Bráulio Tavares

Um dos livros mais originais na biblioteca da ficção científica é “L’Effet Science-Fiction”, dos irmãos Igor e Grichka Bogdanoff, que são uma espécie de Gêmeos Geniais da FC francesa, onde atuam como produtores de TV.  Na introdução eles afirmam: “Tudo começou com uma idéia provavelmente idiota: perguntar a um papa, a um rei e a um presidente a opinião pessoal de cada um sobre a ficção científica”.  


A idéia acabou produzindo uma enquete gigantesca, conduzida em meados dos anos 1970 e cujos resultados foram reunidos neste livro (Éditions Robert Laffont, Paris 1979) que reproduz longas respostas de escritores, críticos, intelectuais.  O melhor são as respostas pomposas e perplexas de quem não sabe do que diabo se trata. O secretário do Príncipe Charles informa: “Sua Alteza Real lhes enviará sua opinião sobre a ficção científica tão cedo quanto possível”.  O secretário do Papa responde: “As questões formuladas necessitariam de longas considerações. Não é aconselhável, portanto, respondê-las por escrito.  A Secretaria de Estado aconselha Vv.Sas. a consultar um especialista na sua vizinhança, ou a se dirigir, caso necessário, à autoridade eclesiástica local”.  Um drible dos mais diplomáticos é dado pelo secretário particular do Príncipe Rainier de Mônaco, que diz: “Para que me seja possível apresentar a Sua Alteza todos os elementos necessários, gostaria de receber cópia das respostas das demais personalidades mencionadas em sua carta: o Presidente da França, o Rei da Bélgica, o Príncipe Charles da Inglaterra, Monsieur André Malraux, etc.”.


Os famosos dão respostas curtas, e às vezes interessantes.  Charles Aznavour: “A ficção científica é um olho aberto sobre o futuro.  E outro sobre o presente”.  Paloma Picasso: “Se a ficção científica interessa às crianças é porque há nela algo de importante”.  Cassius Clay (assim citado no livro, embora nessa época já se chamasse Muhammad Ali): “A ficção científica é um soco na realidade.  É a realidade posta a nocaute”.  Bjorn Borg, o tenista: “A ficção científica me deixa frio porque ela pretende colocar o futuro em conserva dentro dos livros”.  O surrealista Louis Aragon: “É algo de que não se pode falar quando se está firme sobre os pés”.  O roqueiro David Bowie: “A ficção científica sou eu”.


Jean-Paul Sartre afirmou: “Nada tenho a comentar sobre a literatura de ficção científica, a não ser que ela é demasiado absurda para poder representar verdadeiramente o sentimento do absurdo”.  E vejam só a resposta da bela Isabelle Adjani: “Amo tudo que se refere à ficção científica.  Como todos os que terão cerca de 40 anos no ano 2000, posso dizer que sinto pelo gênero uma espécie de fascinação, e que prefiro lê-lo a ler um romance clássico. Tenho tanto prazer em ler FC quanto em ler Barthes ou Lacan.  Há modernidade nos dois casos e, paradoxalmente, em ambos existe também a ficção”.  Uma resposta nada má para a deleitável Isabelle, hem?