A quarta estória de Dona Helena
Por Flávio Bittencourt Em: 13/07/2010, às 16H12
A quarta estória de Dona Helena
O amor de Papai por minha mãe, que dele estava grávida de mim em 1944, era tão grande que, ao correr atrás de um trem, conseguiu alcançá-lo.
Meu pai era goleiro amador de times de Volta Redonda e Barra Mansa
(http://egoldosanta.blogspot.com/2009_10_01_archive.html)
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"(...) Essa estória me foi relatada 27 anos depois, quando eu chegava a esta cidade [São Vicente de Minas] e, ao conhecer casualmente um senhor que presenciou essa cena, ele me relatou esses fatos dos quais, indiretamente, fui motivadora. (...)".
DONA HELENA, quarto relato de uma série de quatro estórias verídicas relatadas especialmente para os leitores do portal Entre-textos
14.7.2010 - A quarta estória de Dona Helena é muito bonita - É uma estória verídica de amor! F. A. L. Bittencourt ([email protected])
Prova de amor
Dona Helena
Corria o ano de 1944, quando, após dois anos de casamento, minha mãe engravidou, o que, possivelmente, deixou ambos - Papai e Mamãe - muito felizes.
Meu pai resolveu, então, levar a minha mãe à sua cidade, para conhecê-la e a parentela.
A viagem teria de ser feita entre Barra Mansa e São Vicente de Minas, de trem, pela Serra da Mantiqueira, muito acidentada e de difícil acesso, na época.
Em dada altura, numa das estações, minha mãe teve vontade de comer um determinado biscoito, justo quando o tempo já expirava. Meu pai hesitou e, por fim, resolveu descer e efetuar a tal compra.
Por haver alguma dificuldade com o troco, houve perda de tempo, gerando um risco grave: de o trem dar saída.
Todos os conhecidos ficaram desesperados - e foi o que aconteceu. De fato, o trem deu partida e acelerou, em seguida.
Meu pai, desesperado, ao completar a compra, disparou a correr atrás do trem, tentando alcançá-lo, só que a competição foi desigual: um ser humano contra uma máquina.
O trem tomou velocidade, exigindo de meu pai, ainda que atleta (ele era goleiro amador de times de Volta Redonda e Barra Mansa), um esforço sobre-humano.
Não sei precisar por quanto tempo se deu essa corrida, mas todos os passageiros se levantavam, aos gritos, torcendo para que o Papai conseguisse alcançá-lo, visto que Mamãe estava só e chegaria à cidade sozinha e sem recursos, o que a angustiaria muito.
Aí, resultado: Papai correu muito, a ponto de romper o pacote de biscoito. Ia caindo, de um em um, a ponto de chegar ao destino sem nada, pois, com muito esforço, logrou alcançar o trem e ser resgatado (o que seria impossível se ele não fosse um atleta). O seu mérito estava em ele competir com o trem serra acima, provando o quanto vale a pessoa estar com um condicionamento físico.
Essa estória me foi relatada 27 anos depois, quando eu chegava a esta cidade [São Vicente de Minas] e, ao conhecer casualmente um senhor que presenciou essa cena, ele me relatou esses fatos dos quais, indiretamente, fui motivadora.
Me comoveu isso, saber que aquele senhor estava ali, naquele momento. Ele estava chegando à cidade e, ao perguntar a que família eu pertencia, concluiu que eu era a pessoa que estava sendo gerada naquela época, pelo casal.
Em 1944,
minha mãe estava grávida de mim.
(http://cidparking.blogspot.com/2010/04/gravidas-tem-vaga-exclusiva-em.html)
O trem iria de Barra Mansa a São Vicente de Minas.
(http://blogs.odiariomaringa.com.br/edsonlima/2009/08/28/maringa-antiga-a-chegada-do-trem/)
Enquanto meu pai comprava biscoitos para minha mãe,
o trem partiu.