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A Catedral



Rogel Samuel




Alphonsus de Guimaraens sonha com uma catedral, misteriosa, entre brumas, entre as luzes da aurora, branca de sol, cantam os sinos, cor de sol, ao som dos cânticos lúgubres, a catedral segue o seu rumo, o segue o seu sol, atravessa o dia, lírios, lilases e a tarde esquiva, clamam os sinos, a catedral é o luar, os sons da lua e o céu se apagam, cortam os relâmpagos pela noite escura, a catedral mergulha no caos de sua noite, de sua morte, e os sinos choram, a catedral mergulha em sua luz, em sua sonoridade... de manhã na sua paz, de tarde na sua amargura, de noite no seu medo, na sua morte...



Entre brumas ao longe surge a aurora,
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.

E o sino canta em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma aurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral eburnea do meu sonho,
Onde os meus olhos tao cansados ponho,
Recebe a bencao de Jesus.

E o sino clama em lugebres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

Por entre lirios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Poe-se a luz a rezar.
A catedral eburnea do meu sonho
Aparece na paz do ceu tristonho
Toda branca de luar.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"

O céu e todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem acoitar o rosto meu.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.

E o sino chora em lúgubres responsos:
"Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!"