Por José Nêumanne Pinto

O abacaxi descascado
Na democracia meramente eleitoral vigente entre nós, sempre se costuma jogar nas costas largas do eleitor a responsabilidade pela punição dos que malbaratam os recursos públicos. Quem o faz se esquece da evidência de que o cidadão é obrigado a escolher seu representante no cardápio que lhe é oferecido pelos partidos políticos. Nesta campanha, a justiça eleitoral, além de garantir a vontade popular, evitando fraudes nas urnas e nos mapas, fez sua parte, ao vetar o registro de 1.535 candidaturas (7,4% do total). Enquanto isso, os partidos fingem que nada têm a ver com o abacaxi ou, então, só intervêm depois que seus militantes são pegos com a boca na botija, pondo tranca na porta já arrombada.


‘Jus sperneandi’
O México sempre foi tido como o maior cultivador da fraude eleitoral no concerto internacional, mas a doença deixou de acometer suas instituições eleitorais há tempos. A justiça eleitoral mexicana tem atuado com vigor e seu aval ao triunfo do cristão e conservador Felipe Calderón, candidato do presidente Vicente Fox, sobre o antes tido como favorito Andrés Manuel López Obrador, de esquerda, apesar da vantagem apertadíssima (meio ponto percentual), não deixa dúvidas de que, mesmo que aquele país esteja dividido, a maioria optou pela situação. O esperneio do perdedor é um direito líquido e certo, mas também comprova que na América Latina a esquerda só considera legítimas as próprias vitórias.

 
 
PAULO GHIRALDELLI JR.
Não é um brasileiro qualquer aquele que joga fora um excelente emprego estável numa famosa universidade pública, com direito a aposentadoria integral e precoce. Nem também comum, um intelectual que prefira as cruezas e durezas da verdade à doce e confortável mistificação acadêmica. No momento em que a maioria de seus colegas finge que o ano de 2005 não existiu, este paulista do interior enfrenta a dura realidade dos mensalões e sanguessugas em seu blog “o filósofo de São Paulo” e em seus livros.