Diz Claude Lefort, no seu livro "A invenção democrática", que “ a história das sociedades modernas não se resume ao curso das grandes revoluções”. As eleições democráticas participam da natureza das revoluções.
A eleição substitui as armas pelo voto.
Mesmo que comprado.
Numa democracia capitalista todo voto é comprado. Como tudo.
Nos Estados Unidos a campanha eleitoral é acompanhada pelo seu prestígio das doações em dinheiro vivo. Por isso se dizia que cinco famílias elegiam o Presidente. Só no Brasil os partidos se envergonham disso, e a população confunde isto com corrupção. No Brasil se falam com escândalo de “malas de dinheiro”, como se fosse uma aberração. O Brasil também é um país capitalista, ou seja, tudo custa dinheiro, e principalmente as eleições, que são caríssimas.
O Brasil tem seus mitos, de que o Presidente é o feitor. Quando o Presidente americano aparece é aplaudido; no Brasil é vaiado. Juscelino foi vaiado várias vezes: Durante uma das partidas da seleção preparatória para a Copa do Mundo de 58 na Suécia, foi vaiado por cem mil torcedores, no Maracanã. Como era um político competente, manteve o sorriso e o aceno ao povo que o vaiava. Outra vez, aparecendo numa manifestação de estudantes, vaiado e, quando pôde falar disse a famosa frase: “Feliz é o país em que os estudantes podem vaiar o Presidente”.
Foi logo aplaudido.
Eu assisti, na minha Faculdade: Juscelino foi fazer uma conferência, entrou debaixo de estrondosa vaia, saiu dando autógrafos. Eu assisti.
Isto faz parte do jogo político, do bom político. A Política não é, como se pensa, a arte de enganar o povo. Ao contrário. O bom político trabalha pelo bem comum, mesmo o enganando.
O voto, pois, sempre é “comprado”, até quando só se vende o prestígio e o charme do candidato/a, vendido como um produto.
Diz Bourdieu que a lógica do voto é desfavorável aos desinformados.
Para que os eleitores pudessem votar conscientemente, teriam de possuir igual grau de informação, saber, ou seja, os instrumentos culturais, o capital cultural necessário para produzir uma opinião pessoal.
Isto depende de uma espécie de competência, no duplo sentido de autonomia e conformidade com os seus interesses pessoais vinculados a uma classe social específica.
Não é fácil saber quais são os interesses de uma classe social. Mesmo os operários são capazes de eleger seus inimigos de classe, como muito se fez.
O pior eleitor é aquele que julga que o que está em jogo é a escolha entre pessoas, entre candidatos, como num concurso de beleza.
É comum ouvir do eleitor: “Não voto nele/nela porque não vou com a cara dele/dela”.
Este é o mais perigoso, o mais fácil de ser enganado. Basta-lhe o desempenho do candidato/a, como de um ator/a.
Outra coisa: que está em jogo não são “propostas”, mas Partidos. Quem governa são os partidos, não são as pessoas. Principalmente no Brasil, cuja Constituição é mista, meio parlamentarista, meio presidencialista. Ou seja: qualquer Presidente pode ser destituído a qualquer momento se o Congresso assim o decidir. Essa história de “governabilidade” não é bem assim. No Brasil o Presidente tem de se vender ao Congresso se quiser manter-se no poder.
Mas o eleitor brasileiro vem de uma tradição “mandonista”, desde as capitanias hereditárias. É comum ouvir alguém perguntar: “Quem é que manda aqui?”.
O eleitor brasileiro acha que o Presidente manda.
A eleição substitui as armas pelo voto.
Mesmo que comprado.
Numa democracia capitalista todo voto é comprado. Como tudo.
Nos Estados Unidos a campanha eleitoral é acompanhada pelo seu prestígio das doações em dinheiro vivo. Por isso se dizia que cinco famílias elegiam o Presidente. Só no Brasil os partidos se envergonham disso, e a população confunde isto com corrupção. No Brasil se falam com escândalo de “malas de dinheiro”, como se fosse uma aberração. O Brasil também é um país capitalista, ou seja, tudo custa dinheiro, e principalmente as eleições, que são caríssimas.
O Brasil tem seus mitos, de que o Presidente é o feitor. Quando o Presidente americano aparece é aplaudido; no Brasil é vaiado. Juscelino foi vaiado várias vezes: Durante uma das partidas da seleção preparatória para a Copa do Mundo de 58 na Suécia, foi vaiado por cem mil torcedores, no Maracanã. Como era um político competente, manteve o sorriso e o aceno ao povo que o vaiava. Outra vez, aparecendo numa manifestação de estudantes, vaiado e, quando pôde falar disse a famosa frase: “Feliz é o país em que os estudantes podem vaiar o Presidente”.
