A PALAVRA LÍRICA E TELÚRICA DO ESCREVENTE DO CHÃO - ENSAIO DE LUIZ OTÁVIO OLIANI
Por Diego Mendes Sousa Em: 07/12/2025, às 21H40

A PALAVRA LÍRICA E TELÚRICA DO ESCREVENTE DO CHÃO
Luiz Otávio Oliani
"É através da epifania / que a Poesia transforma / o mundo”.
Diego Mendes Sousa
Como não se encantar com os versos de "O escrevente do chão", de Diego Mendes Sousa, em mais uma belíssima publicação da Litteralux, em 2025.
Diego é esse talento múltiplo, que se renova a cada trabalho literário que publica.
Com comentários de Dílson Lages Monteiro e de Ana Maria Bernardelli nas orelhas; e Nirton Venancio na quarta capa, o livro vem muito bem representado.
Na última página, Ana Arguelho enfatiza com claro espanto e lucidez crítica, pois questiona: "De onde este extraordinário poeta tira o impulso para converter no divino a matéria?"
Na apresentação à obra, Luiz Romero cita "o submerso silêncio" da poesia construída através da "insuficiência de vida e seu cotidiano fastioso”.
Assim, Diego se reinventa sem alardes linguísticos, sem "rojões e purpurinas". Faz uma literatura exuberante e revisita temas caros à arte da palavra, em todos os tempos.
Se o título da obra evoca a metalinguagem, é porque o poeta Diego Mendes Sousa sabe do poder da palavra e de como ela lhe é fundamental para a criação do belo, consequentemente, do mágico e do sublime subterrâneos.
Por isso, "o poeta é uma árvore antiga / Planta velha, secular, ancestral....”, p.22, e sempre recorre à tradição, com a vocação voltada para o clássico.
Basta observarmos epígrafes de Homero, Walt Whitman, Antônio Vieira, Nicanor Parra, Olavo Bilac, Manuel Bandeira, Jorge Luis Borges, Rainer Maria Rilke, T.S. Eliot, Sêneca, Baudelaire, entre muitos outros, nas quais surgem o poeta e historiador Alberto da Costa e Silva e a romancista Nélida Piñon, ambos imortais da Academia Brasileira de Letras (ABL), notáveis escritores que foram amigos do mago poeta do Delta do Rio Parnaíba, em vida.
Há fragmentos estonteantes, como: "A invenção / se sobrepõe ao real", p.23; "Vejo a Poesia / como o mais alto / substrato da humana / condição”, p.32; "O poeta é o condor / que ressignifica o tempo / e a vida”, p.41, ou "ser poeta / é ter imaginações e janeiros aturdidos na alma", p. 44.
Todavia, nem todos os poemas se voltam às especificidades da criação artística.
O que prepondera nos poemas é a riqueza imagética, a profundidade telúrica e o intenso trabalho vocabular já reconhecido na literatura deste vate, nascido na cidade da Parnaíba, no Atlântico sul do estado do Piauí.
O amor e a carnalidade estão em diversos poemas, mas, em virtude da exiguidade do espaço e do tempo, em "Sonho" p.71, aparece a Musa do poeta, a amada companheira Altair, a sua revelada estrela de primeira grandeza.
A saudade, a infância, a terra natal, o canto epifânico da humana condição, a memória, a sociologia, a geografia, a fauna e a flora do seu fascinante terral à beira mar, o rio Igaraçu, o rio Parnaíba, tudo está em Diego Mendes Sousa, como ocorre com os grandes que escrevem.

(LUIZ OTÁVIO OLIANI)
LUIZ OTÁVIO OLIANI cursou Letras e Direito. É professor e escritor. Publicou 25 livros, incluindo poesia, conto, crônica, teatro, literatura infantojuvenil e crítica literária / ensaios. Participa de mais de 400 livros coletivos. Consta em mais de 700 jornais, revistas, alternativos. Em 2017, a convite de Mariza Sorriso, representou o Brasil no IV EPLP (Encontro de Poetas da Língua Portuguesa) em Lisboa. Recebeu o título de “Melhor Autor Apperjiano 2019”, em reconhecimento no conjunto da obra em verso, prosa e drama. Desde 2020, é o Diretor de Comunicação Social da APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado do Rio de Janeiro). Foi citado como poeta contemporâneo no livro História da literatura brasileira: Da carta de Caminha aos contemporâneos, Carlos Nejar, 4ª edição, revista e ampliada, São Paulo, Noeses, 2022. Em 26 de novembro de 2024, a Academia Luso-Brasileira de Letras instituiu o Prêmio Luiz Otávio Oliani na categoria Minicontos, sendo o concurso anual a partir dessa data. Recebeu mais de 100 prêmios literários. Possui textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês, romeno e chinês.

