A batalha lendária
Por Miguel Carqueija Em: 26/12/2013, às 16H09
A BATALHA LENDÁRIA
Miguel Carqueija
“Eu pensava mesmo que alguma coisa importante devia estar acontecendo em algum lugar.”
(Agatha Christie, “O segredo de Chimneys”)
Está nas bancas brasileiras o segundo volume do extraordinário mangá “Guerreiras Mágicas de Rayearth”, produzido pelo quarteto CLAMP (Satsuki Igarashi, Nanase Ohkawa, Tsubaki Nekoi e Mokona) em edição da JBC. Esta segunda edição brasileira do mangá traz pela primeira vez no Brasil o formato e tamanho originais.
Nesta continuação as abnegadas Hikaru, Fuu e Umi conhecem o enigmático Ferio — o rapaz de cicatriz no rosto e espada imensa — e seguem para a fonte Eterna, onde se encontra o mineral “escudo”, matéria-prima para as espadas mágicas. A sequência no interior da fonte é freudiana, com as jovens separadas e entregues às ilusões do subconsciente. Outros acontecimentos importantes se sucedem. O encontro do primeiro gênio — Ceres, relacionado a Umi — um novo confronto com Alcion, o despertar dos poderes de Umi e de Fuu.
A interação entre as três meninas é terna e singela. Tendo se conhecido há pouquíssimo tempo, cada uma delas já se dispões a lutar pelas outras até a morte. Isto fica bem claro quando Umi é gravemente ferida num ataque traiçoeiro de Alcion e Hikaru, tomada de cólera santa, erguida, desafia a inimiga: “Você machucou a Umi-chan... a Umi-Chan e a Fuu-chan são minhas valiosas amigas... e a quem confio minha vida aqui em Cefiro”.
Para quem não está familiarizado, o sufixo “chan” é indicativo de muito carinho e intimidade. É como se Hikaru estivesse dizendo “querida Umi” e “querida Fuu”.
Esta exaltação de valores perpassa a série das Guerreiras Mágicas — ou Cavaleiras Mágicas, como seria a tradução exata do título em inglês (e os japoneses, numa jogada mercadológica, fazem muito uso do inglês em suas obras). Um detalhe significativo é a insistência com que Cléf e outros personagens frisam que em Cefiro o que conta é a força da fé — a fé que “remove montanhas” conforme o Evangelho. Esta fé que brilha nos olhos das três adolescentes mágicas, depois que elas assumem uma missão transcendental, em princípio superior aos seus 14 anos.
Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2013.