A Pedro Costa
Em: 21/03/2017, às 11H32
[Antônio Francisco de Sousa]
Conheci mestre Pedro Costa – era assim que o chamava – lá por volta de mil, novecentos e oitenta e cinco do século passado. Frequentava eu uma churrascaria na zona leste, - localizada em frente ao que hoje é o DNIT, depois de haver sido NOVATERRA e VEMOSA, revendedoras autorizadas Volkswagen – que, a propósito, servia o melhor “arrumadinho de carne de sol” da cidade, além de “paçoca” e “picanha” nacional excelentes.
Naquele período, enquanto degustávamos quitutes da casa, não raras vezes, na presença, mais que companhia, do recluso amigo de escola, professor e contista Airton Sampaio, Pedro Costa circulava de mesa em mesa - dali e de alhures, certamente - cantando seu repente e vendendo cordéis.
A picanharia mudou de endereço, deixei de frequentá-la no novo e perdi de vista, por um tempo, Pedro Costa, que continuou com seu repente, enquanto assumia outros misteres: ator teatral; na organização de eventos envolvendo a poesia repentista e seus cantadores; enveredou pelo marketing, unindo-se a humoristas que despontavam no cenário artístico da capital, fazendo propagandas e tecendo loas. Até que criou, passou a editar, distribuir e buscar patrocínio para a Revista De Repente; não satisfeito, meteu-se na constituição da Fundação Nordestina do Cordel (FUNCOR). Com esses empreendimentos, ganhou diversos prêmios e comendas Brasil afora, que contribuíram para que se transformassem em importantes monumentos à cultura popular da cidade, do estado e do país. Passou o poeta a ser requisitado para, com seu repente, panfletar, disseminar e tornar públicas diversas ações do poder público, notadamente, nas áreas de educação e saúde.
Adoeceu, ou melhor, descobriu-se doente, primeiramente, das vias superiores: caro lhe custou, inclusive, financeiramente, um tratamento ocular, ao qual superou com desagradáveis consequências. Turrão, tinha – pelo menos foi isso que percebi em incontáveis conversas que tivemos – verdadeira ojeriza por medicamentos alopáticos: considerava-os veneno e não antídoto para doenças; certamente, somente deles se utilizava porque apesar de teimoso e ranzinza tinha grande amor pela vida que esperava tê-la em tempo bastante para ver concluídos os projetos em que se envolvia.
Mas eles eram tantos que a natureza – ou o criador que, também, por vezes chegou a ser objeto de particular contestação por parte do poeta – resolveu não esperar e o levou no curso de muitos deles já em fase de execução.
Dizem que ninguém é insubstituível. Tal premissa terá uma chance de se provar verdadeira, a partir de agora, com a partida prematura e inesperada de Pedro Costa, em relação aos seus empreendimentos, sonhos, anseios e desejos. Vamos poder constatar como – ou se – sobreviverão, sem ele, obras que possuem sua cara, seu modo de ser e de agir, dentre outras: a Revista de Repente, circulando, ininterruptamente, há mais de duas décadas; e a própria Fundação Nordestina do Cordel, ancoradouro e porto seguro de tantos que a ela recorreram. Terão seus “discípulos” ou “seguidores” força e estômago fortes o suficiente para tocarem em frente tais instituições? Levando as mesmas bordoadas ouvindo, tantas vezes, os mesmos “nãos” ou os “sins” dissimulados, já que a pretensão era meramente livrar-se dos pedidos formulados pelo insistente poeta? Não vai ser fácil: esta é certeza; senão, verdade absoluta.
Outra verdade inquestionável é que a cultura popular do estado do Piauí perdeu um esteio, um baluarte, alguém que dava a cara a tapas e, dificilmente, desistia. Um sujeito batalhador; um guerreiro, nada quixote.
Pedro Nonato da Costa, imortal das Academias Brasileira e Piauiense do Cordel, da Academia de Letras do Longá, presidente da Fundação Nordestina do Cordel; um dos mais bem-sucedidos criadores, produtores e editores do “cordel” engajado, funcional, porta-voz de ações de estado, no nordeste brasileiro.
Velho companheiro de bons papos e de discussões saudáveis, alegres e prazerosas, isso lá era hora de partir? Por que a pressa, meu camarada?
Mas se teve que ser assim, só podemos nós, seus amigos que ficaram, esperarmos que sua obra continue viva, forte, vicejante e viçosa: a cultura popular local e regional precisam disso. Sua memória estará com e nelas, mestre. Descanse em paz. Aos que ficam, mãos à obra!
Antônio Francisco Sousa – Auditor-Fiscal ([email protected])