A FILOSOFIA DE MACHADO DE ASSIS: A ANÁLISE DE ÁLVARO LINS
Por Cunha e Silva Filho Em: 19/06/2023, às 12H13
A FLOSOFIA DE MACHADO DE ASSIS : A ANÁLISE DE ÁLVARO LINS (PARTE DO SEGUNDO CAPÍTULO DA MINHA PESQUISA DE PÓS-DOUTORADO.FACULDADE DE LETRAS DA UFRJ(2014)
Segundo assinalamos no capítulo precedente, com o ensaio de título relativamente extenso, “O segundo Afrânio: um ‘exercício’ literário acerca de Machado de Assis, Álvaro Lins deu o primeiro passo a uma longa desavença literária com Afrânio Coutinho. Era mais um dos inúmeros comentários, artigos ou ensaios que o crítico pernambucano escrevia sobre livros recém-editados. E não seria o primeiro e nem o último a provocar suficiente combustível para a arena da polêmica na vida literária brasileira. Só que desta vez haveria dois espíritos combativos e não avessos à refrega no terreno das ideias.
Para a análise que ora fazemos do ensaio de Lins sobre a Filosofia de Machado de Assis utilizamo-nos da sua obra, Os mortos de sobrecasaca, Quinta Parte.[1] É curioso anotar que, por coincidência, nos dois ensaios anteriores dessa Quinta Parte, Lins analise, primeiro, um livro do historiador Alfredo Elis Júnior, Feijó e sua época ou Feijó e a primeira metade do século XIX, obra, segundo Lins, publicada com dois títulos e, por isso, merecendo uma notação irônica de crítico e ao mesmo tempo um julgamento implacável contra o estudo daquele historiador da Universidade de São Paulo, num julgamento que afasta qualquer possibilidade de encontrar alguma qualidade na obra, seja no nível da lógica do desenvolvimento, seja na linguagem, seja, finalmente, nos dados referenciais.[2]
No segundo ensaio, comenta uma obra de Afrânio Peixoto, Panorama da literatura brasileira. Novamente, o crítico faz um duro e por vezes jocoso julgamento dessa obra no que diz respeita às pretensões de Afrânio Peixoto, em que pese ser um erudito escritor, historiador da literatura, ficcionista e homem da ciência, de organizar uma antologia que, no conjunto de observações feitas por Lins, resulta num trabalho falho, parcial e sem valor algum “... tanto para a literatura brasileira quanto para o Sr. Afrânio Peixoto”[3]
O ensaio de Lins sobre Coutinho, o terceiro e último da citada Quinta Parte, seção III – O Segundo Afrânio: um ‘exercício’ literario acerca de Machado de Assis, ressalvando alguns ângulos nos quais o crítico não deixa de reconhecer algumas qualidades no trabalho de Coutinho, segue uma linha de debate claramente de franco antagonismo aos argumentos da tese de Coutinho. Quer dizer, o ensaio de Lins principia por resumir a situação em que se encontrava a fortuna crítica machadiana até aquele decênio de 1940. Poder-se-ia afirmar, de forma generalizada, embora sem conclusões definitivas, ser um traço da crítica de Lins primeiro fazer uma abordagem da obra louvando-lhe as dimensões dignas de observação para, em seguida, partir para um julgamento que vai incidir duramente sobre os pontos por ele considerados fracos, imperfeitos e esteticamente mal estruturados.
Neste segundo passo, Lins não tem em geral contemplação. Somente com poucos autores brasileiros, o julgamento de Lins se torna entusiástico e mesmo se estende em excessos de aplausos. Um exemplo paradigmático seria a sua admiração praticamente irrestrita pela ficção de Guimarães Rosa.[4]
Na leitura que Lins faz do ensaio de Coutinho, a começar do título escolhido para discutir alguns tópicos fundamentais, pode-se discernir certo tom de disposição do crítico a se colocar em oposição às ideias de Coutinho. Segundo ele, o título do livro de Coutinho não faz jus ao conteúdo do que se espera do ensaio, que, “por ser interpretativo,” não dispensa “objetividade” e “método.” [5] Por falar dessa objeção de Lins queremos lembrar um fato que era muito comum em ensaios de décadas passadas, quando ainda não havia toda a sistemática de técnica de organização de monografia e teses e, sendo assim, ao falar de falta de método no livro de Coutinho não é possível concordarmos inteiramente com o reparo de Lins, já que o estudo de Coutinho foi escrito com critério de organização de suas partes, de apoio bibliográfico e da própria discussão do núcleo central do estudo. Para a época, já era um avanço.
Quanto à alegada falta de objetividade, damos razão neste ponto ao comentário de Lins quando, no desdobramento das partes do ensaio, há visível repetição de ideias ou ponderações já percorridas pelo ensaísta, sobretudo ao repetir inúmeras palavras ou expressões semanticamente similares na discussão de temas ou visões do mundo machadiano, no seu duplo aspecto, autor e obra, seja de Pascal, seja de Montaigne ou fazendo referência ao sentido filosófico da armadura da obra de Machado de Assis ou do próprio homem Machado, social e intelectualmente configurados.
Este problema, a nosso ver, se inter-relaciona com o estilo da escrita de Coutinho, Uma das suas causas, em nosso juízo, seria a falta de método ou de objetividade em estudos do gênero ensaístico, pelo menos na realidade brasileira. Constituía mesmo um deficiência comum na produção intelectual, sobretudo se tomarmos como parâmetro o período anterior à criação de cursos superiores de Letras no país.
Basta vermos quantas teses para provimento de concursos para as antigas cátedras do ensino secundário estadual e federal eram elaboradas, pelo país afora, sem o mínimo dos requisitos necessários a uma melhor organização de um trabalho, seja na divisão das partes dos capítulos, no levantamento bibliográfico e no desenvolvimento do tema escolhido.
As deficiências eram devidas à ausência quase completa de técnicas editoriais na elaboração dos trabalhos feitos praticamente por critérios autodidáticos e pelo bom senso e intuição de seus autores e, desse modo, tão distantes dos rigores e exigências das normas técnicas de preparação de monografias, dissertações e teses dos dias atuais.
Agora, nos referindo ao título do ensaio de Lins, identificamos um elemento catafórico, a que ligeiramente aludimos no capítulo anterior, nele embutido: os lexemas “segundo,” “exercício” e o próprio substantivo personativo “Afrânio.” Esses lexemas, ao concentrarem um tom de enunciação irônica, sinalizam para um texto crítico que, por antecipação, se propõe a não se constituir em absoluta submissão ao eixo central da tese de Coutinho. i.e., convalidar o ponto de vista de que Pascal foi a principal influência de Machado de Assis acoplada ainda ao sentimento de “ódio à vida,” pela influência do filósofo francês, manifestado por Machado de Assis, conforme veremos mais adiante, na condição de autor e de pessoa humana.
Três questões primordiais, de resto já anunciadas e ligeiramente afloradas no capítulo anterior, conduzem o fio da argumentação de Lins a fim de contrariar a espinha dorsal da tese de Coutinho: a) a influência dominante do pensador francês Blaise Pascal sobre Machado de Assis, leitor confesso dos Pensamentos (Pensées), a obra-prima de Pascal; b) o sentimento de ‘ódio pela vida’, derivado, conforme aludimos acima, do pensamento pascalino em Machado de Assis na condição de autor e de pessoa humana; c) o problema do estilo na escrita de Coutinho.
