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[Maria do Rosário Pedreira]

Está à venda desde ontem em todo o País o esperadíssimo segundo romance de João Ricardo Pedro, autor que foi premiado, aplaudido e traduzido em dez línguas quando publicou O Teu Rosto Será o Último, a sua obra de estreia, e que agora regressa com Um Postal de Detroit, um romance avassalador sobre a fronteira que existe entre sanidade e loucura e os laços perturbadores que unem a vida à arte. Em Setembro de 1985 deu-se um choque frontal de comboios em Alcafache. Algumas das vítimas mortais, presas nas carruagens a arder, nunca chegaram a ser identificadas. Nesta obra, a mãe de Marta recebe um inesperado telefonema informando que a mochila da filha – estudante de Belas-Artes – apareceu entre os destroços. Partindo então dos cadernos de desenho de Marta – uma espécie de diários visuais –, o narrador deste romance tenta recriar os passos da irmã nos tempos que antecederam o acidente. E, enquanto o faz, dá-nos a conhecer um leque de figuras absolutamente inesquecíveis, entre as quais se contam prostitutas, boxeurs, polícias e assassinos, mas também anjinhos de procissão, médicos e senhoras caridosas. E, claro, ele próprio – o mais ausente dos cadernos de Marta. Maravilhoso, é o que posso dizer.