Gabriel Perissé

A literatura é mais filosófica do que a própria filosofia. Produzir e ler romances, contos, poemas... é uma forma de conhecer que envolve todo o nosso ser e não apenas o raciocínio. É uma forma de conhecer intensamente.

Não se trata apenas de conhecimento documental: a vida dos gregos em Homero, em Sófocles; a vida medieval em Chaucer, em Dante, a vida no século XIX brasileiro em Machado, em Alencar...

 
O conhecimento da realidade humana é condição essencial para o fazer literário e resultado prazeroso/doloroso da leitura. A relação entre a vida íntima e as aparências, os anseios humanos proibidos, o sonho iluminando e traindo são temas fundamentais da literatura, entre outros.

 
E aqui está a dimensão terapêutica da literatura. É claro que na literatura não encontraremos aquela sistematização, aquela organização lógica, como, em princípio, se espera de um tratado filosófico, de uma investigação psicológica. Esta fragilidade, no entanto, é a força da literatura.

 
Todas as nossas faculdades serão mobilizadas. Ao pensar literariamente, não pensamos apenas. A razão literária inclui as desrazões nossas. Gregor Samsa e Emma Bovary, Quixote, Macunaíma e Capitu, Ulisses e Pinóquio dramatizam nossas escolhas, concretizam nossos dilemas, causam surpresas, instalam medos, despertam esperanças, matam ilusões, provocam decisões, inspiram atitudes...

 
Podemos beber nas páginas da literatura algo que a ciência, a antropologia e a sociologia não podem nos oferecer. E estas outras instâncias do saber se beneficiam quando se abrem para ouvir o que os escritores e os poetas pensam. Contanto que saibamos como este pensamento é diferente do pensamento "normal"...