Elmar Carvalho


 

Lobo solitário

e maldito das estepes

nas quais nunca estive,

açoitado pelos estiletes do vento e do frio,

uivando para a Lua

que jamais verei porque

para não a ver

meus próprios olhos ceguei.

Cão danado

cão condenado

por si mesmo

a uma eternidade

de trabalho forçado.

Judeu errante

e sem remissão

– por sobre desertos de areia e de gelo –

fugindo sempre

de si mesmo.

Poeta maldito

até a infinita geração.

Cosmopolita proscrito

das fronteiras do

tudo e do nada.

Prometeu acorrentado

dilacerado pelas aves

agourentas e de rapinas

que saíram de seu cérebro

– caldeirão vulcânico

em contínua erupção –

a vomitar monstros e fantasmas

de milhares de membros e cabeças.