A poesia de Álvaro Maia



A poesia de Álvaro Maia

Rogel Samuel

Está cada vez mais raro o livro de poemas de Álvaro Maia “Buzina dos paranás”. O meu exemplar já está em pedaços. Poucos são os leitores hoje do “príncipe os poetas amazonenses”, título que ganhou no concurso promovido, em 1925, pela revista “Redenção”, dirigida por Clovis Barbosa, com 21 votos, tendo como concorrentes Jonas da Silva (7 votos), Raimundo Monteiro (6 votos), Francisco Pereira, Genésio Cavalcante e Heitor Veridiano (1 voto cada).
Álvaro Maia (1893-1969) é o mais amazônico dos poetas de sua terra. Seu tema é a floresta, o meio ambiente. Ele nasceu num seringal no rio Madeira, foi Interventor do Amazonas – de 1930 a 1933, Deputado Federal – de 1933 a 1935, Governador do Amazonas – de 1935 a 1937, Interventor - de 1937 a 1945, Senador - de 1946 a 1951, Governador do Amazonas - de 1951 a 1954, e Senador - de 1967 a 1969. Foi casado com D. Amazilis, teve duas filhas: Terezinha (já falecida) e Alviles, casada com Leopoldo Péres Sobrinho (irmão do falecido senador Jefferson Péres), segundo uma pessoa de sua amizade. Era um grande intelectual, muito culto, falava várias línguas, e foi catedrático de língua portuguesa com a tese: “O Português-Lusitano e o Português-Brasileiro léxica e sintaticamente considerados”. Ensinou até 1930. Quando era governador, tentou continuar dando aulas, mas desistiu por falta de tempo. Era um político sério e honesto. Eu o vi uma única vez na vida. Ele descia a pé a Rua Barroso. Morava em frente ao famoso Teatro Amazonas. “Genesino Braga relacionou mais de 45 trabalhos editados, incluindo romances, discursos, artigos, poemas”, escreveu Erasmo Alfaia, que assistiu à sua morte.


VEIO D'AGUA

Gosto de ouvir-te, veio de água pura,
recortando os recantos escondidos
de soluços, de vozes, de arruídos,
entre hinos de alegria e de amargura ...
Choras no coração da selva escura
a saudade dos trilhos percorridos,
e ao teu pranto, lembrando os tempos idos,
a verde alma da terra se mistura ...
És calmo e frio em fases diferentes,
ora na rude angustia das vazantes,
ora no desespero das enchentes ...
E, corda de harpa rebentando em festas,
ergues ao céu, em notas delirantes,
a epopéia convulsa das florestas ...

http://historiadosamantes.blogspot.com/2009/01/alvaro-maia.html