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A IMENSA POESIA DE “TOTORO”
Miguel Carqueija

    Uma das mais singelas animações de longa-metragem que eu já assisti foi com certeza “Tonari no Totoro” (“Meu vizinho Totoro”), de Hayao Miyazaki (Japão, 1988). É uma fantasia excelentemente colorida e conta uma história simples e bela, onde a vida familiar se vê envolvida por seres mágicos.
    Duas irmãs, Satsuki e Mei, de possíveis dez e quatro anos, acompanham o pai a seu novo lar, uma casa em zona rural. A mãe das meninas recupera-se de uma doença num hospital. As crianças amam e são amadas pelos pais e aquela é uma família muito feliz. Só algo preocupa as meninas: que a mãe, Sra. Kusakabe, tarda a chegar da internação.
    Nesse ínterim, porém, elas descobrem um maravilhoso habitante da mata ao redor: o gigantesco e bonachão Totoro, um elemental que protege a floresta e que parece um enorme coelho. Inofensivo mas poderoso, Totoro logo será um amigo das meninas, franqueando-lhes até viajar no seu transporte particular, o “catbus” ou ônibus com cara e patas de gato, que as pessoas adultas não enxergam.
    Há na história de Totoro um profundo mergulho na poesia e no enternecimento, e ainda no universo mágico das crianças. Algumas cenas são inesquecíveis, de tão exageradamente belas: por exemplo, quando as duas crianças aguardam em aflitiva solidão, no escuro ponto de ônibus na estrada, já de noite e sob chuva, a chegada do pai; e quando se dão conta da gigantesca figura ao seu lado, Satsuki, sem parecer estar com medo, apenas indaga: “Você é o Totoro?” Ou ainda quando Mei desaparece e, esgotados os recursos para localizar sua irmãzinha, a angustiada Satsuki procura o auxilio do Totoro.
    É extremamente rica a apresentação visual de “Tonari no Totoro”, com o detalhismo na vegetação e outros elementos, bem como a mensagem moral, do amor familiar — o casal e os filhos, a família como a célula-mater da sociedade. Ainda que ocorressem birras entre as irmãs — até por conta da diferença de idade — Satsuki não hesita e sacrifica todo o conforto e segurança para localizar sua caçula custe o que custar — nada mais importa, e sua angústia e dedicação transmitem-se à platéia.
    Só um gênio realizaria um filme como esse.

Rio de janeiro, 21 a 24 de fevereiro de 2013.