SESSÃO NOSTALGFIA:

NOTA AOS LEITORES:

o ATIGO ABAIXO FARÁ PARTE DO MEU LIVRO

POLIEDRO DE INSÂNIAS

A culpa é do mordomo? Não, de nós , eleitores brasileiros

                                                              Cunha  e Silva Filho

                    Estamos bem próximos de  mais uma festa de Carnaval. Que, no  país,  ser o maior espetáculo da Terra. Carnaval é sinônimo de muitas coisas, entre elas a de fantasiar a crueza do cotidiano  brasileiro. Jamais poderia  renegar   festa tão engraçada, tão cheia de brincadeiras,  de faz-de-conta.

                  Mas, caro  leitor,  “você há de convir”,  expressão que servia como  bordão de um parente próximo meu,   o qual se  esfalfava  por parecer  um usuário  correto da língua  portuguesa, que no carnaval  tudo vale desde que seja motivo  de parecer o que  não é.  Não quero, contudo,   teorizar  sobre o aspecto  antropológico  desta festa tão  íntima  do brasileiro, tão  popular e querida quanto o futebol com todas as misérias da  violência que o envolvem, principalmente nos dias de hoje e em todas as nações que o praticam,  com  exceção talvez  do Japão, se não  incorro em erro.

               Os japoneses são disciplinados, organizados, inimigos da bagunça,  comportamento  social mais chegado aos nosso hábitos  de mandriice, picardia,   malandragem,  de vida pícara. Deixemos a teorização do carnaval  para um seu  grande  estudioso, o   antropólogo Roberto DaMatta, que,  de resto,  tem um  livro fundamental, Carnaval, malandros e heróis - para a sociologia do dilema brasileiro (6.ed. Rio de Janeiro>:Rocco, 19970), no qual um dos  temas  abordados  é o carnaval, de resto,  já anunciado no título da obra, estudado  em todos os seus ângulos e eu diria  em todos  as suas funções benéficas  e maléficas.

             O que  pretendo  insinuar com as linhas precedentes é que a festa do carnaval guarda muitas semelhanças com o futebol e a política  nacional. É só o eleitor  botar a cabeça para pensar  a fim de   fazer várias  analogias,  comparações,  divagações etc. Na realidade,  aquele “mundo às avessas” serve mesmo  de mote ao que nos circunda como sociedade inclinada aos jeitinhos,  “ao todo  mundo faz, por que  não eu também?”  e outras situações  parecidas e mutáveis  de acordo com as circunstâncias e as oportunidades  ensejadas.

Vejam, leitor,  o  exemplo mais  típico  do que  estamos   tentando  discutir  sem   as muletas  do jargão acadêmico  mas com  a própria malícia  e espírito  de   malandragem sendo esta  praticamente inato em  nós, queiramos ou não. O Senado há pouco   realizou eleições  para a escolha  do seu  presidente. Quem saiu vitorioso? Renan Calheiros, logo ele que tem  um histórico  político  feito de dignidade  e lisura, visto que, além disso,  pertenceu a um dos governos mais  sérios  e tranquilos  do país, o do ex-Presidente Collor de Melo. Dignidade e lisura que,  no  julgamento do STF(Supremo  Tribunal  Federal) lhe  reservaram acusações comprometedoras, tanto é que há tempos teve que  renunciar ao mandato para escapar  a julgamentos  mais complicadores  para a sua  “ficha  política” pouco recomendável.

 Deste tipo de político  é que  o   país tem  de sobra. Quando seus pares  lhe sufragaram  a vitória de agora para  presidir o Senado  Brasileiro é porque  descemos aos mais  baixos degraus  da decência  política.Quem  lhe deu  votos lhe é cúmplice porque coonesta  toda a folha corrida   deste  político  amigo do  “caçador de marajás”. Viu-e, na tribuna do Senado,  a voz  raivosa de orador  de segunda  plana,  de quem  causou  tantos  males  à democracia  brasileira, direta e indiretamente, sobretudo  quando  recordamos   sua  política  econômica desastrosa para tantos  pequenos  empresários  que faliram, havendo mesmo  um caso de suicídio de  um  deles, vítima  das  irresponsáveis   alterações   da vida financeira    do pais, todas   implementadas sob  o  jugo do  chamado  Plano Collor.

Como alguém  como o Renan Calheiros   pode ser vitorioso quando, no STF, seu nome  faz parte  de acusados por crimes de peculato  ou de outros  delitos  de ordem  financeira com consequências danosas  ao  Erário  do Estado Brasileiro?