Consideremos a primeira questão na divisão tríplice, acima-indicada, que pretendemos debater no ensaio de Lins. De modo algum negando a influência de Pascal, em Machado de Assis, Lins, julgaria mais acertado se Coutinho houvesse tomado como parâmetro de maior influência o filosofo Michel de Montaigne, autor dos Ensaios (Essais), o qual, pelas ideias e visões da vida e dos homens, mais estaria próximo de Machado de Assis. Ocorre, porém, um fato: por via de formação cultural haurida em leituras diligentes, Montaigne teve peso no pensamento de Pascal ainda que com ele divergisse no campo filosófico e sobretudo em razão da conversão de Pascal ao cristianismo através de suas posições de jansenista na polêmica contra os jesuítas.
Montaigne, por outro lado, embora tivesse uma grande experiência dos homens e da vida, não se lastreava pelos caminhos do pessimismo e do ascetismo cristão de Pascal. Observe-se esta passagem, que indica nitidamente uma espécie de simbiose entre os dois pensadores. Diz Pascal em conhecida citação: “Não é em Montaigne, porém em mim mesmo que encontro tudo o que nele vejo.”[6]
Aprofundando sua crítica sobre a tese de Coutinho, mas sem dar o suporte necessário na elucidação de sua assertiva sobre a escolha para ele errônea em relação a Pascal, Lins pondera em afirmações num crescendo desabonador sobre este tópico:
(... ) Pois embora seja evidente a influência entre Pascal e Machado de Assis – as diferenciações entre os dois são mais numerosas do que os pontos de identidade. Mais numerosas e mais importantes: as diferenças são fundamentais; as aproximações são acidentais. Quero dizer: as diferenças eram constitucionais e de natureza; as aproximações se formaram com as leituras e os acidentes literários[7]
Coutinho faz questão de acentuar que, a despeito de julgamentos de alguns críticos desfavoráveis à tese do ensaio A filosofia de Machado de Assis, mantém o seu ponto de vista da influência principal de Pascal sobre a ficção machadiana da segunda fase.
No prefácio meticuloso e escrito com espírito de renovação e de crença no desenvolvimento de novos formas de abordagem da literatura, tendo por pilares os elementos técnicos provindos da “Nova Crítica” pela qual por tantos anos se bateu e, o que é melhor, vendo surgirem novos ensaios que começavam a ser publicados sob ótica metodológica mais bem aparelhada e atualizada, Coutinho, reportando-se à nova edição da Filosofia de Machado de Assis com titulo alterado por adição, A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios, reafirma com convicção e coragem a base do enfoque do seu antigo ensaio sobre Machado de Assis, sem antes ter reconhecido algumas falhas e imperfeições de natureza técnica, corrigidas na nova edição.
Todavia, demonstra a intenção de conservá-lo como um texto definidor da marca original de uma fase determinada de seu pensamento crítico e metodológico: “ O que disseram os críticos ao ensejo da publicação do livro não invalidou a sua tese central, mesmo quando eram procedentes as reservas a aspectos parciais da obra. Foi o que estimulou a republicação.”[8]
Ora, bem sabemos que um escritor como Machado de Assis, por ter legado uma obra que apresenta ao leitor, ao crítico e ao pesquisador, no país e no exterior, uma multiplicidade de vias de interpretação e de especulação sempre possível de novos questionamentos como é quase sempre natural a autores que atingem um nível de valor universal, algumas afirmativas de Lins, apesar do tempo decorrido, ainda se prestam a debates fecundos, quer para confirmar o que defende, quer para rejeitar alguns dos seus pontos de vista no que concerne ao tópico em exame.
Tanto Coutinho quanto Lins, críticos situados no contexto literário-histórico-cultural dos anos 1940, partindo de visões de interpretação do fenômeno literário quando a pesquisa teórica ainda se afinava pela batuta do impressionismo crítico, mesmo que este fosse praticado por ensaístas e críticos de boa ou mesmo excelente formação cultural, a questão de estudar a obra estava sempre associada a conjunturas biográficas e um bom exemplo disso é o próprio ensaio de Coutinho, no qual não se faz quase diferenciação entre este fato de natureza teórica: onde estaria o cerne do objeto da tese, no autor, na obra, ou nos dois indistintamente?
Perguntamos: estaria o ensaísta Coutinho bem como Lins empregando o nome de Machado de Assis simplesmente pelo recurso à metonímia, e, neste caso, estariam aludindo à obra literária do autor, ou estariam usando o nome do autor para ponderações de natureza biográfica ou autobiográfica?
Ora, isso nos leva a pensar, durante a leitura do ensaio de Coutinho, assim como de outro ensaísta com formação literária semelhante, que fica a impressão de que ora estamos lendo uma discussão sobre o autor, ora sobre a obra, numa simbiose difícil de separar. Mesmo em historiadores brasileiros modernos, o mesmo antigo vezo de usar uma palavra pela outra se vê amiúde.
O próprio ensaio de Lins chega mesmo a levantar um problema de natureza teórico-literária fundamental dentro daquelas possibilidades analíticas de que dispunha no seu tempo e que, talvez, lance luzes sobre o tópico da influência de Pascal em Machado de Assis: (...) “Não confundamos, portanto, o sentimento artístico de uma obra literária, com o sentimento pessoal de um homem em sociedade humana”[9]
Sob tal premissa, se funda aquela advertência lúcida para a sua época vinda, não de um crítico tout court, mas de um linguista renomado, que foi Mattoso Câmara Jr. Segundo demonstramos num ensaio[10] de nossa autoria em que discutíamos no romance Quincas Borba, a validade em narratologia dos conceitos de “narrador” e “autor”, tantas vezes motivos de erros de interpretação assentados no “viés biográfico.” Mattoso perspicazmente já chamava a atenção para a necessária distinção entre aqueles dois conceitos, antecipando, como acentuamos no nosso ensaio, conceitos de narratologia como “autor empírico,” “autor textual”, “narrador” etc.[11]
Vendo, com distanciamento crítico, as reflexões de Lins enfatizando ideias e visões antagônicas entre ele e Coutinho, ou seja, nos colocando em termos de atualidade de enfoque crítico e conceituação terminológica resultantes dos avanços da teoria literária e da análise de texto, podemos compreender melhor os dilemas, as ambiguidades e aporias nas discussões sobre literatura nos recuados anos 1940.
Tal nova visão resolveria aqueles impasses se entendermos que o autor, o cidadão com certidão em cartório, o ser do artista não pode sempre se confundir com a construção de um personagem e sobretudo com o que este possa pensar dos homens e da vida. Personagens são entidades fictícias, com vida própria e senhora de seus destino, de suas ideias, suas ideologias, sua cosmovisão.
Decerto o escritor tem sua formação própria, sua visão do mundo, sua filosofia de vida, seus defeitos e qualidades e suas preferências por fatias da realidade que lhe são possíveis de criar ou imaginar e essa dimensão não poderemos subestimar nem tampouco sobrepor aos valores intrínsecos da criação literária como uma fatura predominantemente estética e pertencente ao espaço específico da criação literária.
Por esta perspectiva, .sem hipertrofiar o valor do autor, podemos até compreender a tese de Coutinho e a sua validade até certo ponto, como também podemos questionar a generalização do argumento de Lins minimizando a influência pascalina sobre a obra de Machado de Assis. Se para Lins as diferenças entre Pascal e Machado são “constitucionais e de natureza,[12] então, como seria o homem Machado para Lins?
Uma pessoa afável discreta, levando uma vida burguesa, cumprindo cuidadosamente os seus deveres de funcionário público que, na sua função, ascendeu ao último nível da máquina administrativa, embora tenha tido uma infância humilde, amigo de eminentes figuras da vida pública, literária e política brasileira, isso seria Machado de Assis, o homem. Ou, então, corresponderia a personalidade de Machado de Assis àquela imagem de teor comparativo construída pelo crítico Olívio Montenegro em trecho sagazmente percebido e citado no ensaio de Lins?
