Encontrei por vinte reais num sebo do Largo da Carioca o livro “Uma pedra no meio do caminho – biografia de um poema” de Carlos Drummond de Andrade (Editora do Autor, 1967), que algum tempo atrás estava à oferta na Estante Virtual por R$ 250,00.  O livro consiste numa compilação minuciosa (e eu diria quase neurótica) de referências, em órgãos da imprensa e em livros, ao famoso poema de Drummond.  A impressão que dá é que o poeta fez o livro graças a uma assinatura do Lux Jornal. uma famosa empresa que nos tempos pré-Internet recortava a nosso pedido (e pagamento), de todos os jornais, qualquer menção a um nome ou um assunto do nosso interesse.
São pouco mais de 400 itens reunidos pelo poeta, incluindo traduções, paródias, respostas, paráfrases; menções ao poeta e ao poema em crônicas, notícias, comentários políticos, resenhas, etc.  O livro tem uma apresentação de Arnaldo Saraiva, analisando o poema e seu impacto.  As respostas variam, desde as explicações filosóficas até a galhofa gratuita, desde a análise métrica até vituperações indignadas contra o Modernismo.  Há trechos (contra ou a favor) de Vinicius de Morais, Sérgio Porto, Gilberto Freyre, Virginius da Gama e Melo, Lygia Fagundes Telles, José Lins do Rego...  Dois sintomas se repetem insistentemente.  O primeiro é a irritação dos articulistas diante da banalidade do tema.  Eles se aborrecem com o fato do poeta estar prestando atenção a uma pedra, quando existem coisas muito mais importantes, mais dignas da inspiração poética.  E outra é a briga dos críticos contra o uso da forma verbal “tinha” em vez de “havia”.  Dizer em 1930 “tinha uma pedra no meio do caminho” era algo plebeu e agressivo para os ouvidos cultos dos praticantes e leitores da poesia. 
Folheando este livro, entendi por que num poema Drummond diz ser, entre os poetas, “não dos maiores, porém dos mais expostos à galhofa”.  O que se galhofou do poeta mineiro nessa época não está no gibi.  O crítico Gondin da Fonseca é o que aparece mais vezes, fazendo todo tipo de provocação, deboche, imitação, demonstrando claramente o quanto a pedra o incomodou.
O livro tem seções temáticas: “Reação pelo ridículo”, “Não sai da cabeça”, “Os amigos da pedra”, “E os inimigos”, “Emoções de viagem”, “Troca de autoria”, “A pedra na administração pública / na advocacia / na economia / no esporte / na escola...”, etc.  Na última seção, “O poema visto pelo autor”, vêm citações de artigos ou entrevistas do próprio Drummond, meio encabulado por ter causado tanta celeuma e dizendo que o poema nem é tão ruim nem tão bom quanto se diz.  Ele também inclui o poema em prosa “O enigma”, de 1947, que aqui nesta coluna (“O obscuro enigma de Drummond”. 12.12.2004) já interpretei como uma resposta ao outro.  O poema mostra o ser humano visto pela pedra-no-caminho, numa inversão de ponto de vista que me parece óbvia mas que nunca vi ninguém mencionar