A great scholar: J. de Matos Ibiapina
Por Cunha e Silva Filho Em: 03/08/2021, às 17H14
UM GRANDE ERUDITO : J. DE MATOS IBIAPINA
Prof. Pós-Doutor (Literatura Comparada, UFRJ) ) Francisco da Cunha e Silva Filho (ABRAFIL, CMRJ, UFRJ)
À minha esposa Elza, com muito amor
RESUMO: Este artigo apresenta um resumo dos principais dados biobibliográficos de um dos ilustres membros co-fundadores da Academia Brasileira de Filologia (ABRAFIL, sigla em português). Aludo ao Major J. de Matos Ibiapina, consoante sua forma de usar o nome completo em todos os seus livros, (”J, ” forma abreviada para “Julio,”), mestre de línguas (francês, inglês e alemão), escritor, filólogo, político, jornalista, ensaísta e tradutor que, em todas estas atividades, ganhou muita notoriedade, máxime no campo do ensino de línguas estrangeiras.|
Palavras-chave: Língua - Livro didático - Método direto – Ensino – Tese – Biobibliografia - Acadêmico - Geração
A GREAT SCHOLAR: J. DE MATOS IBIAPINA
ABSTRACT: This article sums up the main biobibliographical information about one of the distinguished co-founders members of Brazilian Academy of Philology (ABRAFIL in Portuguese acronym).I am referring to Major J. de Matos Ibiapina according to his usual way of putting his full name in his published works (“J,” short form for “Julio”), a teacher of languages (English, French and German), a writer, a philologist, a politician, a journalist, an essayist and a translator who, in all these activities, achieved a higly respected position, chiefly in the field of teaching foreign tongues.
Keywords: Language - Textbook - Direct method - Teaching - Thesis – Bioblibliography - Academic – Generation
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J. de Matos Ibiapina nasceu em Aquiraz, Ceará, em 22 de setembro de 1890 e faleceu no Rio de Janeiro em 1947. Era filho de um chefe político. Cursou os preparatórios no Liceu do Ceará. Ingressou na Faculdade de Direito do Ceará e, em seguida, transferiu-se para a Escola de São Paulo. No entanto, não concluiu Direito. Preferiu viajar para a Europa onde ficou por um bom tempo estudando com afinco inglês, francês e alemão, respectivamente, na Inglaterra, França e Alemanha
De 1911 a 1912, permanece no Ceará e vai trabalhar no Jornal da Manhã. Em 1913, retorna à Europa, passando pelos Estados Unidos. Voltando ao país, viaja para o Ceará e retoma o jornalismo dirigindo o Diário do Estado. Ao mesmo tempo leciona no Liceu do Ceará, na Escola Normal. Posteriormente, exerceu o cargo de Secretário de Fazenda do Ceará e ainda cumpriu um mandato de deputado estadual no seu estado.
Era positivista, combateu o clericalismo e foi jornalista aguerrido. Fundou um jornal de oposição, O Ceará (1924). Em seguida, fundou A Nação, jornal oposicionista, contra a política local e nacional. Segundo dados colhidos na Internet, a ficcionista Rachel de Queiroz (1910-2003) ) estreara na vida literária naquele periódico por ele fundado. No Rio de Janeiro colaborou para os jornais Correio do Povo e Correio da Manhã.
Há muitos anos, pesquisando na famosa Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, casualmente me deparei com um livro que me chamou a atenção, cujo título, se me lembro bem, era Cearenses ilustres no Rio. Não me recordo tampouco do seu autor, da editora e data de publicação. Por mera curiosidade, solicitei ao funcionário da biblioteca que me trouxesse o livro sobre os cearenses no Rio. Qual não foi minha alegria quando dei com um capítulo que apresentava uma síntese biográfica de Matos Ibiapina, introduzida por uma foto dele, um senhor ainda jovem e de semblante simpático. Foi, então, que me informei sobre alguns fatos de sua vida de autor didático e de sua formação intelectual.
