A iluminada
Por Rogel Samuel Em: 18/03/2014, às 05H52
Rogel Samuel
Há muito que ela não ria assim. A alegria é sempre uma emoção espontânea. Há muito que ela não sentia aquela coisa, uma paz, um sentimento de felicidade, contentamento, satisfação, júbilo, perto do sonho, da leveza, aquilo era felicidade. Tudo quanto alegra, contenta, jubila, exulta, tudo leve, tudo reunido, concentrado nas poucas coisas da vida, o beber um cafezinho no botequim da esquina, o ver passar as pessoas na rua, sentar-se no banco do jardim, mesmo com o lixo acumulado e os mendigos ao redor, mesmo com aqueles mendigos que olhavam para ela com espanto, os bêbados, os meninos de rua, os vadios, os cães espalhados pelas árvores, ela olhava para todos e para tudo com seu sorriso de felicidade, de bondade, de força, de eletrizada euforia, com o brilho no olhar e o sorriso nos lábios, e aquele era seu mundo, todos eram seus irmãos filhos netos sobrinhos, todos a amavam, a respeitavam, ela estava em paz e por isso todos também se sentiam em paz, se irmanavam com ela, se beneficiavam do humor dela, daquela aura de irradiação luminosa de que ela estava vestida, expandida, iluminada.
Ela contemplava em todos a dolorosa natureza da vida, e com isso se compadecia e se irmanava com todos, numa atitude em que ela não pensava em si, mas na vida, na vida dos outros, na beleza da vida dos outros. E, apesar de seus oitenta e dois anos, pôs-se a caminhar sozinha por aquela praça tão cheia de pombos, de céu luminoso, de nuvens incandescentes, de mendigos e de assaltantes que de repente poderiam assaltá-la, ou mesmo matá-la, mas que estavam felizes, realmente felizes de a ver ali.
Há muito que ela não ria assim. A alegria é sempre uma emoção espontânea. Há muito que ela não sentia aquela coisa, uma paz, um sentimento de felicidade, contentamento, satisfação, júbilo, perto do sonho, da leveza, aquilo era felicidade. Tudo quanto alegra, contenta, jubila, exulta, tudo leve, tudo reunido, concentrado nas poucas coisas da vida, o beber um cafezinho no botequim da esquina, o ver passar as pessoas na rua, sentar-se no banco do jardim, mesmo com o lixo acumulado e os mendigos ao redor, mesmo com aqueles mendigos que olhavam para ela com espanto, os bêbados, os meninos de rua, os vadios, os cães espalhados pelas árvores, ela olhava para todos e para tudo com seu sorriso de felicidade, de bondade, de força, de eletrizada euforia, com o brilho no olhar e o sorriso nos lábios, e aquele era seu mundo, todos eram seus irmãos filhos netos sobrinhos, todos a amavam, a respeitavam, ela estava em paz e por isso todos também se sentiam em paz, se irmanavam com ela, se beneficiavam do humor dela, daquela aura de irradiação luminosa de que ela estava vestida, expandida, iluminada.
Ela contemplava em todos a dolorosa natureza da vida, e com isso se compadecia e se irmanava com todos, numa atitude em que ela não pensava em si, mas na vida, na vida dos outros, na beleza da vida dos outros. E, apesar de seus oitenta e dois anos, pôs-se a caminhar sozinha por aquela praça tão cheia de pombos, de céu luminoso, de nuvens incandescentes, de mendigos e de assaltantes que de repente poderiam assaltá-la, ou mesmo matá-la, mas que estavam felizes, realmente felizes de a ver ali.