavras
que ressoam como fogo de Tosh em frase incendiária:
we don’t want no peace: we need human rights and justice
(Em Grozny, a pisar nos calos do Cáucaso tchetcheno.)