Chagas Botelho
Chagas Botelho

[Chagas Botelho] 

A broa, meus caros, pode-se e deve-se comer à toa.

No café da manhã, no lanche da tarde sob uma recalcitrante garoa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Há aquelas de goma, trigo, milho, fubá, não importa, a broa é uma boa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Lendo um Vinicius, Bandeira, Drummond ou quem sabe um airoso Pessoa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Na companhia dos filhos, dos netos, da sogra, e da inestimável presença da patroa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Consumida com moderação ou a dentadas vorazes de um leão, ou de uma leoa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Na proa de um navio, na opulência de um iate, numa rústica canoa ou simplesmente à beira da mais bucólica lagoa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Seja qual for a idade. Todos são convidados a degustar — da criança à coroa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Acompanhada de queijo coalho, manteiga, goiabada, de repente, até com amêijoa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

E as melhores, as mais apetitosas, estão nos trailers da Avenida Frei Serafim, e não em Lisboa.

A broa pode-se e deve-se comer à toa.

Coma à vontade, se lambuze de broas frias, broas quentinhas, coma broas e mais broas, é unção, e toda unção, Deus abençoa.