A palavra como navalha

Por Rogel Samuel

O terrivelmente belo poema de Zemaria Pinto, “O exercício da crueldade” acusa desse modo:

palavras são serpentes, são navalhas
são balas que explodem dentro do peito
de quem ouve e de quem fala!

Ai palavras! Ai palavras! Estranha potência essa das palavras cruéis, enganosas, ferinas, irônicas, venenosas. Zemaria Pinto diz que elas cortam como navalhas com suas falas, falácias, que trazem espinhos venenosos escondidos, balas explosivas que vão fundo, que lá no íntimo ferem quando querem ferir, e que ulceram a boca de quem diz, de quem dispara. O veneno mais terrível não mata a serpente, mas destrói a alma da humanidade de quem as profere, as palavras danadas infernais. Todos nós já as ouvimos e as sofremos. E até mesmo as proferimos contra nossos inimigos e desafetos! Às vezes elas vêm adocicadas com o invólucro do venenoso mel dos sorrisos falsos, perigosamente afáveis, corteses, finórios.

Onde os venenos e as gozações mais ácidas aparecem é na vida parlamentar, no Parlamento, ali onde reina a esperteza, a sagacidade das inteligências maléficas e malignas prontas para tudo destruir, usurpar, danar, profanar.

Até parece que o homem não merece o sagrado e misterioso dom da fala, da linguagem, mas não é verdade. São demônios falantes, em bom português, em correto inglês etc.

Zemaria Pinto é meu amigo, um homem afável e cortês, poeta e escritor fecundo da Academia Amazonense de Letras, autor de numerosos livros.
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