Afirma Lins que Olívio Montenegro, no livro O romance brasileiro,[13] “compara” Machado de Assis com o personagem Dr Jekill de uma novela Dr Jekill and Mr. Hyde de Robert Louis Stevenson (1850-1894), e que para Lins dá bem a medida de Machado de Assis: “O Dr. Jekill era um médico que todo mundo admirava e estimava pelo seu espírito sério, a sua doçura, a sua modéstia, até que ele usava uma droga de sua descoberta, e virava outro caráter – um caráter de demônio.” [14] (grifos nossos) Ora, aquela imagem de Machado de Assis, levando-se em conta sobretudo a parte por nós grifada, nos parece perfeita para sintetizar, ou antes, reforçar a função do estatuto ficcional sempre que o autor se transporta ao plano da mimesis aristotélica, i,e, da “realidade possível,” a qual, por isso, nunca pode nem deve confundir-se com a realidade empírica.
Não se poderá, contudo, sonegar aquela parte fundamental do autor de uma obra, com todo o seu repertório cultural assimilado nos livros, na experiência da vida, na sociedade, na sua atividade profissional, no convívio familiar, na conjuntura histórico-social-ideológico-filosófica de seu tempo, enfim, em todas as nuances permeadas pela sua individualidade.
Abstraindo o componente de ordem cristã, após a sua conversão e depois de uma vida mundana que a precedera, a visão pascalina se encontra bem presente na ficção machadiana após a segunda fase de sua produção em prosa, ou seja, com a publicação dos romances Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908). Num trecho de uma "Introdução" de T.S. Eliot aos Pensamentos de Pascal, nos deparamos com esta brilhante síntese:
Não posso, contudo, pensar em nenhum outro escritor cristão, nem mesmo um Newman, que seja melhor indicado àqueles que convivem com a ideia da dúvida, e que tenham o espírito de conceber e a sensibilidade de discernir a desordem, a futilidade, o sem-sentido, o mistério da vida e do sofrimento e que possa apenas encontrar a paz por meio da plenitude do todo do ser.[15]
Isso nos conduz a aventar uma hipótese: enquanto visão interna do narrador ou constituição psicológica, moral dos protagonistas ou personagens secundários e de suas ações, atitudes diante a vida, do ser humano e do universo na obra machadiana, Pascal ser-lhe-ia influência fundamental e, em menor escala, Montaigne, Schopenhauer, Swift, Lawrence Sterne e tantos outros que o estudo comparativo de literatura tem apontado há tempos.
José Guilherme Merquior, estudando a ficção machadiana, fala de “três funções históricas da arte literária: edificação moral, divertimento e problematização da vida.” Acrescenta ele que a “literatura da era contemporânea – a literatura da civilização industrial” privilegia a terceira daquelas funções, e isso desde o Romantismo. A ficção machadiana se caracterizaria, assim, pelo predomínio da “hipertrofia da visão problematizadora.” Portanto, seria classificada como “prosa impressionista.” Ou seja, se alinharia a obras que medularmente discutem o “sentido da existência,” obras que por esse elemento diferenciador de concepção formal e temática se prestam a especulações de natureza filosófica. Merquior, nessa classificação, arrola, além de Machado, Raul Pompeia e Euclides da Cunha.:
A percepção do tempo e os ritos da memória são motivos capitais na ficção impressionista: basta pensar nos heróis nostálgicos de Tchecov, na ‘procura do tempo perdido’ de Proust, em Dom Casmurro, de Machado, ou nos momentos iluminadores dos personagens de James, que são quase sempre lembrança crítica, compreensão do sentido da experiência passada. É que, assim como a lírica do fundador da poesia moderna – Baudelaire – o romance impressionista parece estar profundamente ligado ao senso da perda de qualidade da existência.[16] (grifos do autor)
São obras de autores como, entre outros, Goethe, Hölderlin, Dostoiévski, Kafka, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, criações requintadas, produto da “sociedade moderna”, da “civilização industrial,” endereçadas a um público restrito e exigente, diferentemente das obras de qualidade média ou inferior, que mais divertem ou servem somente de “edificação moral” ou de divertimento para as massas.
Entretanto não se poderia omitir uma segunda dimensão de alto potencial revolucionário configurador de uma literatura eminentemente moderna da obra ficcional de Machado de Assis, uma escrita literária, plenamente revolucionária no que tange ao esquema tradicional do romance linear e a outros esquemas de natureza estilística e de estrutura ficcional moderna. Machado subverte a estrutura do enredo, o tratamento do tempo e introduz, entre tantos outros recursos retóricos, a digressão à maneira de Lawrence Sterne do Tristan Shandy.
Seu humorismo, seu pessimismo, seu pensamento corrosivo, seu schopenhauerismo, seu humanitismo, seu anti-darwinismo, cujo símbolo maior em Quincas Borba é o lema “Ao vencedor as batatas.”
Seu perspectivismo narrativo, se aliam a um estilo que inclui a paródia, o dialogismo, a sátira manipeia, o pessimismo em relação aos sistemas positivistas, o elemento fantástico, a bufonaria do espetáculo da vida, definiriam o grotesco, um estilo de escrita que, sendo da língua portuguesa, torna-se brasileiro no seu sentido mais íntimo e diferenciador do lusitanismo clássico graças às inovações que já vinham se processando pelas mãos de José de Alencar na tentativa de quebrar a rigidez da “gramaticalização,” só depois retomada com mais vigor no Modernismo de 22.
Segundo Antônio Houaiss, citado por José Guilherme Merquior, Machado de Assis deu “.. um raro exemplo de equilíbrio dinâmico da língua literária, da sua mediação plástica entre o antigo e o moderno, o culto e o popular”[17]
Se Lins sugeriu a Coutinho que melhor seria se este optasse por um estudo de influência entre Machado e Montaigne, o autor dos Ensaios (Essais) comparece no estudo de Coutinho não “incidentemente,” como disse Lins[18], mas sim como parte de capítulo 3, “O naturalismo de Montaigne.”[19]
Montaigne, como contribuição ao pensamento intelectual de Machado de Assis traria a concepção do ceticismo e do epicurismo, a visão arejada da alma humana sem nenhuma esperança de receber alguma coisa que pudesse lembrar a bondade, a solidariedade, a renúncia, mas sim o cálculo, o “egoísmo sistemático” porém amável”, a volubilidade, a mutabilidade, o sentimento de desapreço pela razão humana as questões de ordem intelectual vistas com distanciamento, o estoicismo, a ojeriza à “novidade.” [20]
Mesmo no aspecto da linguagem literária de Machado de Assis, Coutinho faz alguns comentários dignos de atenção. Entretanto, essa parte constitui um ensaio que só aparece na segunda edição da Filosofia de Machado de Assis, sob o título ”Outros Ensaios.” Trata-se do texto “Estilo: Machado e Montaigne.”[21]
Coutinho nele percebe pontos de contato entre a escrita de ambos os autores ilustrando que o estilo de Montaigne se definiria como um “estilo agregativo que caminha por acumulação,”[22] à maneira de Sêneca e oposto ao ciceronianismo da Renascença. Este tipo de estilo em Montaigne, segundo Coutinho, já prenunciava características do Barroco.[23] A segunda questão primordial do ensaio de Lins, expressa pelo ‘ódio à vida’, repetida praticamente ao longo do ensaio de Coutinho como sendo um sentimento presente na obra machadiana por influência de Pascal, é rechaçada por Lins, tanto quanto foi para o crítico e historiador Sérgio Buarque de Holanda. Lins, ao contrário, julga que Machado de Assis - e esse ponto de vista seria uma “opinião” que ele gostaria de defender fundamentado no que via como uma “ponto de partida” particularmente defensável e identificado numa simples afirmação colhida na própria ficção do Machado: “Nem ele a odiou tanto senão porque a amava muito.” [24]
Curiosamente, a segunda das epígrafes que aparecem na Primeira Parte do ensaio de Coutinho – com o título homônimo do ensaio de Coutinho, extraída da obra Várias histórias,[25] vem a ser aquela mesma frase que Lins tomaria para cumprir a promessa de demonstrar a refutação do ‘ódio à vida’ proposto por Coutinho.
