A ideia de um Monumento ao poeta piauiense Da Costa e Silva (1885-1950)
Por Cunha e Silva Filho Em: 10/01/2022, às 14H04
SESSÃO NOSTALGIA
A ideia de um Monumento ao poeta piauiense Da Costa e Silva e outra questão (artigo revisto e melhorado)
À memória de Herculano Moraes
Cunha e Silva Filho
De dois temas tratarei neste artigo: a construção em Amarante de um monumento ao mais ilustre poeta piauiense, Antonio Francisco da Costa e Silva, ou designando-o pelo nome que o consagrou nacionalmente, Da Costa e Silva (1885-1950). O segundo tema diz respeito à pouca difusão de autores piauienses em todas as suas modalidades de escrita literária.
Consideremos o primeiro. Todo país que se preza procura preservar a memória oral e escrita de suas figuras mais ilustres.A isso se chama de tradição dos valores da terra natal, seja de um estado, seja de uma cidade, seja finalmente de um pais. Portugal, Inglaterra, França, por exemplo, são países que cultivam e reverenciam seus homens mais eminentes, notadamente no campo cultural. O Brasil não deveria ficar à margem dessa demonstração de tributo aos que elevaram o nome de seus países ao conhecimento do mundo inteiro. É uma forma de eternizar no imaginário dos povos, através da construção de monumentos ou mausoléus, artistas, homens da ciência, da História e das artes.
No sentido que imprimo a essa posição favorável ao culto da memória dos grandes homens estou afastando qualquer sinal típico do culto à personalidade muito ao feitio de países que viveram ou vivem em regimes autoritários.
O Rio de Janeiro, por exemplo, é, de alguma maneira, uma cidade que presta vassalagem às imagens, esculpidas em mármore, de grandes nomes de nossa vida cultural e por esse aspecto a cidade ganha foros de civilização e se faz modelo por ter erigido monumentos, hermas de diversas personalidades da vida cultural brasileira, não descurando a de celebrados nomes locais nas artes, não só populares como também do mundo erudito. Esse equilíbrio entre a cultura popular e a cultura erudita torna a cidade ainda mais encantadora aos visitantes nacionais ou estrangeiros, além de tornar seus monumentos, estátuas e mausoléus relevantes dados históricos sobre a cidade e o país.
Outras capitais e cidades brasileiras deveriam seguir modelos semelhantes, sem exageros, é claro. Só a tradição autêntica e imparcial sabe melhor selecionar quem deva ser digno de figurar como monumentos ou esculturas de seus grandes homens nos diversos campos do conhecimento humano.
O escritor Elmar Carvalho, conhecido poeta piauiense e detentor de várias honrarias locais e nacionais, cronista, contista, ensaísta e crítico literário, nascido em Campo Maior, há muito tempo, e por diversas vezes, manifestou a ideia de, primeiro, conseguir trasladar os restos mortais do “Poeta da Saudade,’ que se encontram em cemitério do Rio de Janeiro, Na sepultura costando apenas isso: da Costa e Silva. Nem mesmo sei se há um inscrição informando a data de nascimento e a de falecimento. Nunca estive no local, isso me foi relatado pela filha do grande bardo: Alice.
Elmar Carvalho se fundamentava no fato de que, no segundo terceto do soneto “Amarante,” poema que, na segunda obra do autor, Zodíaco (1917), compõe o conjunto de 5 sonetos sob o título geral de “Minha Terra,” alusivo a aspectos de natureza explicitamente autobiográfica.
Nesse segundo terceto, o vate de Sangue (1908) expressou a vontade de ser sepultado no seu berço natal, Amarante: “Terra para se amar com o grande amor que eu tenho!?Terra onde tive o berço e de onde espero ainda/Sete palmos de gleba e os dois baços de um lenho!”
Ora, Elmar, como poeta e amante de Amarante, a par de ser admirador e entusiasta leitor de Da Costa e Silva, razões de sobra tinha para querer ver realizado o desejo do poeta, desejo este com o qual igualmente comunga tanto quanto qualquer outro piauiense.
Não sendo concretizado o desejo do poeta no que tange aos seus restos mortais, Elmar agora, em novo combate, se empenha em conseguir, com o apoio irrestrito de outros intelectuais piauienses, como Virgílio Queiroz, Deusval Lacerda, Evaldo Madeira, assim como já recebeu o sinal verde do prefeito e o vice-prefeito de Amarante, respectivamente, Luís Neto e Clemílton Queiroz, para erguer um Monumento à memória de Da Costa e Silva(1885-1950).
