A poesia medieval é a medida velha para uma nova mente
Por: Luiz Filho de Oliveira Em: 10/02/2011, às 18H00
Desde que comecei a lecionar a disciplina Literatura no primeiro ano do ensino médio, o meu interesse pela literatura medieval foi ficando cada vez mais forte. A partir disso, os poemas-canções dos trovadores galego-portugueses, assim como o teatro vicetino e os poemas palacianos, passaram a fazer parte da minha leitura com uma frequência mais habitual do que na minha época de estudante universitário do curso de Letras.
à voz do encantador;
eu nam, e agora com dor
quero perder meus sentidos.
Os que mais sabem do mar
fogem d’ouvir as sereias;
eu não me soube guardar:
fui-vos ouvir nomear,
fiz minh’alma e vida alheas.
que meu desejo não ousa
desejar nennhuma cousa.
Porque, se a desejasse,
logo a esperaria,
e se eu a esperasse,
sei que vós anojaria:
mil vezes a morte chamo
e meu desejo não ousa
desejar-me outra cousa.
esparso
gatinha... te-amei de amor
pré-antigo, moderno-pós,
pois (ai!) contracanto arteiro:
“teu não a mim não foi cor!”;
entre tantos, mais não digo,
posto, assim, cantarão
que, então, sendo não-amigos,
verso inverso o verso ubíquo:
que eu não sinta o ex-coração!
(Luiz Filho de Oliveira. BardoAmar, 2003.)
vilão ser-te por amar a esta velha forma antiga
meu amor – tanto te-amo
que meu desejo são ousa
desejar-te minha lousa
por que bem te-escrevinhasse
pela pele em poesia
o que nos-registra o enlace
entre a tua vida e a minha
palavras mil eu reclamo
e tal ideia repousa
no teu corpo – minha lousa
(Luiz Filho de Oliveira. Onde Humano, 2009.)