As eleições  em nosso  país   se dão,  em geral,  em clima de  de tranquilidade   mas o grande entrave  à  representatividade de  nossos   legislativo  é a completa  ausência  de eleitores   escrupulosos e conscientes   que poderiam  mudar  os destinos do país e o nível  de moralidade  e ética de nossos  políticos. Não me  venham com a história  cediça e sem nenhum fundamento  lógico de que precisamos de jovens para exercerem, em  Brasília,   os mandatos  de   deputados  federais e,  por vezes,  de senadores  que sejam   fiéis   representantes dos interesses  da sociedade.

Ora, não é a idade que conta para  que alguém seja  honesto ou   um patife.  O fato  é que os nossos  representantes  fazem uma opção pela política apenas  para se darem  bem financeiramente na vida, com mordomias cada vez mais  repugnantes à moralidade do mandato   político. Tem razão um jovem  estudioso e observador  da histórica  política  brasileira: “Os políticos do Planalto –e eu acrescentaria  dos estados  e municípios – são apenas  o reflexo  perfeito  do caráter  do  povo  brasileiro”.  E por isso,   para lá se abalançam   oportunistas,  homens da mídia de baixo  nível  cultural,  membros de igrejas,  carreiristas,   enfim,  a malandragem   nacional que não se farta do melhor  que  um indivíduo  tem da vida  material:  salários  milionários,  verbas   para   múltiplos   usos:  carros  dispendiosos e novos,  verba para aluguel  de imóveis,  transporte aéreo  gratuito   para o  político e sua família. Esta última   regalia foi agora   proposta   aos deputados com a  eleição  para o novo  presidente  da Câmara  Federal. Ora,  leitor,  os parlamentares  já  ganham  salários altíssimos  para cobrir todas  esta  gastança,  por que enfiar a mão mais  fundo ainda no bolso   dos contribuintes?

É um desatino, uma insensatez,  um ato  de  desrespeito   ao povo brasileiro. Estamos, então,   no “mundo  às avessas,” carnavalizado,  usando as mais diversas máscaras  de traição aos  mais   genuínos  princípios da democracia moderna.   A perpetuação  de alguns políticos  no  poder  em Brasília   é uma confirmação  que  não avançamos   em direção   ao aperfeiçoamento de nossos  hábitos e  práticas  políticas.  

Não saímos  do  velho e surrado  comportamento  ético  do coronelismo,   do voto de cabresto,  do voto  comprado,  das mais  espúrias práticas  políticas de  esbulhar  o nosso  povo,  o eleitor, que, em grande parte,  é analfabeto,  analfabeto  funcional,  inconsciente   politicamente,  alienado há séculos  de sujeição  aos senhores   de terras e  de gado, tanto quanto  da  exploração  capitalista  da mais valia.

A despeito da minha afirmação  sobre o baixo nível  de consciência  do brasileiro, tenho minhas dúvidas quanto  ao alheamento  pleno   da sociedade  em relação à política e aos políticos, i.e., não é o grau  de cultura mais  elevado ou menos  elevado ou mesmo  nulo que seja fato determinante de escolhas melhores  de candidatos  ao executivo e ao legislativo. A questão é mais  complexa e, no meu juízo, prende-se mais  ao conjunto de classes de nossa sociedade, ela  que é tão dividida econômica, social e culturalmente.

Não estou  me  reportando  à chamada “ luta de classe”  explícita, como  forma  de   confronto  ou batalha  campal,  dividindo   a sociedade entre   grupos inimigos, criando  ódio entre os  irmãos da mesma  pátria, segundo costumo  afirmar em muitos artigos publicados,  mas a uma sociedade que, no seu   todo, possa  exercer o  seu  poder de barganha  junto  à classe  política de maneira mais  unificada, harmoniosa, sem preconceitos  nem superposições  em decisões e  orientação aos menos  favorecidos  cultural  e economicamente.  Nesta direção,  caberia   jogar um papel  de  suma importância  a  melhoria, em  médio  prazo, do potencial  de instrução  dos mais  pobres e ao mesmo  tempo de um alto sentido  de  dignidade   social a ser exercido democraticamente  pela elite  intelectual.

 Sei das dificuldades    e  óbices para se chegar a este  estágio  de  civilização e de compreensão para com  os  menos aquinhoados  de nascimento. Porém, o caminho da educação  é decisivo para  aperfeiçoar  o conhecimento   político da nação e divisar  novos  horizontes  de uma país  livre  da  imoralidade  e do oportunismo no terreno  da prática  política.