O autor deste artigo recentemente se pronunciou, em comentário postado no Blog do Elmar Carvalho, favorável a esse projeto e se alia, destarte, a todos os leitores do vate amarantino, cuja obra ainda se presta, dadas as virtualidades múltiplas de sua linguagem e temática, a um amplo campo de investigação interpretativo, o que vem sendo confirmado por trabalhos publicados nos últimos anos enfocando aspectos diversos da sua poética. São ensaios de autores mais jovens que, na poética dacostiana, veem importância e perenidade, utilizando-se de abordagens atualizadas, sobretudo advindas do meio universitário piauiense.
O segundo tema deste artigo tem o objetivo de acentuar a relevância dos estudos de autores piauienses em todos os gêneros literários e ao mesmo tempo pretende chamar a atenção dos órgãos púbicos do Piauí responsáveis pelos setores da educação e cultura no sentido de que façam valer a obrigatoriedade, resultante de lei aprovada e regulamentada, do ensino de literatura de autores piauienses na grade curricular do ensino fundamental e médio público e particular, conforme preceitua a Constituição Estadual de 1989, no seu Art. 226, parágrafo único. Por outro lado, esse limite de nível de obrigatoriedade bem poderia se estender ao ensino superior do Piauí se dependesse do interesse e boa vontade dos professores de literatura brasileira.
Serve de exemplo e exemplo a ser imitado o que se faz no estado do Paraná, no qual se estuda a literatura paranaense nas universidades. Tudo dependeria da visão mais arejada e sem preconceitos da parte dos docentes universitários. Bastaria que eles oferecessem cursos com ementas referentes a estudos e pesquisas de autores e temas da literatura piauiense. Nada mais notável da parte das autoridades educacionais e universitárias do que vontade própria. Lembre-se de que a literatura brasileira inclui, no seu sistema literário, para usar um conceito caro a Antonio Candido, a produção ficcional, poética e de outros gêneros. Por conseguinte, não há como separar a unidade e a diversidade do pensamento literário nacional.
Quero ressaltar que tal reivindicação não se pauta por mero bairrismo ou provincianismo locais, mas sim pela necessidade e conveniência de que os estudantes piauienses tomem pleno conhecimento do bom e por vezes excelente nível de qualidade da sua literatura.
Para isso, contamos já com obras de referência de histórias literárias, de quadros críticos e ensaísticos, tanto na universidade quanto fora dela, de editoras locais com capacidade técnica de publicar livros bem impresso, de uma vida literária em efervescência e desejosa de alcançar voos mais altos. O terreno foi fecundado, a colheita está sendo feita. Resta disseminá-la e fruí-la.
Não é possível que os professores do Piauí, tanto no ensino médio quanto no superior, ainda hesitem na indicação de autores piauienses que merecem ser estudados, analisados e oferecendo imensas possibilidades para constituir ementas nos cursos de letras das universidade piauienses.
Sonegar a existência desses autores e só dando peso aos chamados autores que atingiram um nome nacional da tradição e outros, os mais novos, os novíssimos, que estão se firmando nacionalmente, se me afigura um erro palmar de visão pedagógica e de ausência de espírito universal e progressista.
O que não pode continuar é essa forma de apagamento ou sequestro de grande parte dos autores piauienses locais, com exceção de um grupo de happy few, tais como Assis Brasil, Mario Faustino, H. Dobal, Torquato Neto, O. G.Rego de Carvalho, e muito poucos outros com alguma visibilidade.
Já afirmei alhures que a literatura piauiense não termina naquele pequeno grupo. Cabe aos professores do ensino médio e superior, esquecer um certo complexo de inferioridade provinciana e abrir as comportas da riqueza de autores piauienses, do passado e da contemporaneidade, mostrando aos jovens leitores que esses “ilustres desconhecidos” têm muito a propiciar aos professores e alunos com uma produção literária merecedora de ser urgentemente adotada, estudada, pesquisada tanto quanto os chamados autores “nacionais e universais. É óbvio que já tenham sido concretizadas projetos neste sentido com autores piauienses, mas, no conjunto maior de escritores mortos e vivos há muito ainda a explorar quer em dissertações quer em teses, quer em cursos latu sensu, de especialização ou atualização.
A literatura piauiense está aí, viva, atuante, com novos autores lançando obras, só esperando ser divulgados e prestigiados pelos próprios piauienses. È tempo de realização de seminários, debates, congressos, simpósios, mesas-redondas que venham tirar do exílio uma boa quantidade de autores dignos de serem valorizados e consagrados pelo público piauiense, jovem, adulto, idoso, estudantes, professores de todos os níveis de ensino, enfim, leitores, críticos, ensaístas e cidadãos piauienses amantes da leitura e da literatura mafrense.
No dia-a-dia do piauiense esses autores são vistos na rua e em outros lugares. Merecem a sua atenção e o seu respeito. Merecem, sobretudo, serem lidos.