SESSÃO NOSTALGIA:

 

notaaos leitores:

 

O texto abaixo fará parte do meu livro

 

LITERATURA:AS DUAS FACES

((Refelxões sobre temas  literáirios)                                                            Em memória a Augusto Meyer, meu ex-professro de  Teoria Literáia

 

A literatura brasileira:  novas  pesquisas

                                                             

Cunha e Silva Filho

          Não há como  negar a importância   capital que  a pesquisa  acadêmica  assumiu  em  todas as épocas, ou seja, desde que se implantaram os cursos  superiores  no país e sobretudo  quando  foram  criados os cursos de pós-graduação. É na universidade, no contato  diuturno do ambiente do campus,  da interação  dos  cursos  e disciplinas, na troca  de  experiências  em salas de aula com alunos,  ou fora das salas de aulas, com  outros  professores  e com o conjunto  das disciplinas de uma  faculdade que novas  ideias  vão surgindo e com elas novas  formas  de construção  do saber. O campus  universitário torna-se indispensável   ao ambiente intelectual,   no qual  temas e aspectos de uma área do conhecimento  humano vão  aflorando e se transformando  em   inovadoras  vias  de pesquisas   e se estabelecendo  como   terreno  fértil  de produção,  cujo sentido  maior  é o de avançar  o conhecimento  de um dado domínio do saber humano..

       Fora dos muros acadêmicos,  podem  igualmente vicejar novos saberes,  novas  linhas  de pesquisas, mas sempre  tendo em vista  a desvantagem  de  que  são mais lentas  e com maior  dificuldade  de  elaboração já que,  neste  caso,  o pesquisador  está mais na sua condição  de   investigador  autônomo, e muitas vezes, com dificuldades  de arcar com  despesas  de custos  no  processo   e desenvolvimento  de suas   pesquisas. Nesta segunda   situação, só  os grandes abnegados  conseguem levar adiante  todas   as etapas  do  processo de  desenvolvimento e  conclusão  de suas pesquisas  ou descobertas,  no pais, temos  mutos casos  de estsudosos autodidatas que  muito fizeram  pelo avanço  do  saber humanístico e daerudiição  consolidada após lngos anos de estudos,   pesquisas  e sacrifícios de grande parte  desses notáveis  inteletuais.

    No campo da pesquisa  universitária vale  registrar  mais uma  vertente de estudos  de literatura brasileira, a que  foi  concluída  pelo  pesquisador Eduardo de Assis Duarte, professor da Faculdade de Letras de Minas Gerais. A pesquisa -  um amplo  trabalho de equipe envolvendo  até  colaboradores   estrangeiros -, se ocupou em aprofundar   a produção  literária brasileira de autores  com ascendência africana. O resultado disso foi a coleção recém-editada pela Editora da UFMG, Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica.  A coleção foi assim dividida: : 1º volume “Precursores”; 2º volume, “Consolidação”; 3º volume, Contemporaneidade” e 4º volume “História, teoria,  polêmica”.

    A novidade  da coleção se assenta  não só  no levantamento de   escritores  brasileiros  negros ou mulatos completamente   desconhecidos até nos  círculos acadêmicos, como são os exemplos de Nascimento Morais, Lino Guedes (autor de 13 obras  vindas a lume entre 1930 e 1940, e Maria  Firmina dos Reis, sendo esta a  autora  do primeiro  romance abolicionista brasileiro, sob o título  Úrsula, de 1859, mas também   na  maneira original de abordar  a contribuição de afro-descendentes aos quais a literatura  brasileira tanto deve do  ponto de vista  estético.

    É fato que uns poucos  autores  negros ou mulatos  se distinguem  no panorama  da nossa literatura, como  Machado de Assis,  Gonçalves Dias,  Tobias  Barreto, Lima Barreto, Cruz e Sousa, José do Patrocínio, para ficarmos nos mais conhecidos e  citados em nossas  histórias  literárias.

