A máscara e a gripe *                     

 

   Cunha e Silva Filho        

 

          De repente, não mais que de repente, não é um país isolado que se vê às voltas com a nova   gripe popularmente designada de gripe suína e cientificamente  rotulada de  H1N1. Em quase  o  mundo todo,  onde a influenza se faz presente, modificaram-se os hábitos nos lugares em que surge contra a vontade de todos.         Imagine-se que o quadro  do espectro alcançado por esse tipo de gripe hoje é muito mais preocupante do que outras endemias ou mesmo pandemias que a humanidade já conheceu.

          Não que seja tão assustadora quanto o foi a gripe espanhola (1918-1919) ou outros  tipos de vírus que, até hoje, surgiram antes do chamado mundo globalizado.A globalização, invadindo todos os setores da civilização técnico-científico-industrial, ampliou,  em escala gigantesca, as possibilidades de  intenso incremento das migrações entre os povos do mundo inteiro.Com isso, cresceu aceleradamente o contato físico entre pessoas de variadas procedências, viabilizado pelo contínuo  fluxo dos  transportes aéreos que, pela rapidez de seus meios, tornou possível o   deslocamento, em horas ou, no máximo, em um ou dois dias,  de pessoas, facilitando os contatos entre as nações.                              

          O que é uma grande conquista tecnológica se torna ao mesmo tempo uma ameaça para a saúde da  humanidade. Quer  dizer, ao lado da violência  sem precedente, atormentando o sossego dos indivíduos, sobretudo nas grandes capitais, todos nós, diante do surgimento da gripe suína,  a esta altura dos acontecimentos, fomos  forçados a transformações, segundo  salientamos no início deste artigo,  de hábitos e costumes, nos ambientes de trabalho, nos lugares que  costumamos  frequentar,  até mesmo nas ruas. Não se pode, porém,  negar  que essa espécie de praga tem, até agora, ceifado a vida de muita gente globalmente  falando.                            

          As autoridades da área de saúde procuraram, através da mída, fornecer  informações sobre como lidar com o vírus da   nova gripe, evitar sua contaminação, controlar sua  disseminação e ainda tomar precauções a fim  de não causar pânico na população. Negócios, turismo, imigração, êxodo de contingentes de indivíduos acossados por pressões de guerra ou rebeliões, alterações geopolíticas, em razão de mudanças de sistemas de governo, vieram substancialmente agravar as possibilidades  de que a gripe suína se alastrasse entre povos.             Só sei que a eclosão do vírus tem gerado situações que beiram por vezes uma  tragicomédia.As pessoas, em todos os níveis sociais, passam a ter comportamento imprevisível, a  ponto de, por exemplo, escorraçar alguém que, suspeito de estar contaminado com a gripe suína, embarcou num avião prestes a decolar. O infeliz é obrigado a deixar a aeronave  sob pena de ser até agredido por passageiros. Esse é só um exemplo entre tantos que podem  ocorrer entre pessoas em diferentes espaços onde haja aglomeração de pessoas. Basta que alguém espirre, tussa ou escarre para que o caos se instale.                            

        Ninguém quer saber de quem está infestado. Todos  dele ou dela se afastam como se o  indivíduo fosse um pestilento do tempo de Cristo. Ou melhor,  o suposto portador do vírus passa a ser  quase um pária, sem destino e sem lugar, sem pátria, sem nada. Escolas e faculdades suspendem as aulas. Nada de contato em ambientes fechados. A bolsa ou a vida transmuda-se em a máscara ou a morte.  De  súbito, sentimos    que estamos diante de um mundo no qual todos conspiram contra todos.                        

           As máscaras vêm a ser a marca do medo da contaminação. Máscaras no aeroporto, nos hospitais, nos transeuntes de ruas globalizadas. A máscara é tudo. A máscara salva e deprime, evita e constrange. A máscara é o homem  A máscara –  espelho de um mundo fragilizado. Faz até lembrar um filme focalizando um mundo adiantadíssimo no campo científico-teconológico, mas paupérrimo de sociabilidades num planeta ameaçado constantemente por   gases tóxicos oriundos de catástrofe nuclear. A máscara é a vida. Sem ela instaura-se o temor, o medo, a fobia social planetária. Vira peste. Pandemia ou pandemônio. A máscara e a gripe – duas irmãs gêmeas de uma humanidade, cuja bem-aventurança consiste em só pensar o seu  próprio pensamento. A máscara... A gripe... A máscara..  A gripe... Viva a humanidade!  

NOTA   AOS MEUS  LEITORES:

Reparem,  leitores, que o artigo acima  é premonitório  quanto ao surgimento da tragédia da Pandemia  das Covid-19  e de suas variantes,  provocando   vítimas fatais  de  milhares de  pessoas  por ela ceifadas como se estivéssemos  perdendo  vidas  em tempos que nos fazem lembrar   os sombrios   períodos da humaidade   das duas   guerras   mundiais.   Recorde-se, ademais,   o quanto   esse apocalíptico vírus    tem  deixado,     em    cada país   contaminado, a sua  marca destruidora  e  impiedosa.     Nem foi  preciso que eu tivesse escrito  um artigo atual  a fim de que  o tema indesejável   dessa tragédia universal  tivesse   sido  abordado.  Pobre Humanidade !