Lins se refere a uma linha de escritores que, segundo ele, partilha desse sentimento de ódio à vida, e nisso o crítico inclui Pascal e Swift.:
Quanto a mim, hesito em situar Machado nesta família de autores que se caracteriza pelo ódio à vida e de que Pascal é um representante típico. Ou como seria também um Swift. Pois o processo de exprimir esse ódio ( o panfleto: em uns; o humor em outros) importa pouco.[26]
Inferimos neste ponto uma certa contradição ou ambiguidade de Lins no enunciado acima ao citar Pascal e Swift como dois autores nos quais podemos encontrar esse sentimento de “ódio à vida.”
No pensamento de Pascal não nos parece que exista expressamente tal sentimento posto que Coutinho mantenha a posição de que o “ódio à vida” foi assimilado por Machado por influência pascalina.[27] Por outro lado, sobre essa questão do ódio à vida,” Sérgio Buarque de Holanda[28] desconhece esse sentimento em Pascal e, além disso, refuta em Coutinho essa posição a tal ponto que o autor de Raízes do Brasil implica com a repetição exagerada “ódio à vida” utilizada no ensaio de Coutinho. Para Sérgio Buarque, ao invés de “ódio à vida” haveria, sim, em Machado um exemplo de “ceticismo”, de “humor,” “ironia’, ou como conclui o seu estudo: “Na ideia de um mundo absurdo – não trágico, mas absurdo – somada a esse sentimento de penúria encoberto pela ironia, é que segundo me parece, devem ser procuradas as origens do humor de Machado de Assis e também as fontes de sua filosofia.”[29] (grifo do autor)
Se levarmos em conta, no conjunto da obra machadiana, a premissa exemplificada pelo sentimento do “ódio á vida” da parte do narrador ou de personagens, valeria talvez o argumento, mas aí entraríamos no terreno puramente da ficção e, como tal, a possibilidade interpretativa seria um canal possível de compreensão, subjetiva ou objetivamente considerado
Lins, não negando ser Machado um autor com traços acentuados de “pessimista” ou mesmo de ser considerado injusto diante da sua visão do mundo, propõe, no entanto, para Machado uma classificação de escritor “realista” identificado com o “autor do Eclesiastes,” ao contrário de José Guilherme Merquior, que o considera, segundo já vimos, um prosador impressionista.
Reconhecendo no autor ou na narrativa machadiana algum sentimento vil, atos de vileza e de desumanidade, na exegese de Lins isso seria não “rancor,” mas, sim , “imparcialidade.” Além disso, Lins salienta: “Menos do que o ódio à vida, o seu caso [o de Machado] é o do conhecimento excessivamente lúcido e profundo (não-estrutural, portanto) dos homens e da vida.”[30] “Não-estrutural”, entenda-se porque adviria da experiência e da arguta observação percebida, sentida e vivida, não que lhe fosse simplesmente uma predisposição de sentimento inato. O homem pode muito bem ver a crueldade da vida sem por isso ser ele próprio cruel.
Por exemplo, o personagem Bentinho, de Dom Casmurro, por pensamentos, revela alta dose de “crueldade” em relação ao que pensa, naquela passagem final do romance em que o filho de Capitu, Ezequiel, após bom tempo fora do país, e já com a mãe morta na Suíça, vai visitar o casmurro pai Ezequiel, O sentimento manifestado por Bentinho, livre do mínimo traço de complacência interior mesmo em se tratando de um “ente querido,” se aproxima da malignidade de alguns personagens da tragédia shakespeariana. /Não houve lepra)[31]
E conquanto Lins pudesse hipoteticamente atribuir sentimentos pouco deferentes moral ou eticamente no que tange ao escritor Machado de Assis, bem ajustada seria a seguinte posição sua dirigida ao seu adversário de ideias:
Nem mesmo [Machado de Assis] demonstra em tese um deliberado desinteresse pelo destino dos homens. Pois o pretendido interesse desta espécie não é um objetivo de sentimentos artísticos, porém de sentimentos pessoais. E nunca um artista como Machado permitiria, na sua obra, uma confusão tão lamentável. O papel do artista nada tem que ver com o sentimento pessoal que oscila segundo as paixões do momento: o seu destino é observar a realidade física e psíquica, recriá-la em formas sensíveis de objetividade estética.(grifos nossos)[32]
O trecho grifado de Lins, moldado na sua forma de compreensão estética de um crítico classificado, à sua época, de impressionista, antecipa-se àquilo que já aludimos como função do narrador e dos personagens na condição de entidades ficcionais que hoje são estudados no campo dos estudos narratológicos.
No tocante ao conjunto de argumentos defendidos por Coutinho, um ponto alto de discordância, segundo Lins, reside no fato de que Coutinho não lhe parece coerente por afirmar conclusivamente a evidência de um humanismo em Machado em desacordo com o que, ao longo do ensaio, se contradiz em alguns aspectos, como explicitar o lado moralista de Machado com a “do mulato ressentido” de ‘medíocre qualidade moral,’ “a negação do niilismo de Machado com o seu ódio à vida ou aquela intenção geral de desmoralizar todos os “bons sentimentos.’’ [33]
Devemos acentuar que o ensaio de Coutinho não é uma reflexão estritamente filosófica de Machado, ainda que o ensaísta possa ter feito no seu estudo alguma referência direta ( o próprio título do ensaio, que, aliás, é censurado por Lins), ou indireta neste sentido. Todavia, a tentativa de interpretação do escritor combinada profundamente com a natureza da obra em prosa machadiana, exceção feita à sua poesia. Aqui, poder-se-ia aduzir, em Machado homem e autor se imbricam e mesmo se confundem.
Daí a razão de surgir no ensaio alguma incoerência, segundo já ressaltamos ao falarmos de questões narratológicas como narrador, autor, autor implícito e semelhantes. Note-se, como ilustração, o título do capítulo IV do ensaio de Coutinho: “Comprovantes da sua filosofia,” o qual é uma parte essencial do estudo onde se vale da prosa machadiana e do pensamento de Pascal para reiterar o que discutiu nos três capítulos.anteriores do ensaio.
No IV capítulo, logo no início, Coutinho sublinha uma circunstância nuclear: a de que Machado de Assis já trazia na sua personalidade, na sua estrutura moral e psicológica, embora “latentes,” traços convergentes com as leituras de filósofos e pensadores universais que seriam no futuro, enquanto assimilação de ideias sobre a vida, o homem e o mundo, decisivos na arquitetura de sua ficção.
Quer dizer, as fontes filosóficas e literárias, nacionais e estrangeiras, antigas ou contemporâneas dele, lhe ensejaram, como possivelmente podem ter sido para outros autores em qualquer época, sua visão do mundo, assim como a superação ou arrefecimento de alguns problemas complexos de ordem pessoal e social.