    Outro  dado  positivo  da coleção   foi, a meu ver,   didaticamente  estudar os autores  selecionados  de forma  cronológica, i.e.,  primeiramente  escolhendo  31 autores com nascimento até 1931,  30 autores  nascidos  a partir da  de 1930 indo até 1940 e, finalmente,   incluindo  39 autores com nascimento nos meados do século  20.  O 4º volume  cuida   da apresentação  de  reflexões teóricas  acerca  do conceito  de   literatura afro-brasileira e de  depoimentos  de  escritores, ensaístas,  críticos  e intelectuais    sobre  as questões  ligadas  à etnia  dos autores que sofreram, uns mais , outros menos,  o estigma  de serem pretos  ou mulatos.Este volume ficou sob a responsabilidade também  de Maria  Nazareth Soares Fonseca.

   Aqui não faço  a resenha  da coleção, porque mesmo  não a li ainda, mas apenas  me  fundamento  nas  informações  da entrevista concedida  a Guilherme Freitas, jornalista  do Caderno  Prosa e& Verso do Globo (05/11/2011)   pelo organizador  da coleção,  o citado  professor Eduardo de Assis  Duarte. 

    Na longa  e judiciosa  entrevista do  organizador,  percebe-se  o quanto  os recentes  estudos   críticos   agora   voltados   sem  mais  os tabus  que por muito tempo, sobretudo  nos séculos  19 e primeiras décadas do século  20,    caracterizaram   os estudos  críticos entre nós relegando a segundo   plano   muitos autores   por mero  eurocentrismo  míope  - e por que não dizer  - racista, elitista, hegemônico.

     Todo  estudioso  de autores  como  Cruz e Sousa e Lima Barreto  sabem o quanto  eles  padeceram  preconceitos  de cor  tanto no meio   social quanto  profissional e  intelectual manifestados pelos  chamados   autores   brancos  ou que se  diziam   brancos.  

      Os estudos do “discurso das minorias” de certa  forma,  também  auxiliaram na mudança de mentalidade  do pensamento brasileiro  e mesmo  estrangeiro a fim de  retificar    abordagens   preconceituosas  de autores  afro-descendentes através de     uma  revisão   que  resultasse  positiva  na erradicação  de  pruridos   racistas.

       O quadro atual  da situação   de escritores  afro-brasileiros  tem  dado  provas   admiráveis  de surgimento de  escritores  desse segmento  étnico que só têm  elevado  o nível  de nossa  produção  literária  e  teórica, conforme  se pode constatar  na relação   de autores    selecionados  pela  antologia. No entanto,  a questão  do preconceito  velado  ainda  subsiste no meio social e cultural  brasileiro, desmistificando o conceito de “democracia racial” entre nós.

       Outro  traço  importante  desta  antologia  é abrir  perspectivas  promissoras   para  se levar  adiante  o debate  do conceito  de literatura afro-brasileira, a partir mesmo  do  fato  de   ter tirado do  limbo   um bom número de autores  negros  ou miscigenados  do passado  que, em sua   produção,  não deixaram  de  tratar  do problema  da sua   própria  etnia, além de  problemas  de relevância social  da  época,  a escravidão, o abolicionismo, os  problemas inerentes à República  Velha, os interditos  ou constrições à condição  de ser negro ou mulato,   como  Cruz e Sousa, Lima Barreto, Firmina dos Reis e o próprio  Machado de Assis.  Segundo acentua   o professor  Eduardo de Assis  Duarte,   Machado de Assis, no  romance  Helena (1876) e em alguns  contos,  já detecta   na narrativa “...crítica ao discurso senhorial e à branquitude que busca  naturalizar  esse discurso  como verdadeiro”.

       Penso que   esta  antologia  virá  novamente   pôr em  discussão os temas  polêmicos enfocados  nas narrativas  desses autores   e, ao fazer  isso,  terá  mais possibilidade de  reforçar a necessidade de  ler  alguns autores  esquecidos e de se pensar  neles como  autores que merecem  ser  reavaliados e até  valorizados  dentro de   novos  enfoques críticos  que sejam isentos  de  ranços  preconceituosos, cujo  única consequência  mais grave  é novamente cometer-se  o erro da  omissão ou da falta  de coragem  intelectual  para  mostrá-los às novas  gerações  de estudantes e professores.

        Sequestrá-los   das  histórias literárias  seria um desserviço em matéria  de   pesquisas nos campos   literário e cultural. Os estudos acadêmicos não podem  deixar de lado  esta  oportunidade  de  conhecer  esses  autores e enriquecer  o debate  nacional  das questões  étnicas  e de  valorização  de autores  ainda não contemplados  pela pesquisa   em nossas  universidades.