O frio da madrugada, em Tiradentes, Minas. Escrevo quase na total escuridão, somente com a luz que vem da tela e a suave claridade da luminária distante. Ouço uma altíssima música, no sentido espiritual do ouvir. Mas somente eu a ouço, nos fones do MP3, A arte da fuga, de Bach, e quem executa é Neville Marriner com a Academy of St Martin in the Fields etc. e é uma sucessão de fugas em contraponto... chegam a dizer que é obra inacabada de Bach, mas creio mesmo que é para nunca mais acabar, para infinitamente se realizar, se repetir, se recontar, numas voltas contínuas enquanto o tempo for tempo, enquanto a vida for viva, enquanto o ouvir for possível, e a noite for ainda noite, e o mundo dos vales e rios e montanhas existirem nesses lados, e a floresta dormir sob o manto quase imperceptível das estrelas e das nossas imaginações e sonhos...