Antes, vemos mais no ensaio de Coutinho uma espécie de biografia intelectual de Machado, já que um traço de união lhe é peculiar: um estudo da personalidade de Machado e de relevantes dimensões da sua criação literária e de sua formação intelectual. Por isso, a nosso ver, ela é fonte orientadora da geografia humana machadiana, i.e., uma obra que abre caminhos para outros estudos e pesquisas sobre Machado, e isso já a valoriza se levarmos em conta a época em que foi editada pela primeira vez.
Visto pelo sentido geral do ensaio de Coutinho, não há como negar-lhe, apesar de ressentir-se de uma melhor concatenação no desenvolvimento argumentativo do tema versado, a contribuição ao avanço da fortuna crítica machadiana, decisiva em muitos aspectos e até ousada pelo fato de encaminhar sua pesquisa a uma abordagem ainda praticamente virgem nos estudos machadianos nos anos 1940, área de estudos críticos apenas iniciada em cursos da América e da Europa conforme reconhece o próprio Lins.[34]
Ou seja, das influências e fontes do estudo de autores, ideias que, anos depois, se fortaleceram nos chamados estudos de literatura comparada, hoje um vasto campo de pesquisas fecundas fundamentais aos estudos literários contemporâneos.
O terceiro reparo de monta, a nosso ver, discutido no ensaio de Lins sobre A filosofia de Machado de Assis – o estilo de Coutinho - possivelmente tenha sido o de maior impacto atuado na sensibilidade do autor de Correntes cruzadas, justamente porque Lins apontava na escrita daquele uma “quase ausência de estilo.”[35]
O advérbio “quase” obviamente de natureza modalizante, mais adiante, no mesmo parágrafo final do texto de Lins, é suprimido como arremate da forma e pensamento ensaístico de Coutinho, i.e., já que assim o fazendo endurece sua crítica contra o trabalho de Coutinho do ponto de vista da linguagem.
Ora, quem porventura leia o ensaio de Coutinho com boa vontade e com espírito de isenção, não pode deixar de perceber que parte dos defeitos estilísticos localizados no texto só pode ser debitada à impetuosidade de um crítico jovem por excesso de ousadia e mesmo a alguma dose de injustiça de julgamento quando declara ser o autor do ensaio machadiano alguém que não “possui certas qualidades imprescindíveis ao mais simples e ao mais comum dos estilos”.[36]
A justificativa da censura feita por Lins à escrita de Coutinho desenvolve-se num contraponto, a nosso ver, estratégico e corrosivo, porquanto, ao valorizar as qualidades de Coutinho por manifestar uma atitude intelectual de “excitar a discussão,o debate de ideias, as sugestões,”[37] ao mesmo tempo afirma ser ele um autor que não logra harmonizar “a expressão substancial à expressão formal”[38] não obstante demonstrar disposição e competência intelectual para realizar um estudo da relevância do ensaio sobre Machado. Urge realçar que nessa forma de morder e assoprar, consegue divisar duas qualidades em Coutinho: “a inquietação e o entusiasmo”[39]
Lins, como provavelmente muitos intelectuais de sua geração, costumavam rotular escritores que escreviam bem, com elegância, pureza de linguagem, correção gramatical e clareza de exposição como possuidores de “estilo” ou pelo emprego do termo “estilista.” O conceito de “estilista” se alicerçava nessa mencionada concepção de correção gramatical e virtudes – “beleza formal” diria Lins - de linguagem. Esses atributos ou qualidades deveriam ser cultivados tanto por ficcionistas e poetas quanto por críticos, ensaístas e historiadores da literatura.
Tanto é que gramáticos normativos do passado, como é exemplo típico Eduardo Carlos Pereira, nos inícios do século XX, reservavam uma seção ou capítulo de sua gramática para definir e classificar o estilo, suas características quanto a qualidade e defeitos.
Outros gramáticos, alguns mais próximos,outros um pouco menos próximos da atualidade tais como Domingos Paschoal Cegalla, Sílvio Elia, Evanildo Bechara, o linguista Mattoso Câmara Jr., com o seu Manual de expressão oral e escrita e com a sua Contribuição à estilística portuguesa, Rocha Lima, Napoleão Mendes de Almeida, Artur de Almeida Torres, Gladstone Chaves de Melo, Modesto de Abreu, inclusive até um autor português, M. Rodrigues Lapa, com a sua Estilística da língua portuguesa, deram especial atenção aos problemas de estilo e de linguagem e foram muito lidos entre nós por décadas.
Os grandes modelos de leituras seguidos pelos ensaístas e críticos, antes do surto do Estruturalismo e dos avanços da linguística, seriam buscados sobretudo nos clássicos lusitanos e brasileiros, entendendo-se por “clássicos” aqueles autores que, pelo alto nível de qualidade da linguagem literária, formaram o que hoje rotulamos de cânones da produção literária nacional, e, no caso de autores estrangeiros, de outras nacionalidades, a seleção seria entre os de maior prestígio na literatura ocidental, também eles com os seus respectivos autores canônicos.
No campo da crítica literária e do ensaio, de procedência portuguesa, ou de outras nacionalidades europeias e das Américas, ocorreria o mesmo processo de leitura e orientação doutrinária, naturalmente adaptado a cada época de ensaístas e críticos brasileiros, respeitando-se a individualidade e a formação cultural e literária de cada um.
O conceito de ter estilo equivaleria a escrever bem, com originalidade e domínio da língua culta. Esse paradigma linguístico, e, para os objetivos deste estudo, que se volta fundamentalmente para o gênero da crítica literária, a grosso modo, se estenderia do século XIX até o advento do Modernismo, período este que conheceu uma das experiências mais ousadas nos temas e no domínio da linguagem literária, quer ficcional, poética ou dramatúrgica.
A formação cultural de nossos críticos, historiadores literários, ensaísta se fez sob o predomínio da rigidez gramatical ao longo do processo da formação da literatura brasileira consoante as adaptações e a capacidade do uso da linguagem de cada autor, crítico ou ensaísta. Fazendo dois recortes diacrônicos, a fim de não retrocedermos muito no tempo, consideremos dois grupos de críticos literários mais conhecidos.
No primeiro grupo, colocaríamos Sílvio Romero, José Veríssimo, Araripe Júnior, João Ribeiro, Osório Duque Estrada, Nestor Victor, i.e., críticos do século XIX e dos primeiros anos do início do século XX.
No segundo grupo, incluiríamos alguns dos principais críticos mais novos tendo como marco temporal os anos 1940, ainda que alguns tivessem nascido no século XIX: Agripino Grieco, Ronald de Carvalho, Tristão de Athayde, Álvaro Lins, Sérgio Buarque de Holanda, Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Olívio Montenegro, Astrogildo Pereira, Afrânio Peixoto, Nelson Werneck Sodré, Augusto Meyer, Eugênio Gomes, Wilson Martins, Roberto Alvim Correa, Afrânio Coutinho, Temístocles Linhares, Antonio Candido, entre outros. Veja-se o quanto há neles de variações de estilo, de originalidade, de formas de linguagem e de abordagem e métodos de lidar com a obra literária, ou seja, há críticos positivistas, deterministas, historicistas, estéticos, filológicos, gramaticais, biográficos, até os chamados impressionistas, expressionistas, sociológicos, marxistas.
