A POESIA MINIMALISTA DE DILSON LAGES (ROGEL SAMUEL)
Por Rogel Samuel Em: 04/07/2015, às 12H48
O que chama de poesia zen é a que apresenta o que já é presente, isto é, o que está na nossa frente, diante dos nossos olhos, onde ali é colocado como um “está aí”: “eis-me”, e em poucos versos, poucas palavras:
A mulher de vermelho
molha as flores da passarela
É a poesia mínima, reduzida ao mínimo, no minimalismo característico do pós-moderno, o nosso tempo. Lembro-me de que a poesia partiu dos grandes poemas heróicos, dos grandes textos homéricos, para os romances medievais, os cantos clássicos, as estrofes românticas, os pequenos poemas pós-modernos. Houve exceções. Isso é a generalidade: a fina teia dos poetas na época da Internet. Que será da poesia? Que gênero poético? Para onde vai a literatura? Ninguém sabe. Mas os poemas agora se reduzem ao cerne, duas três rimas, umas poucas imagens e a imensidão do espaço do papel em branco – a poesia do Dilson tende assim ao haicai:
A flor nasce nos olhos da lua
Diante do espelho que sou.
(Isto: o poeta no espelho. O poeta que vê:)
...a rua é ruínas
E vejo o sol...
(Que sabe recolher “os resíduos do dia” nas suas anotações de estrofes, que são como notas apressadas de um repórter perseguido pelos “rostos dos fantasmas”, pelo “trânsito do vento” – a realidade transformada em nada, a natureza vinda do sertão:
Ouço o mugido do gado
preservando o encanto da noite
e galopamos na tangente do açude
onde o céu se oferece para contemplação.
A madrugada corre ensandecida.
Minhas mãos alcançam as alturas
e degusto o oásis do sertão
onde cavalgamos sonhos.
(E da cidade. Na)
ESPERANÇA EM FORMA DE NUVEM
A cidade decresce
a multidão de prédios-diamantes
na manhã que se inicia
e no céu cinza das avenidas
as aves unidas dançam
ao som silencioso do vento
a canção veloz do vôo.
Já não há lirismo, nesse trâmite. “Já não navego o ego”, escreveu. Mas “o silêncio parou de tocar”, e
Acordo a madrugada
e repouso em mim a noite que dormiu
demais
para despertar a manhã
e vestir-me de céu.
Esta poesia faz das coisas uma concretude e não uma imagem, pois a realidade é tanta que “a água na vidraça / despedaça...” e o mundo se descerra em “faces e disfarces”. Neste caso o silêncio é um consolo, pois serve para “arrancar o coração das paredes”. No:
O MUNDO VISTO POR DENTRO
A ausência zera o rosto
coberto pela toalha da alma
e a máscara da face
abre o cárcere
para o mundo se mostrar
como é.
É muito interessante sentir que se pode ler no “Sabor dos sentidos” a meditação de “Os olhos do silêncio”, que pisa no freio das palavras e dissolve o fragmento do pensar.
Ali o silêncio é interno, o silêncio sempre fala mais alto, “pó do vento”, o que “apaga a escuridão”, o silêncio como arte decorativa: “o manto de anjo na sala de estar”