A trajetória intelectual e biográfica de J. de Matos Ibiapina é uma bela história de amor aos estudos, de inteligência inteiramente devotada à cultura na sua mais larga dimensão. Interessei-me por sua figura de intelectual e de professor pela admiração crescente que dele ia tendo à medida que lia suas obras para o ensino das línguas inglesa e francesa.
Matos Ibiapina, na época de sua intensa atuação docente, era major do exército, tanto é verdade que nos pareceres críticos sobre suas obras dão-lhe o tratamento de Major Ibiapina. Parece-me que professores civis daquela época tinham direito à patente de oficial superior quando na função de professor de uma instituição de ensino militar.[1]
Seus dados biográficos informam que os seus estudos feitos na Europa foram através de bolsas de estudos, seguramente em razão de seus dotes para idiomas. Tanto assim que sua produção didática se divide em estudos de inglês, francês e alemão. Entretanto, seu foco maior em línguas foi o inglês, seguido do francês e do alemão. Todavia, o período que me parece o mais fértil de sua produção didática se situa nos anos de 1930 a 1940.
Na língua inglesa foi brilhante e fecunda a sua atividade, resultando nos seguintes livros: From facts to grammar em quatro volumes, editados de 1934 a 1937. O primeiro volume teve 4 edições; o segundo, duas edições; o terceiro, uma edição; o quarto, também uma edição. Todos publicados pela conhecida Edição da Livraria do Globo, de Porto Alegre.
Sua produção didática em francês, até onde pude verificar, se restringiu apenas aos volumes Lecture expliquée, que teve 3 edições, respectivamente, de 1933, 1935 e 1937, à La grammaire par la langue em três séries e à obra Les premiers pas. Quanto à obra La grammaire par la langue só encontrei a data da publicação da primeira série, edição de 1936. A obra Les premiers pas, conforme se vê na capa, indica tratar-se de uma série de livros. Entretanto, não consegui descobrir se o autor escreveu os volumes seguintes. Em alemão, todavia, não encontrei tampouco nenhuma indicação de que tivesse publicado algum trabalho didático.
Em 1933, escreveu ainda o volume único English easily mastered, que teve três edições, sendo que a terceira edição, aumentada e ilustrada (quase todas as suas obras didáticas eram ilustradas), desse volume é de 1940, se destinava aos dois últimos anos do curso ginasial e escrito nos moldes do Lecture expliquée. Aquele volume veio a lume no mesmo ano da famosa série From facts to grammar. Escreveu ainda o livro First steps, porém, na minha pesquisa não nenhum indicação da imprensa.
Convém ressaltar que Matos Ibiapina, já no remoto ano de 1921, apresentou uma tese, Construção alemã, que foi aprovada pela Congregação do Colégio Militar do Rio de Janeiro. Isso quando o autor tinha 31 anos, o que prova que, em geral, os espíritos talentosos são precoces.
A par de sua imensa atividade docente, publicou a obra Brasil de ontem e de hoje(igualmente sem as indicações de imprenta. Essa obra trabalho é de natureza política. Na condição de tradutor, creio que foi o primeiro tradutor brasileiro da obra de Adolph Hitler, Mein Kampf (Minha luta), na qual o ditador nazista narra a sua autobiografia. A tradução foi diretamente do alemão e lhe valeu rasgados elogios de Djacir Menezes (1907-199), sociólogo, ensaísta, jurista e filósofo. Por outro lado, a tradução do livro de Hitler causou polêmica e foi impedida de circular no país. Não obstante isso, alguma editoras continuarem publicando a tradução, posto que judicialmente proibidas.