No fundo, porém, a questão da linguagem ensaística ou crítica, por razões de rigor e de lógica argumentativa, não poderia ser formulada fora da disciplina gramatical e segundo o avanço por que passou o estilo de escrita ensaística, mormente a partir do Modernismo de 22, tendo à frente Mário de Andrade, de cujo estilo e formas de linguagem, em alguns aspectos, no gênero ensaístico Lins não compartilhava.:
Também o meu conceito da crítica me leva a achar intolerável que num estudo sério, o autor [Mário de Andrade] use expressões como esta: ‘Macacos me lambam, etc.O Sr. Mário de Andrade reprovou, e com justiça, o chamado ‘poema piada’ do modernismo. Acho que a ‘prosa piada’, num ensaio sério de crítica, merece idêntica reprovação[40]
Contudo, não se deveria perder de vista o fato de que, por mais complexos que sejam os problemas atuais da reflexão crítica, os novos ensaístas e críticos bem deveriam evitar, tanto quanto possível, hermetismos e tecnicismos que venham prejudicar a clareza tão esperada por quem se interessa pelos estudos teórico-acadêmicos. Temas profundos e de alta complexidade podem ser formulados de maneira inteligível e comunicativa, sem serem cerebrais nem criptográficos.
Naturalmente, nos dois grupos acima-citados, nem a todos poderíamos chamar de estilistas, de críticos de estilo claro, tanto quanto outras figuras dos dois grupos poderiam ser classificadas como possuidores de um estilo arrevesado, ou, como alguns colegas universitários da época do autor deste estudo chamavam, autores de “estilo barroco,” havendo um mesmo que chamara a um conhecido crítico de escritor de “estilo espiralado,” ironizando, assim, a linguagem expositiva de alguns autores da área dos estudos literários, quer críticos, quer linguístas, quer ensaístas.
Eram comentários que alguns graduandos de letras faziam já nos meados nos anos 1960 e 1970, no limiar de um novo e diversificado período de correntes do pensamento crítico, dos estudos gramaticais, linguísticos, filológicos nos cursos de letras brasileiros, tempo dos estruturalistas, da semiologia, da semiótica, da era da informação, da Aldeia Global de Macluhan, das leituras de Antonio Candido, Massaud Moisés, Afrânio Coutinho, Eduardo Portella, Mattoso Câmara Jr., Wolgang Kayser, Celso Cunha, Evanildo Bechara, Sartre, René Welleck, Austin Warren, Roman, Jakobson, de Barthes, Lukács, Todorov, Greimas, Duffrenne, Aguiar e Silva, Benedito Nunes, Mário Faustino, José Guilherme Merquior, Derrida, Lévi-Strauss, formalistas russos, Lotman, Otávio Paz, entre outros.
É claro que, ao fazermos a leitura do ensaio de Coutinho, nos deparamos com algumas pequenas imperfeições estilísticas, mas nunca comprometedoras do ensaio por inteiro, o que de modo algum quer dizer ser ele um ensaísta incorreto no uso do código linguístico culto.
Ora, Odilon Belém[41] (nos relata com precisão e amplo conhecimento do assunto, o que foi a formação intelectual desse crítico desde os verdes anos em Salvador como excelente aluno e estudante universitário, em especial o seu desvelo constante pela correção da linguagem, os cuidados que dava à escrita literária, sem falar do seu tirocínio aprendido na mocidade com a experiência jornalística em vários periódicos
Lins refere que a escrita de Coutinho lhe dá a sensação de que o ensaísta da Filosofia de Machado de Assis vai desenvolvendo seu estudo sem organização prévia, “escrevendo ao acaso,” como se fosse um ato de expressão do pensamento por via da oralidade.[42]
Em nossa leitura esta “impressão” não tivemos nos termos postos por Lins. A crítica de Lins tem algumas vezes leves laivos de crítica do tipo estilístico-gramatical quando ajuíza o texto de Coutinho: a) faz “uso imoderado e impreciso de certas palavras; b) “Sobretudo o uso e o abuso dos adjetivos”[43] Ou generaliza sua censura no trecho seguinte:”Há um aspecto, porém, que não me parece assim controvertido no bom sentido: é o seu estilo, a sua linguagem.”[44] O que mais anotamos como falha no livro está relacionado a uma forma de circularidade das mesmas ideias já por ele desenvolvidas em páginas e capítulos anteriores. Recordemos que, num ensaísta jovem, é mais fácil encontrarmos algumas falhas estilísticas e mesmo gramaticais do que num outro que tenha maior experiência com a organização, o planejamento e o sentido de unidade e de acabamento de um estudo determinado.
A experiência cada vez mais nos convence de que só o tempo, a pertinácia no evoluir e aprimorar-se no tocante à linguagem faz um escritor melhor, não só um ficcionista, poeta, mas também ensaístas, críticos etc.
Por outro lado, não se pode desdenhar este fato: alguns escritores há que escrevem com tamanho entusiasmo sobre um tema que chegam a perder-se em explosões de emoção no momento de algumas passagens sob seu exame analítico, sobretudo quando o ensaísta é alguém que muito se ajusta àquela classificação lúcida e bastante ainda atual acerca das grandes famílias psicológicas do homem brasileiro formuladas por Alceu Amoroso Lima (Tristão de Ataíde) na obra Introdução à literatura brasileira.: a) o litoral e o sertão;b) a cidade e o campo;c) o Norte e o Sul.[45] Só para simplificar uma situação de ordem da linguagem, e sem o objetivo aqui de nos alongarmos no assunto, vejamos como Tristão de Ataíde define os traços do homem do Norte:
O brasileiro do Norte gosta de falar e sabe falar bem. Sua alma aberta e franca, exuberante e ardente, não pode confinar-se em expressões medidas, estudadas ou sutis, Diz tudo, desadora o encanto dos silêncios. Empolga-se nos grandes arroubos da eloquência e devota-se, politicamente, às personalidades fortes.[46]
E por falar na dificuldade do ato da escrita literária vem-nos a propósito aquele testemunho algo comovente e humilde fixado num texto da obra de Lins, A literatura e vida literária, no qual, com espírito arejado, de alcance humano, universal e distante das tensões e pressões da atividade crítica, simboliza uma flagrante contradição diante da por vezes intolerância de alguns críticos, inclusive ele mesmo, muito rigorosa a ponto de cometer imperdoáveis injustiças com autores jovens e até velhos:
O momento de escrever sempre traz para o verdadeiro escritor uma sensação penosa e angustiante. Uma espécie de sentimento de medo ou de angústia. Certamente que não é indolência aquilo que o faz adiar o seu trabalho até o último instante possível. Ao contrário: o verdadeiro escritor ama e deseja o trabalho literário; e nessa situação mesma é que encontrará a causa de sua hesitação[47].
O tom geral com que Lins censura a linguagem e o estilo de Coutinho se torna mais evidente quando, ao se referir à qualidade supostamente inferior da escrita do analisado, ainda espera contar com a possível concordância do leitor. E esta reflexão Lins faz questão de deixar para as considerações finais de sua análise.
Quem é leitor de Lins bem sabe que o componente estilo literário, seja na ficção, seja na poesia, seja na crítica literária, são peças incondicionais e verdadeiros pilares de sua crítica. Em toda a sua produção crítica, discutindo obras de gêneros literários, ou não, sempre fez questão de priorizar o elemento estilo, embora este aspecto da linguagem nunca tenha sido por ele sistematizado em ensaio.
A importância basilar que dava ao estilo, à linguagem literária, à originalidade foi sempre por ele reivindicada nos seus estudos. Sem ser rigorosamente um teórico, mas visceralmente um crítico literário de amplos recursos e alta cultura, é pena que não haja dado uma contribuição à questão do estilo no domínio da teoria da literatura a fim de que pudéssemos ter acesso a discussões aprofundadas sobre esse assunto, formulado e desenvolvido segundo um princípio teórico orientador do que entendia ser um dado da linguagem de profundo interesse aos estudos literários.
