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A fuga no meio da noite

 

Rogel Samuel

 

No chão cruzavam-se várias faixas coloridas. Luzes. Grossas cortinas de veludo. Um grito muito longe. Bastava um passo e estaria concluída aquela parte. Enlouqueço? Havia um longo caminho estendido, uma larga planície vazia.

- Que ventos são esses, que cortinas?

Assoviavam aterrorizantes tempestades, canções das almas dos infernos. Liberdade? Um súbito estalo o estremeceu, desde o fundo da terra, das plantas dos pés. Passos de veludo. Pelo luzidio dos lustres bailavam ondulosas bailarinas, vozes recitavam, de uma igreja, murmúrios monótonos e flautas. Sensação de quem vê a morte aproximar-se. A todas as tintas. A morte irreconhecível. Semblante de quem procura, mas não vê, reflexos nas paredes. Palpitam risadas. O universo em decantação, o tombamento. Um espetáculo de fundo de mar, vagas. Cantavam? Um monstro untuoso, disforme, que se desfazia em pasta e massa repugnante. Fluía pelos poros da testa. Música estival. Cartazes, gigantescas letras.

(Lembrou-se que continuava no palco, representava, mas não podia conceber o que fazia. Procurou divisar o auditório. Nada. Tudo morto, vazio, surdo).