Foi logo aplaudido.
Eu assisti, na minha Faculdade: Juscelino foi fazer uma conferência, entrou debaixo de estrondosa vaia, saiu dando autógrafos. Eu assisti.
Isto faz parte do jogo político, do bom político. A Política não é, como se pensa, a arte de enganar o povo. Ao contrário. O bom político trabalha pelo bem comum, mesmo o enganando.
O voto, pois, sempre é “comprado”, até quando só se vende o prestígio e o charme do candidato/a, vendido como um produto.
Diz Bourdieu que a lógica do voto é desfavorável aos desinformados.
Para que os eleitores pudessem votar conscientemente, teriam de possuir igual grau de informação, saber, ou seja, os instrumentos culturais, o capital cultural necessário para produzir uma opinião pessoal.
Isto depende de uma espécie de competência, no duplo sentido de autonomia e conformidade com os seus interesses pessoais vinculados a uma classe social específica.
Não é fácil saber quais são os interesses de uma classe social. Mesmo os operários são capazes de eleger seus inimigos de classe, como muito se fez.
O pior eleitor é aquele que julga que o que está em jogo é a escolha entre pessoas, entre candidatos, como num concurso de beleza.
É comum ouvir do eleitor: “Não voto nele/nela porque não vou com a cara dele/dela”.
Este é o mais perigoso, o mais fácil de ser enganado. Basta-lhe o desempenho do candidato/a, como de um ator/a.
Outra coisa: que está em jogo não são “propostas”, mas Partidos. Quem governa são os partidos, não são as pessoas. Principalmente no Brasil, cuja Constituição é mista, meio parlamentarista, meio presidencialista. Ou seja: qualquer Presidente pode ser destituído a qualquer momento se o Congresso assim o decidir. Essa história de “governabilidade” não é bem assim. No Brasil o Presidente tem de se vender ao Congresso se quiser manter-se no poder.
Mas o eleitor brasileiro vem de uma tradição “mandonista”, desde as capitanias hereditárias. É comum ouvir alguém perguntar: “Quem é que manda aqui?”.
O eleitor brasileiro acha que o Presidente manda.
No Brasil o voto geralmente é favorável ao pensamento dominante, e isso é arriscado dizer.
Pois esse pensamento dominante era imposto pela imprensa.
A atual crise brasileira é a crise da imprensa.
Já dizia Marx que a classe que detém os meios de produção material também detém os meios de produção intelectual, como a imprensa.
Pois esse pensamento dominante era imposto pela imprensa.
A atual crise brasileira é a crise da imprensa.
Já dizia Marx que a classe que detém os meios de produção material também detém os meios de produção intelectual, como a imprensa.
O voto pode expressar esse desequilíbrio, mas no mundo moderno essa distinção quase desapareceu, houve um avanço sistêmico graças às novas tecnologias da informação. A Internet expõe as estruturas do poder para todos. A Internet é o maior fator de democracia atual.
O perigo é o voto nulo e a abstenção, ou o tipo de voto “de protesto” (pois todo voto é “de protesto”).
O voto “de protesto” anula o voto. A abstenção anula o eleitor. Quem vota nulo é nulo, não é cidadão. É uma deficiência do eleitor dizer: “Não tenho em quem votar”. A deficiência é do eleitor, não da eleição”.
Mas cuidado com os grandes oradores. Hitler foi um extraordinário orador.
Grande perigo para a Democracia (que é sempre frágil) é o pensamento mítico que diz: “Todos são corruptos, todos são iguais, são todos uns ladrões, eles só querem é roubar”.
Este pensamento esteve na raiz do golpe militar brasileiro.
Mas ninguém pode entender os rumos de uma eleição, ninguém pode explicá-la.
Só muitos anos depois.
Todos os analistas são “interessados” neste ou naquele candidato.
O voto “de protesto” anula o voto. A abstenção anula o eleitor. Quem vota nulo é nulo, não é cidadão. É uma deficiência do eleitor dizer: “Não tenho em quem votar”. A deficiência é do eleitor, não da eleição”.
Mas cuidado com os grandes oradores. Hitler foi um extraordinário orador.
Grande perigo para a Democracia (que é sempre frágil) é o pensamento mítico que diz: “Todos são corruptos, todos são iguais, são todos uns ladrões, eles só querem é roubar”.
Este pensamento esteve na raiz do golpe militar brasileiro.
Mas ninguém pode entender os rumos de uma eleição, ninguém pode explicá-la.
Só muitos anos depois.
Todos os analistas são “interessados” neste ou naquele candidato.