No entanto, algumas passagens de sua obra geral tocam nessa questão e sobre ela propiciam alguma compreensão do problema. No citado livro Literatura e vida literária – Diário e confissões, parte XLII, discutindo o tema do estilo no Modernismo brasileiro, Lins chama a atenção para uma deficiência de que padecem alguns autores do Modernismo (entendemos aqui que se trata do Modernismo brasileiro) sem negar ao movimento as virtudes e conquistas já consolidadas: a do estilo, a da “revalorização do estilo”, a da importância da ‘forma’ na obra literária.”[48]
Mencionando um autor de língua francesa, Pierre Liève que, ao falar sobre as diferentes fases da literatura do país dele, ressaltara que “... a língua se enriquece das audácias e aventuras, nas quais a comprometem as criaturas originais,” Lins relatando, no mesmo parágrafo, as afirmações de um outro autor, Yves Gandon, recorda que este, ao meditar sobre o mesmo tema, julga que “a correção e o estilo são estados absolutamente diferentes, até com difícil encontro. Partem de predisposições distintas.”E no original, cita Lins aquele autor: “A correção gramatical não reclama senão a atenção, o estilo exige um dom, um gênio natural.[49]
Lins, todavia, não concorda com as ideias de “dom” e “gênio natural” nos termos formulados por Yves Gandon. Reconhece, porém, que esse “dom” e “gênio natural” só teriam algum fundamento se vistos “estaticamente”, e reclamariam para tanto uma ativação de natureza artística, necessitando, inclusive, de qualidades pessoais.
Entre as qualidades, uma para ele seria o que denomina “... uma permanente concentração da zona artística.”[50] Entende Lins que o estilo “... não é a qualidade exterior”, ou seja, resultante de “justaposição” de “vocábulos formando enunciados através de conectores. Para ele o “simples jogo das palavras” pode até invocar a “sensação” das flores”, porém não passa de algo “falso e efêmero.
”Estilo” para Lins seria a expressão das ideias à prova , digamos assim, da leitura apurada, da “...análise de todos os homens” independentemente do tempo. O estilo dimana do “interior”, unifica-se à ideia da expressão, plasma-se como uma “unidade orgânica.” É parte integrante do “ser artístico. Conclui Lins, o estilo é o resultado da soma das ideias, das palavras justapostas, em que a sintaxe torna-se um componente indissociável da existência sentida, assim como os “vocábulos” agem como “seres-vivos” com força igual a seu “criador, enfim, o estilo para Lins é mais uma “percepção” do que uma “definição.”[51]
Conhecendo por informações e testemunhos escritos de amigos de Coutinho(), principalmente no que tange aos seus anseios e planos de estabelecer -se na vida intelectual e de sua pretensão natural de realizar alguns planos na atividade crítica, ensaística e do magistério, era de se esperar que o seu estudo sobre Machado de Assis pudesse significar-lhe, num centro cultural como o do Rio de Janeiro, uma oportunidade de levar a cabo tantas esperanças inerentes a qualquer intelectual que aspire a uma posição de relevo na história da literatura brasileira.
Escrever um ensaio sobre Machado de Assis – convém frisar – tornou-se, nos anos 1940 ou mesmo um pouco antes, segundo podemos constatar na obra de Otto Maria Carpeaux, Bibliografia crítica de autores brasileiros,[52] uma forma de os intelectuais darem sua própria contribuição àquele que é considerado o maior ficcionista brasileiro. Coutinho não fugiu dessa pletora de obras sobre Machado.A bibliografia machadiana não cessa de crescer nas diversas formas de estudos no meio acadêmico brasileiro e mesmo com estudos de especialistas estrangeiros, em formas de monografias, dissertações e teses.
Obviamente, não podemos descurar o fato de que a fortuna crítica de Machado não foi inteiramente favorável à sua obra. Tanto é assim que o velho crítico “sardônico” Agripino Grieco havia cunhado os termos “machadólatras” e “machadófobos” para definir os aficionados de Machado e os que não exibiam tanto entusiasmo pela obra do Bruxo do Cosme Velho. Por sinal, o velho crítico impressionista escrevera um livro, em muitos aspectos, desfavorável a Machado, de título Viagem em torno de Machado de Assis.[53]
Lins e Coutinho, cada um à sua maneira, eram admiradores de Machado, mas, na obra crítica e ensaística de Lins não consta estudo mais alentado sobre o grande romancista, assim como aconteceu com Tristão de Athayde.
No entanto, esta é a condição da atividade crítica, a de limitar-se a conhecer os autores, muitíssimos autores, mas nunca poder julgá-los todos ainda que tenha pela frente uma longa vida literariamente ativa. A atividade crítica é seletiva e sujeita a muitos fatores condicionantes: de formação cultural, de condições de pesquisa, profissionais, políticas, econômicas, ideológicas, religiosas etc.
A determinação de Coutinho de empreender um estudo interpretativo de Machado possui algo de auspicioso a quem pretendia conquistar seu espaço na vida cultural do país. É ponto pacífico que todo jovem autor anseie por um julgamento favorável a um trabalho escrito com competência, dedicação, espírito de pesquisa, mobilização de uma bibliografia extensa, leituras comprometidas não apenas com a matéria ficcional da obra machadiana, mas também de autores, brasileiros e estrangeiros correlacionados com o núcleo de seu ensaio, e escolha das formas adequadas na divisão das partes da investigação levada a termo.
Convém ter igualmente em mente a perspectiva crítica de que um ensaio nunca foi algo que tenha por obrigação ser completo e perfeito. Há neste gênero que avaliar os pontos falhos e os pontos a serem louvados. Esse é o sentido que na língua inglesa se dá a esta espécie de estudo: algo provisório, que pode ser aperfeiçoado e melhor desenvolvido pelo estudioso.
O ensaio de Coutinho, A Filosofia de Machado de Assis foi sua estreia em livro. Teve ressonâncias que dividiram opiniões de aceitação e de negação, como é natural a quem publique uma obra e não tenha renome ainda, não obstante já fosse conhecido por intelectuais e críticos de então graças à sua presença constante, sobretudo na imprensa carioca e de Salvador [54]conforme o próprio Lins declara no ensaio acerca daquela obra.
Coutinho deu continuidade às suas investigações sobre Machado e daí surgiu a segunda edição daquele ensaio de 1940, agora com o título A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios,() revista e aumentada, incluindo trabalhos posteriores publicados no Suplemento Literário do Diário de Notícias na sua seção “Correntes Cruzadas” e um sobre “O trabalho e a vida” editado pela Revista do Brasil em 1941. Os novos ensaios, em número de 15, formam a Segunda Parte da nova edição.
O resultado de toda essa atividade intelectual havia sido efetivamente algo que o autor tinha por meta concretizar. Por isso mesmo é que ainda na Bahia, nunca se afastara das suas leituras intensas e variadas, sobretudo nos campos da literatura, da história e da filosofia.
Seu afã, como certamente o fora o de Álvaro Lins e de tantos outros grandes intelectuais brasileiros das várias gerações, era assenhorear-se o mais possível das leituras dos autores nacionais e estrangeiros da época de sua formação cultural na juventude e mocidade, não só no campo estritamente literário mas também no das ideias, das teorias, dos ensaios, dos tratados filosóficos, das reflexões sobre os grandes e desafiadores problemas num mundo que enfrentava ainda os horrores da Segunda Guerra Mundial e, no Brasil, que se debatia diante da censura, prisões e desmandos do Estado Novo.