Matos Ibiapina, um erudito nos estudos filológicos de línguas estrangeiras, escreveu seus livros didáticos acompanhando os mais atualizados conhecimentos para o ensino de línguas vivas, bastando afirmar que utilizou o direct method - abordagem no ensino de idiomas na qual o conteúdo textual, gramatical e de aplicação prática era escrito em inglês, segundo podemos deduzir da leitura de seus elucidativos prefácios às edições de seus livros, nos quais expõe sua defesa do direct method que, no país, foi introduzido no início de 1932 por Henrique Dodsworth (1895-1975), diretor então do Externato Pedro II e, segundo ele, estimulado pelo professor e filólogo Delgado de Carvalho (1884-1980), que foi vice-diretor do Externato Pedro II.
Matos Ibiapina, no entanto, ao utilizar o direct method, não o fez com os exageros de um novo approach linguístico. Procurou adaptá-lo à sua longa experiência no ensino do francês e inglês no Colégio Militar de Fortaleza, do qual foi catedrático, no Colégio Militar em Porto Alegre e no então Distrito Federal.
Suas obras didáticas foram bem recebidas por ilustres professores e filólogos do Brasil, como, entre outros, João Ribeiro (1860-1934), Hygino Aliandro,[1] A par disso, foram adotadas em grandes estabelecimentos de ensino pelo país afora e até mesmo - é lícito frisar – na Inglaterra, onde foram elogiadas e mesmo adotadas por professores ingleses e favoravelmente resenhadas pelo The Times Educational Supplement de Londres, que sublinhou o valor e a oportunidade da série From facts to grammar.
Não é minha intenção fazer neste artigo uma resenha geral de todos os volumes publicados pelo grande mestre. No entanto, não escondo o prazer que me propiciou a leitura dos demais volumes que só vim a conhecer no Rio, pois, em Teresina, Piauí, só havia lido, na biblioteca de meu pai, o primeiro volume daquela série juntamente com o primeiro volume da La grammaire par la langue (1936). Foi nos sebos do Rio de Janeiro que adquiri toda a série de From facts to grammar e o volume English easily mastered.
São obras obviamente já defasadas didática e metodologicamente, porém, são ainda muito válidas do ponto de vista histórico-filológico e constituem um farto e fecundo material para pesquisas metodológicas de avançados estudos comparativos no campo da língua inglesa nos níveis de pós-graduação.
A despeito disso, i.e., de serem obras didáticas antigas, eu as queria ler pelo prazer de conhecê-las, quiçá impelido pela saudade dos meus tempos de ginasiano e secundarista em Teresina.
São livros cheios de ensinamentos filológicos de alta erudição e de bem escolhidos textos informativos e literários dos melhores autores ingleses e americanos. Contêm lúcidas anotações sobre dificuldades e idiomatismos das línguas inglesa e francesa, textos humorísticos da época, ilustrações, bem formulados exercícios de prática oral e escrita a serem respondidos na target language que ainda são um regalo ao espírito, constituindo deliciosos momentos de prazerosas leituras, essas que muito tempo depois fiz desse notável estudioso de línguas estrangeiras.
NOTA:
Em pesquisa ulterior, obtive a informação de que Matos Ibiapina, ao se aposentar pelo Colégio Militar do Rio de Janeiro, RJ., , fora agraciado com a patente de “coronel honorário” do Exército Brasileiro. Foi membro da Academia Brasileira de Filologia, da qual foi um dos fundadores.
Referências bibliográficas.
ALIANDRO, Hygino. Apud MATOS IBIAPANA, J. de. From facts to grammar. 1st. vol. Porto Alegre: Edição da Livraria do Globo, p. 156, 1933.
CARVALHO, Delgado de. Ibidem, p. 154-155.
DODSWORTH, Henrique. Ibidem, p. 3. Prefácio à primeira edição de From facts to grammar.
RIBEIRO, João. Ibidem, p.155. Júlio de Matos Ibiapina – Wikipédia, a enciclopédia livre
MATOS IBIAPINA, Júlio. In: Widipédia, a enciclopédia livre .(Ver no Google)
MENEZES, Djacir. Ibidem, p. 158-159.