A primeira encíclica social, início de uma grande tradição dos papas.
A primeira encíclica social, início de uma grande tradição dos papas.

A CLARIVIDÊNCIA DE LEÃO XIII

Miguel Carqueija

 

Resenha da encíclica “Rerum Novarum” (Mudança política) – Carta Encíclica de Sua Santidade o Papa Leão XIII sobre a condição do operário”. Edições Paulinas, São Paulo-SP, 1980. Tradução: Manuel Alves da Silva, S.J. Introdução: Igino Giordani.

 

            Este famoso documento do Papa Leão XIII foi publicado em 1891, sendo considerado a primeira encíclica da DSIC (Doutrina Social Da Igreja Católica), ainda que precedida por outras que já abordavam  tais temas; e influenciou grandemente a legislação trabalhista do século XX — o bastante para considerarmos Leão XIII um benfeitor da humanidade.

            Realmente este grande pontífice sensibilizou-se diante das injustiças cometidas contra os operários, os assalariados. A Revolução Industrial realizada à margem dos direitos trabalhistas provocou uma verdadeira tirania contra os pobres, isso em plena democracia emergente.

            Com o estilo sóbrio e objetivo próprio dos papas Leão XIII vai expondo princípios e orientações onde se espelham a lógica, o bom senso e a caridade que são apanágios da Igreja Católica.

            Refere-se o pontífice, com autoridade, à falsa solução do socialismo, que instiga nos pobres o “ódio invejoso” e preconiza a injusta abolição da propriedade privada. Observa Laão XIII: “o século passado (isto é, o século XVIII, da Revolução Francesa) destruiu, sem os substituir por coisa alguma (sic) as corporações antigas”. De fato, apanágio da tão caluniada Idade Média eram as corporações de operários, de artesãos, que já faziam naquele tempo o que os sindicatos assumiram: defender as classes!

            Leão XIII defende os direitos da família, que o Estado moderno pretende usurpar: “Querer pois, o poder civil invadir arbitrariamente o santuário da família, é um erro grave e funesto”.

            Lembra o autor que operários (leia-se assalariados) e patrões possuem deveres. Esse ponto é importante numa sociedade permissiva como a nossa, em que se fala tanto em direitos e tão pouco em deveres. E com isso, pelo desequilíbrio daí resultante, os direitos de muitos é que acabam sendo esmagados.

            Note-se que em nenhum momento o papa nega o direitos que os assalariados têm de se associarem; antes estimula esse direito. De fato o nº 36 da encíclica intitula-se “Convite para os operários católicos se associarem”. Isso é importante para mostrar a mentira, por aí espalhada, de que a Igreja é “obscurantista” nas questões sociais. Muito pelo contrário a Igreja é ousada nessas questões amparando-se porém na Caridade (isto é, amor), palavra que os socialistas costumam omitir em seus textos teóricos. Pois o título final deste documento, ou seja o número 37, tem por título: “Solução definitiva: a caridade”.

            Leitura recomendada com entusiasmo.

 

Rio de Janeiro, 2 a 5 de junho de 2017.