A despeito de tudo isso, Coutinho, mantinha-se no firme desígnio de atualizar-se tanto quanto possível com obras importadas de pensadores americanos, europeus e sul-americanos que ia adquirindo, enriquecendo, assim, o acervo de sua biblioteca, dando os primeiros sinais de que se tornaria um grande bibliófilo pela vida afora.
Foram, pois, os primeiros intelectuais, ele, Lins e tantos outros da mesma geração ou de gerações anteriores que se tornaram mestres pelos velhos hábitos de complementação de uma formação cultural sólida do que se convencionou chamar de autodidatas, sem que para este termo se tenha a intenção de subestimar este tipo de formação tradicional na área estudos literários, filosóficos,históricos, políticos,sociológicos, antropológicos, psicanalíticos, religiosos, artísticos.
Eram intelectuais eruditos graduados em outras áreas de formação universitária, mas autodidatas em campos de estudos para os quais ainda não haviam sido fundados cursos superiores, como é o exemplo dos estudos de Letras e de outras áreas das humanidades.
Só alguns deles – como Gilberto Freyre, Afrânio Coutinho, Sérgio Milliet, entre poucos outros -, tiveram oportunidade de complementar estudos sistematizados ao fazerem cursos universitários ou pós-universitários nos grandes centros mundiais, notadamente nos Estados Unidos e Europa.
[1] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. p.348-354.
[2] Idem,. Ver capítulo 24, seção I – ‘Divertimento’ literário: uma nova espécie de antologia. p. 335-343
[3] Idem, Ver capítulo 24, seção II – O primeiro Afrânio: um ‘panorama’ da literatura como sorriso da sociedade, p.343-347. É curioso observar que Lins, em seus artigos ou ensaios sobre autores brasileiros, usa o tratamento cerimonioso de “ Sr.”ou o respectivo “Sra., se for o caso. Ao analisar um autor; outros escritores de sua época não o fazem. Nesta situação, ele segue o procedimento do crítico de sua grande admiração, José Veríssimo. Talvez o faça assim para manter uma certa distanciamento entre o crítico e o autor, uma forma assim de evitar alguma intimidade numa atividade que exige neutralidade entre a figura do crítico e do autor de uma obra. Todavia, ao analisar autores estrangeiros, Lins não manifesta essa cerimônia. Cremos, ademais, que esse tratamento cerimonioso aplicava-se a escritores vivos.
[4] Cf. Os mortos de sobrecasaca ,op. cit. Terceira Parte capítulo 16: Saga de Minas Gerais, seção I – Uma grande estreia; seção II – A humanidade dos bichos em Guimarães Rosa; seção III – O risco do crítico no lançamento de um desconhecido., p. 258-264.
[5] Idem, p. 351,
[6] Apud BÉGUIN, Albert. Pascal par lui même.Paris: Aux Éditions du Seuil, 1952, p. 131. Tradução nossa. O texto no original é: “Ce n’est pas dans Montaigne, mais dans moi, que je trouve tout ce que j’y vois”.
[7] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p.353-354.
[8] COUTINHO, Afrânio. Explicação. In:__. A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios. Op. cit., p.3.
[9] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca, op. cit., p.353.
[10] SILVA FILHO, Cunha e. Rubião: compaixão ou ódio. In: __. As ideias no tempo. Brasília: Gráfica do Senado Federal; Teresina: Academia Piauiense de Letras (APL), 2010, p. 156-174.
[11] Idem, p. 161. Ver também página 163.
[12] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 354.
[13] MONTENEGRO, Olívio. O romance brasileiro. Prefácio de Gilberto Freyre. 2. ed. rev. e aumentada. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953.
[14] Apud LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit. p. 350.
[15] ELIOT, T.S. Pascal’s Pensées. Introduction by T.S.Eliot. New York: E.P.Duttton & Co. Inc., 1958, [pg xix] Disponível em www.gutenberg.org. Acesso em: 01/06/2014. Tradução nossa. Texto no original: “But I can think of no Christian writer, not Newman even, more to be commended than Pascal to those who doubt, but who have the mind to conceive, and the sensibility to feel, the disorder, the futility, the meaninglessness, the mystery of life and suffering, and who can only find peace through a satisfaction of the whole being”.
[16] MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides. – Breve historiada literatura brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996, p. 206.
[17] Idem, p. 218.
[18] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 351.
[19] COUTINHO, Afrânio. A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios. Op. cit., p. 80-96.
[20] OLIVEIRA, Cleófano L. de. France immortelle. Tomo 1. 1ère année du deuxième cycle des collèges. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica; São Paulo: Saraiva & CIA, p. 64. Ver, nessa obra, o capítulo “Montaigne (1533-1592), p.63-67.
[21] COUTINHO, Afrânio. A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios. Op. cit., p.144-145.
[22] Idem, ibidem.
[23] Idem, ibidem. Sobre o estilo barroco, para uma análise mais abrangente, seria conveniente consultar: COUTINHO, Afrânio. Aspectos da literatura barroca. Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1950; Introdução à literatura brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Editora Distribuidora de Livros Escolares LTDA, especialmente o capítulo “Do Barroco ao Rococó, p.78-138; Do Barroco: ensaios. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ;Tempo Brasileiro,1994.
[24] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 353.
[25] COUTINHO, Afrânio. A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios. Op. cit., p. 9. Na epígrafe de Coutinho o enunciado completo de Machado de Assis é: “A outra - Nem ele a odiou tanto, senão porque a amava muito.”. Lins, no caso, omitiu a expressão inicial : “A outra.”
[26] Idem, ibidem, p. 352-353.
[27] Cf. nota de pé de página 35 em A filosofia de Machado de Assis e outros ensaios. Op. cit., p. 95
[28] BUARQUE DE HOLANDA, Sérgio. Cobra de vidro, op. cit., p. 58.
[29] Idem, ibidem.
[30] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 353.
[31] ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. .In:_. Obra completa. V.1. Org.. por Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1997. Ver, sobretudo, capítulo CXLV/O Regresso, p. 941-943 e capítulo CXLVI/ “Não houve lepra,” p.943-944.
[32] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 353.
[33] LINS. Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 352.
[34] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 351.
[35] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 354.
[36] Ibidem.
[37] Ibidem.
[38] Ibidem..
[39] Ibidem, p. 351.
[40] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca. Op. cit., p. 407-408.
[41] BELÉM, Odilon. Afrânio Coutinho – ama filosofia da literatura., op. cit. Ver todo o capítulo “Uma Vocação,” p. 32.
[42] LINS, Álvaro. Os mortos de sobrecasaca, op. cit., p. 354.
[43] Idem, ibidem.
[44] Ibidem.
[45] AMOROSO LIMA, Alceu. Introdução à literatura brasileira. Rio de Janeiro: Agir, 1956, p. 154.
[46]: Idem, , p. 161.
[47] LINS, Álvaro. Literatura e vida literária. – Notas de um diário de crítica. 2.ed. v.1; 1. ed. v. 2, p.70.
[48] LINS, Álvaro. Literatura e via literária, op. cit., p.43.
[49] Idem, p. 44.
[50] Idem, p. 44.
[51] Idem, p. 45.
[52] CARPEAUX, Otto Maria. Pequena bibliografia crítica da literatura brasileira. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, s.d. Nova edição com um apêndice de Assis Brasil incluindo 44 novos escritores.
[53] GRIECO, Agripino. Viagem em torno de Machado de Assis. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.
[54] BELÉM, Odilon. Afrânio Coutinho – uma filosofia da literatura, op. cit. Dados relativos à biografia de Afrânio Coutinho e de sua formação intelectual devemo-los, na sua maioria, à obra de Odilon Belém